Volta a Portugal #4: Surpresa suíça a um dia de conquistar a Grandíssima

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    Última semana de Volta a Portugal e a Glassdrive-Q8-Anicolor chegava com a camisola amarela em Artem Nyech, ciclista russo que tentava repetir o feito de Vladimir Efimkin, o único homem da Rússia a ganhar a Volta (fê-lo em 2005). Delio Fernández (AP Hotels&Resorts – Tavira), Colin Stüssi (Team Voralberg), Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi) e ainda Henrique Casimiro (Efapel), todos a menos de 1 minuto do camisola amarela.

    Na classificação da montanha, César Fonte (Rádio Popular-Paredes-Boavista) liderava com uma pequena margem para Luís Ángel Maté e com a Credibom/LA Alumínios/Marcoscar com a classificação debaixo de olho. Nos pontos, Leangel Linarez (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua) e João Matias encarregavam-se de anular a vantagem de Daniel Babor (Caja Rural – Seguros RGA).

    Já na classificação da juventude, Afonso Eulálio (ABTF Betão-Feirense) liderava com 7 minutos de vantagem e, portanto, tinha a camisola branca no bolso.

    A etapa 8, com chegada ao alto da Serra do Larouco, em Montalegre, ia definir se a Volta a Portugal se ia tornar em mais uma procissão para formalizar um triunfo da Glassdrive ou se a equipa de Águeda era batível.

    GLASSDRIVE VS GLASSDRIVE

    A fuga tinha 12 ciclistas, de entre os quais se destacavam o camisola da montanha e o seu companheiro de equipa, Luís Fernandes.  A fuga não teria muita história, mas serviu para que César Fonte sentenciasse a classificação da montanha ao passar em primeiro no topo da subida de Torneiros.

    Contagem de 1ª categoria onde ocorria o primeiro grande momento da etapa quando Delio Fernández perdeu o contacto a mais de 40 km do fim. O espanhol da Tavira ficava completamente “a pé” e rapidamente ficava claro que ia sair do top 10.

    No pelotão, a Glassdrive e a Euskaltel tomavam conta da corrida, com Mauricio Moreira a ser o corredor que encabeçava o grupo durante mais tempo. A fuga era neutralizada com naturalidade e a formação de Águeda parecia ter a corrida controlada, apesar de James Whelan não parecer capaz de fazer grande trabalho na frente do grupo. Artem Nych franzia a cara, mas podia ser mero feitio do ciclista e nada de indicativo.

    Contudo Nych quebrava mesmo, pouco depois de Whelan saltar para a frente do pelotão. Um erro enrome na comunicação por parte da Glassdrive que custou a amarela à equipa e potencialmente a Volta.  Com o camisola amarela, ficava o companheiro de equipa australiano, enquanto Frederico Figueiredo ficava com os favoritos na frente.

    Depois, foi Afonso Eulálio quem aumentou o ritmo.  Os últimos 3 km foram de uma ritmo constante de Eulálio que deixou todos no limite, nomeadamente Txomin Juaristi que acabava por quebrar e consigo ficava Mikel Iturria, deixando a impressão de que Maté ia jogar a vitória na etapa, depois de já ter levantado os braços em Guarda.

    Era Colin Stüssi quem arrancava primeiro e ganhou mesmo a etapa, apesar de uma ligeira quebra nos metros finais. O suíço da Team Voralberg é o quarto ciclista suíço a  ganhar uma etapa da Volta a Portugal. O último fora Fabian Jeker, em 2001 e o primeiro foi Thomas Wegmuller em 1993.  Stüssi vestia também a camisola amarela, mas com Nych, Juaristi, Maté e Casimiro todos a menos de 1 minuto de distância.

    BUSTAMANTE PICA O PONTO PELA KELLY

    A antepenúltima etapa da Volta a Portugal ligava Boticas a Fafe, numa extensão de 146,7 km. Novamente uma fuga numerosa com nomes como Antonio Soto, Iñigo Elosegui (Equipo Kern-Pharma), Mauricio Moreira e James Whelan a integrarem a fuga. A intenção primária da Glassdrive parecia voltada para a vitória na etapa, mas com Whelan a pouco mais de 4 minutos do camisola amarela, o grupo foi tendo rédea curta.

    Isto até que Mauricio Moreira se deixou alcançar. Aí o grupo da frente começou a construir uma boa vantagem para o grupo dos favoritos, onde a Voralberg mantinha o pelotão controlado de uma forma invulgarmente organizada para os padrões da “Grandíssima”. A Tavfer também chegou a assumir a perseguição para tentar manter aberta a possibilidade de chegar á camisola laranja de Babor, mas não conseguiram anular a iniciativa antes da última meta volante do dia.

    No troço de “sterrato”, a fuga ficou reduzida a Soto e a Whelan, com uma margem inferior a 30 segundos para o pelotão, onde Nicolas Sessler, ciclista brasileiro da Global 6 Cycling, se lançou ao ataque, mas sem grande efeito. Frederico Figueiredo atacou, mas a resposta de Colin Stüssi a ser pronta, com o vice-campeão da Volta em 2022 a não ser capaz de fazer diferenças.

    Já Afonso Eulálio furava e dizia adeus à luta pelo top 10. Stüssi ainda tentou apanhar os rivais de surpresa na descida, mas também não deixou ninguém para trás. No grupo do camisola amarela seguiam também Luis Mendonça  e Luís Gomes (Kelly/Simoldes/UDO), dois enormes candidatos numa chegada ao sprint em grupo reduzido.

    A 2 km do fim, Mikel Iturria atacou, com Yesid Pira, Adrian Bustamante e James Whelan a seguir a movimentação. O colombiano da Caja Rural lançou o contra ataque e parecia mesmo que a vitória não escapava, mas o australiano da Glassdrive fechou o espaço e Bustamante aproveitou para lançar o sprint no terreno empedrado que marcava os metros finais para vencer a etapa, a sua primeira na Volta.

    Desta forma, Bustamante sela uma grande temporada em que venceu uma etapa na Volta ao Alentejo, corrida em que acabou na 2ª posição da geral. O colombiano de 25 anos andou bem na Volta ao Algarve, sendo o 2º melhor ciclista de equipas portuguesas na geral da “Algarvia” e agora tornou-se no quarto ciclista da Colômbia a ganhar uma etapa, o primeiro desde Jeobani Fidel Chacón, em 2005.

    Na geral, o destaque ia para Luís Ángel Maté que ficava no terceiro lugar da etapa, ganhando 4 segundos de bonificação e outros 2 na estrada para ficar no terceiro lugar, com o mesmo tempo de Artem Nych.

    A PERSISTÊNCIA DE WHELAN DÁ FRUTOS

    A última etapa de montanha da Volta a Portugal e a última jornada em linha. Chegada ao alto da Senhora da Graça, uma subida mítica de 1º categoria com 8,4 km de extensão e 7,55 de pendente média. A luta pela camisola laranja marcou a parte inicial da etapa, mas Daniel Babor viria a sentenciar a classificação ao vencer a meta volante em Paredes.

    A fuga foi novamente protagonizada por um grupo de 32 ciclistas, em que rodavam quatro ciclistas da Glassdrive, quatro da Kelly, três da Efapel, três da Euskaltel, entre outras equipas que levavam mais do que um ciclista. Na fuga apenas não estavam representadas quatro equipas: a BIKE AID, a Universe Cycling Team, a Tavfer e a Voralberg.

    A perseguição era, portanto, encargo da Voralberg que mantinha o grupo a cerca de três minutos de distância. Contudo, na fuga a equipa que mais trabalhava era a Kelly. A formação de Oliveira de Azeméis trabalhava para colocar Hélder Gonçalves no top 10, pelo que no pelotão a Aviludo-Louletano- Loulé Concelho guiava a perseguição com Carlos Oyarzún, o ciclista mais velho do pelotão da Volta, a ser a principal figura na dianteira do grupo.

    Contudo, a equipa austríaca voltava a assumir a frente do pelotão na subida do Barreiro. E foi no último quilómetro e meio dessa subida que Henrique Casimiro atacou com resposta imediata de Frederico Figueiredo e com Colin Stüssi a colar nos dois, ao seu próprio ritmo. A Euskaltel apanhá-los-ia na descida quando Joaquim Silva já descaíra da fuga.

    O destaque foi para Artem Nyech que ficava para trás na roda de Mauricio Moreira, assim como António Carvalho que estava mal colocado quando o ataque aconteceu, pelo que fez a ponte na descida para o grupo do camisola amarela. Nyech também recolava, sendo que a Efapel tinha já quatro ciclistas no grupo, depois do trio da fuga ter aguardado.

    Ninguém relevante para Henrique Casimiro havia ficado para trás, mas a Efapel optou por assumir a perseguição, poupando ao camisola amarela uma eventual perseguição com a fuga (onde rodava Whelan, a quatro minutos na geral), que nessa altura tinha quase dois minutos e meio de vantagem.

    Joaquim Silva foi quem puxou até Mondim de Basto e o comboio da Efapel foi funcionando. Na fuga, Ivo Pinheiro testava as águas, mas foi Hélder Gonçalves a atacar com Delio Fernández, Hugo Nunes, James Whelan e o próprio Ivo Pinheiro na roda. Depois foi a vez do australiano da Glassdrive saltar do grupo sem resposta, sendo Delio a puxar na perseguição.

    No grupo dos favoritos, António Carvalho atacou com resposta imediata de Frederico Figueiredo. Colin Stüssi fechava o espaço mais uma vez sem ir ao choque e Casimiro seguia-lhe a roda. Mais atrás, Nyech passava por dificuldades, tal como Maté e Txomin Juaristi. Perante esta situação, o camisola amarela percebeu que podia ganhar tempo aos perseguidores mais diretos, que seriam grandes ameaças no contrarrelógio final.

    Naturalmente, não tinha colaboração de Carvalho e muito menos de Figueiredo. Henrique Casimiro ainda passou esporadicamente pela frente, tal como um homem da Kelly, que descaíra da fuga e puxou no grupo do camisola amarela por motivos. Stüssi ameaçava levantar o pé, mas a aproximação de Artem Nyech tornava esta ameaça vã. O ciclista russo fez uma excelente gestão de esforço e foi ao seu próprio ritmo, deixando os dois homens da Euskaltel para trás.

    Ainda assim, o suíço da Team Voralberg não deixava que a junção acontecesse. Dentro do quilómetro final, novo ataque de António Carvalho com resposta imediata de Henrique Casimiro. Colin Stüsse voltava a fechar o espaço ao seu ritmo. Figueiredo ficava para trás e aproveitava para apoiar o colega de equipa.

    Entretanto James Whelan ao serviço da Glassdrive e logo no alto da Senhora da Graça, garantindo o seu lugar no top 10. Mais atrás, Hélder Gonçalves conseguia a bonificação de 4 segundos na meta e Colin Stüssi mantinha a camisola amarela, ganhando 32 segundos a Artem Nyech, deixando o russo a 1 minuto na geral. Juaristi e Maté perderam 47 segundos.

    Como tal, Colin Stüssi vai para o último contrarrelógio da Volta a Portugal, em Viana do Castelo com a camisola amarela vestida. 18 km são o que separam Stüssi de se tornar no segundo suíço da história a ganhar a Volta a Portugal (o primeiro foi Fabian Jeker, em 2001) e no primeiro ciclista estrangeiro de uma equipa estrangeira a ganhar a Volta a Portugal desde David Blanco em 2006.

    Stüssi tem 45 segundos de vantagem para Henrique Casimiro, 1 minuto para Artem Nyech, 1:06 para António Carvalho, 1:15 para Luís Ángel Maté e 1:30 para Txomin Juaristi. Casimiro deve perder o pódio, uma vez que não é especialista no contrarrelógio. Juaristi pode eventualmente subir ao pódio, mas é muito difícil que tal aconteça. Nyech e Carvalho são as maiores ameaças à camisola amarela de Colin Stüssi.

    César Fonte é vencedor virtual da classificação da montanha e Daniel Babor da classificação por pontos. Aos dois basta acabarem o contrarrelógio de amanhã para garantirem a camisola às bolinhas e a camisola laranja, respetivamente, da Volta.

    Na juventude, este sábado marcou um revés, pois Afonso Eulálio cedeu na subida do Barreiro, ainda a mais de 50 km da meta, pelo que veio a perder 10 minutos e 22 segundos para Jaume Guardeño, ficando apenas com 7 segundos de vantagem para o espanhol da Caja Rural. A quebra de Eulálio pode custar a camisola branca ao ciclista de 21 anos.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.