Volta a Portugal #2: Três dias de sonho para a Tavfer

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    A primeira etapa em linha da 84ª edição da Volta a Portugal marcava o 13º dia de Rafael Reis com a camisola amarela ao longo de todas as edições da “Grandíssima”, sendo que o algarvio é mesmo o ciclista com mais dias de amarelo, sem nunca ter ganho a corrida.

    O algarvio de 31 anos partia para o segundo dia de corrida com 21 ciclistas a menos de 10 segundos. Entre estes ciclistas estavam Leangel Linarez (Tavfer-Measindot-Ovos Matinados) e Daniel Babor (Caja Rural Seguros RGA), dois sprinters que tornavam muito provável que a camisola de líder mudasse de dono. O que até seria bom para a Glassdrive/Q8/Anicolor, que assim escusava de trabalhar na frente do pelotão.

    Pois bem, a formação de Águeda discordou uma vez que fez de tudo para manter a camisola amarela. Talvez demasiado, até.

    A PRIMEIRA VITÓRIA VENEZUELANA

    A 1ª etapa em linha da Volta a Portugal ligava Anadia a Ourém numa extensão de 188,5 km. O dia ficava marcado, desde logo, pela coroação do primeiro líder da montanha. A Credibom/LA Alumínios/MarcosCar sabia disto e colocou dois ciclistas na fuga: Diogo Narciso e João Macedo. Com eles, seguiam Rafael Lourenço (AP Hotel& Resorts/SC Farense), Adrian Zuger (Bike AID) e Bart Buijk (Universe Cycling Team).

    Aos poucos, a fuga perdeu homens até ficar apenas o duo da LA, permitindo a Diogo Narciso ser o primeiro a envergar a camisola da montanha. César Fonte (Rádio Popular/Paredes/Boavista) atacou na subida de Fátima que foi o momento mais agitado do dia, sendo que a Glassdrive foi mesmo obrigada a fazer uma aceleração forte para acabar com os ataques de homens da Burgos, da Caja Rural e da Euskaltel.

    Fonte seria apanhado e na chegada ao sprint depois de uma descida, Leangel Linarez apanhou a roda de Babor que foi lançado por Tomas Bartra.

    O homem da Tavfer ganhava a sua primeira etapa na Volta a Portugal, com mais de uma bicicleta de avanço para o rival checo. Não vestia a camisola amarela, mas ficava com o mesmo tempo de Rafael Reis que chegou às bonificações em duas metas volantes diferentes. Linarez é apenas o segundo venezuelano a ganhar uma etapa na Volta, sendo que Unai Etxebarria levantou os braços por duas ocasiões, em 1998.

    A PRIMEIRA AMARELA VENEZUELANA E AS TÁTICAS MISTERIOSAS DA GLASSDRIVE

    Fonte: Podium Events

    A 2ª etapa decorria entre Abrantes e Vila Franca de Xira, com 177,3 km de extensão. A fuga voltava a contar com a presença de Narciso, que procurava reforçar a liderança na classificação da montanha, mas as ambições da Tavfer em relação ao triunfo na etapa não deixaram que o grupo da frente chegasse muito longe.

    A fuga foi anulada a mais de 50 km do fim e foi nesse momento que a Glassdrive decidiu lançar Fábio Costa ao ataque. O corredor de Ermesinde chegou a ter 40 segundos de vantagem para o pelotão, mas sem companhia não tinha grande futuro e acabou por se desgastar. Na subida ao Alto da Agruela foi a vez de César Fonte se lançar ao ataque para chegar à liderança virtual na classificação da montanha.

    Criou-se uma nova fuga com Sinuhé Fernandez (Burgos-BH), Lukas Meiler (Team Voralberg), de Luís Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi). César Fonte fazia a ponte para a frente, assim como Luís Mendonça (Glassdrive), sendo que a iniciativa do ciclista alentejano podia ter o intuito de aumentar a força da perseguição da Tavfer e de impedir que Leangel Linarez chegasse à camisola amarela.

    Este objetivo ficou mais confuso depois de Rafael Reis ser o “aguadeiro” responsável por levar os bidons ao resto da equipa. Desta forma, desgastavam-se três corredores num dia em que não existia necessidade de o fazer.

    O grupo da frente era neutralizado, mas a aproximação à meta não foi pacífica, com duas quedas dentro dos últimos 20 km. Uma destas ocorrências foi motivada por um estreitamento de estrada repentino devido a um túnel que não tinha nada de estar no percurso.

    O outro destaque foi uma avaria de Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho), que teve apoio imediato de Tomas Contte que chegou ao pelotão com um desgaste que condicionava as ambições do argentino na etapa, até mesmo no apoio a César Martingil, que se tornou a aposta da equipa algarvia para as chegadas rápidas aquando do prólogo.

    O sprint final ficou marcado por novo duelo entre Babor e Linarez, com o líder da classificação por pontos a vencer, novamente com uma margem expressiva, beneficiando do lançamento por João Matias para chegar à camisola amarela. Leangel Linarez torna-se assim no primeiro venezuelano a vestir a camisola amarela da Volta a Portugal. É apenas a 13ª nacionalidade diferente a ter um líder na “Grandíssima”.

    TEREMOS SEMPRE MATIAS

    A 3ª etapa em linha da Volta marcava o regresso da corrida a Loulé, um concelho que não recebia uma chegada da “Grandíssima” desde 2022. Era, portanto, um dia grande para o Louletano que queria ganhar em casa.

    A fuga foi constituída por apenas três elementos: Nuno Meireles (Louletano), Wesley Mol (Bike AID) e Lars Quaedvlieg (Universe Cycling Team), mas chegou a ter 10 minutos de vantagem, uma vez que a Tavfer queria passar a responsabilidade da perseguição para outra equipa. Foi a Caja Rural a assumir o encargo e a controlar a etapa até à Cruz da Assumada, uma subida de 4ª categoria que se revelou extremamente dura.

    Daniel Dias, líder da juventude, foi o primeiro a passar por dificuldades, devido a um furo prévio ao começo da subida, que fez o nortenho começar a subida com atraso para o pelotão que seguia em alta velocidade. Ainda chegou a ter o grupo dos favoritos debaixo de vista, mas o ritmo só iria aumentar.

    Hélder Gonçalves (Kelly/Simoldes/UDO) fez a ponte para Nuno Meireles que já era o último resistente da fuga. Também a Burgos e a Kern-Pharma tentavam colocar alguém na frente, mas não tinham sorte. Daniel Babor perdia o contacto, surpreendentemente, levando ao falhanço absoluto do trabalho coletivo da Caja Rural. Pouco depois seria Leangel Linarez a estourar completamente.

    Nesse momento, a Glassdrive pegava na corrida, uma vez que Rafael Reis assumia a camisola amarela virtual da corrida. A Voralberg mostrava interesse em chegar à amarela com o alemão Lukas Meiler, mas seria Oscar Pellegrí (Burgos) a lançar o sprint, com João Matias na roda. O português da Tavfer conquistou a 3ª etapa da Volta à Portugal, garantindo o seu “hat-trick” individual em etapas na “Grandíssima”, assim como para a sua equipa nesta edição da Volta.

    Matias fica igualmente a 2 segundos do novo camisola amarela, Rafael Reis, sendo que a chegada deste domingo a Castelo Branco coloca uma escolha na mesa da formação dirigida por Gustavo Veloso: sprintar com Leangel Linarez para reforçar a liderança na classificação por pontos ou sprintar com João Matias para colocar a amarela no seu outro sprinter.

    Nas restantes classificações, Luís Ángel Mas segura a camisola da montanha; já a da juventude passou para os ombros de Pablo Garcia (Bai Sicasal Petro de Luanda).

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.