Volta a Portugal #5: Txomin Juaristi, príncipe de Santa Luzia, e Colin Stussi, o rei da Volta

    modalidades cabeçalho

    No âmbito da nomeação de Viana do Castelo como Cidade Europeia do Desporto em 2023, a 84.ª edição da Volta a Portugal terminou com um contrarrelógio individual na capital do Alto Minho. Este contrarrelógio, com final no Santuário do Sagrado Coração de Jesus (Monte de Santa Luzia), teve também a particularidade de se realizar no fim de semana das festas da cidade, da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia, tendo, por isso, contado com uma enorme moldura humana ao longo de todo o percurso.

    Segundo no prólogo, primeiro no contrarrelógio

    A derradeira etapa da Volta estava destinada a um bom contrarrelogista que conseguisse também manter uma velocidade elevada numa subida com percentagens de inclinação mais suaves.

    O primeiro ciclista a baixar dos 26 minutos de esforço foi o vencedor do prólogo inicial, Rafael Reis (Glassdrive Q8 Anicolor), colocando na meta um tempo de referência. Uma dezena de minutos depois viria a chegar outro grande candidato à vitória no contrarrelógio, o uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive Q8 Anicolor), que não quis deixar na estrada e “aniquilou” o tempo de referência do seu colega de equipa, superando-o por 45 segundos e completando o contrarrelógio em menos de 25 minutos.

    A vitória de Mauricio, com o seu “tempo-canhão”, era já uma forte possibilidade, até que o basco Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi), o sexto colocado da classificação geral à partida para o esforço contra o cronómetro, decidiu vingar-se da derrota sofrida no prólogo de Viseu. No primeiro ponto de cronometragem, perdia 2 segundos para o uruguaio; à entrada da subida, estavam em sintonia; mas no Monte de Santa Luzia, Txomin foi mais rápido e bateu o uruguaio por três segundos e sido o único a conseguir uma velocidade média no contrarrelógio superior a 43 km/h. Com esta vitória de etapa, Txomin acabou por subir quatro lugares na classificação geral.

    Um suíço muito completo

    Desde 2001 que a “Grandíssima” não tinha um suíço como vencedor final. Na altura, Fabian Jeker (Milaneza-MSS) foi o grande vencedor. Doze anos depois foi a vez de Colin Stussi (Team Vorarlberg).

    Colin Stussi e a sua equipa austríaca vieram a Portugal competir para pôr termo ao domínio das equipas portuguesas como vencedoras da Volta. O suíço foi o mais regular: não teve problemas em acompanhar movimentações dos restantes favoritos, conseguiu uma vitória de etapa na Serra do Larouco e até no contrarrelógio final foi terceiro classificado.

    O segundo classificado e vencedor do contrarrelógio final, Txomin Juaristi, ficou a pouco mais de um minuto na classificação geral do vencedor suíço. A completar o pódio, António Carvalho (ABTF Betão-Feirense) repetiu a classificação conseguida no ano anterior.

    Às portas do pódio ficaram, respetivamente, o vencedor do Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela deste ano, Artem Nych (Glassdrive Q8 Anicolor); o veterano vencedor da etapa 6 da Volta, Luis Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi); e o líder da formação de José Azevedo, Henrique Casimiro (Efapel Cycling).

    A completar o top 10, há ainda que mencionar mais dois ciclistas da Glassdrive Q8 Anicolor, Frederico Figueiredo e James Whelan; outro elemento da Euskaltel-Euskadi, Mikel Iturria; e ainda o líder da Aviludo-Louletano-Loulé Concelho, Jesús del Pino.

    A liderança dos pontos para um checo, da juventude para um espanhol, da montanha para um vianense e das equipas para uma equipa portuguesa

    No que diz respeito à classificação por pontos, o venezuelano vencedor das primeiras duas etapas em linha, Leangel Linarez (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), não conseguiu encurtar a diferença para o vencedor da etapa 4, Daniel Babor (Caja Rural-Seguros RGA), e o checo levou para casa a camisola dos pontos.

    Quanto à montanha, o final no Monte de Santa Luzia foi o cenário ideal para coroar o “imperador de Viana do Castelo” César Fonte (Rádio Popular-Paredes-Boavista) como o rei da montanha de 2023.

    No que toca à juventude, o espanhol Jaume Guardeño (Caja Rural-Seguros RGA) assumiu a liderança, que era de Afonso Eulálio (ABTF Betão-Feirense), no último dia de competição, graças a um excelente esforço contra o cronómetro que produziu.

    Coletivamente, o melhor bloco foi o da Glassdrive Q8 Anicolor, que superou o da Euskaltel-Euskadi.        

    Entrevistas na zona mista

    Rúben Pereira (diretor desportivo da Glassdrive Q8 Anicolor)- O diretor desportivo da Glassdrive não acredita na palavra “desilusão” como forma de classificação da prestação da equipa na 84.ª edição da Volta a Portugal. Considerou que a equipa foi aquela que mais iniciativa tomou e mais ofensiva foi. Confessou ainda que não menosprezaram os adversários e que, por isso mesmo, sabendo das qualidades dos competidores no contrarrelógio, atacaram para conseguirem uma margem confortável para o contrarrelógio final. Rúben Pereira assumiu que o resultado obtido na etapa da Torre fez com que tivessem de modificar os planos A e B que tinham à partida para a etapa (Mauricio Moreira e Frederico Figueiredo) e passassem apostar as fichas em Artem Nych. Não quis desvalorizar a vitória na classificação por equipas, que atestou a qualidade do grupo. Finalizou divulgando que todos os ciclistas da equipa presentes na Volta a Portugal deste ano têm contrato até, pelo menos, 2024.

    Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi)- O ciclista basco admitiu que partia com intenções vencer o contrarrelógio final. Confessou também aos repórteres que, apesar de saber que estava em boa forma, nunca pensou que faria uma Volta tão boa. Considerou igualmente que a equipa teve um desempenho brilhante

    António Carvalho (ABTF Betão-Feirense)- Questionado pelos jornalistas, o ciclista nortenho considerou muito satisfatório o pódio final. Mais satisfatório ainda foi o resultado, tendo em conta a queda grave que teve no período que antecedeu a prova. O atleta do Feirense não atribuiu grande valor ao facto de ser o melhor português na Volta, sendo mais importante para ele ter a melhor classificação geral possível, não olhando à nacionalidade. Admitiu que tinha como objetivos iniciais para a “Grandíssima” conseguiu terminar no top 10 da classificação geral e discutir uma vitória de etapa e, que, mesmo não tendo vencido uma etapa, terminar no pódio final foi algo muito bom.

    Colin Stussi (Team Vorarlberg)– O camisola amarela fez questão de agradecer a todos, incluindo colegas de equipa, todo o staff e público na estrada. Questionado quanto à sua presença na prova em 2024, não confirmou, nem descartou a hipótese, revelando que a sua presença dependerá de várias condicionantes.

    Conferência de imprensa

    Colin Stussi

    Admitiu que, para sua surpresa, ainda tinha “bateria” nas pernas (e no telemóvel também) e que aquele era o dia mais importante da sua carreira e da história da equipa.

    Quis dedicar a vitória a todos os que o ajudaram a atingir o sucesso: a sua família, o seu treinador, toda a equipa (que acreditou nele, mesmo após ter cometido vários erros durante a sua carreira).

    Não sabe ainda se, com esta vitória, conseguirá dar um passo ainda maior na carreira e só o futuro o dirá.

    Referiu que encarou a corrida etapa a etapa e que, mesmo sabendo que gosta do calor e das etapas duras e que chegava a Portugal em excelente forma, partiu com o objetivo inicial de disputar o top 10, tendo inclusive auxiliado o seu sprinter nas primeiras etapas. Só após o segundo lugar conseguido na etapa da Torre é que se apercebeu de que, de facto, poderia tentar almejar mais alto.

    Realçou novamente o esforço dos colegas de equipa que, mesmo não sendo os melhores escaladores (alguns deles), deram tudo o que tinham por ele; e destacou o bom ambiente na equipa.

    Admitiu que já sabia desde 2018 (quando já tinha competido na Volta) que a atmosfera criada pelos aficionados nas estradas portuguesas é fenomenal e destacou a paixão dos adeptos, nomeadamente nas etapas da Torre e da Senhora da Graça.

    Questão BnR

    BnR: Colin, antes de mais, parabéns pela vitória! O Colin terminou à porta do top 10 tanto na Volta à Eslovénia (em junho), como na Volta à Áustria (em julho). Estava com estes bons resultados a preparar-se para atingir o pico de forma em agosto, na Volta a Portugal?

    Colin Stussi: Sim… Eu sempre tenho o meu pico de forma mais tarde. Eu sinto-me em boa forma desde maio (eu diria), eu nunca fico cansado até ao final do ano.

    Eu sinto que tenho alguns problemas na primavera, devido ao frio e à chuva. Mas, normalmente, o meu pico de forma é bastante tarde na temporada… e Portugal… eu sinto que me preparei toda a minha vida para esta corrida, porque eu treino bem tarde às vezes. Eu gosto do calor … eu adoro o calor. Se estiverem 35ºC ou 40ºC, para o meu corpo não importa. Ok, pode parecer que eu não gosto do calor, porque o meu tom de pele é muito claro, mas eu gosto do calor. E as etapas duras… eu gosto ainda mais… com tantos metros de altitude e quando se fica tão cansado até ao fim… é aí que eu sinto que realmente brilho.

    Joaquim Gomes (diretor da Volta a Portugal)

    O diretor da Volta a Portugal revelou o quão difícil foi organizar o contrarrelógio na cidade de Viana do Castelo, tendo em conta o adiamento das datas da Volta pela realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal este ano e a consequente coincidência da etapa da Volta com o fim de semana da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia. Quis ainda destacar a disponibilidade, o empenho e a entrega da Polícia de Segurança Pública, da Guarda Nacional Republicana, dos vários departamentos da Câmara Municipal de Viana do Castelo, dos Bombeiros Sapadores, de outras entidades.

    Destacou ainda a moldura humana presente ao longo da última etapa e o quão merecido foi um último dia bem-sucedido após todos os escândalos de dopagem que surgiram nas “vésperas” da Volta do ano passado, que puseram a integridade do ciclismo nacional em causa.

    Joaquim Gomes revelou ainda o quão difícil é cobrir todo o território nacional durante apenas 11 dias de Volta e que, a título de exemplo, a realização de uma etapa no Algarve obriga a um esforço suplementar das equipas presentes em provas e também das equipas de logística.

    Por último, confessou ainda que Viseu terá um papel primordial na próxima edição da Volta a Portugal, no âmbito de “Viseu, Cidade Europeia do Desporto em 2024”.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Miguel Monteiro
    Miguel Monteirohttp://www.bolanarede.pt
    O Miguel é um estudante universitário natural do Porto, cuja paixão pelo desporto, fomentada na infância pelos cromos de Futebol que recebia e colava nas cadernetas, considera ser algo indescritível. Espetador assíduo de uma multiplicidade de desportos, tentou também a sua sorte em algumas modalidades, sem grande sucesso, tendo encontrado agora na análise desportiva uma oportunidade para cultivar o seu amor pelo desporto e para partilhar com os demais as suas opiniões, nomeadamente de Ciclismo, modalidade pela qual nutre um carinho especial.