Volta a Portugal: Favoritos, trajeto e dias-chave

    QUE COMECE A GUERRA PELO TRONO AZUL E BRANCO

    Eis o alvo a abater. A sociedade W52 e Futebol Clube do Porto tem sido absolutamente dominadora no que concerne ao historial recente da mais prestigiada competição de ciclismo portuguesa, evidenciado um normal favoritismo para aquela que pode ser a quinta vitória em seis tentativas possíveis.

    Pese embora os títulos de 2017 e 2018 retirados a Raul Alarcón por uso de métodos e/ou substâncias proibidas, a decisão tomada pela União Ciclista Internacional beneficiou diretamente dois atletas que agora curiosamente vestem a pele azul e branca, sendo dois dos favoritos à vitória final.

    Amaro Antunes em 2017, já ao serviço da W52-FC Porto, e Joni Brandão, em 2018, a correr pelo Sporting/Tavira, são dois antigos campeões que pretendem renovar um currículo de relevo. Se o primeiro vem de uma vitória na Edição Especial da volta, Joni Brandão é a grande novidade azul e branca, não fosse considerado o grande opositor da hegemonia nortenha nos últimos anos, e que conseguiu quebrar desta forma um pouco ortodoxa o domínio imaculável dos dragões.

    Ironia do destino, os dois segundos classificados que viriam a tornar-se vencedores na secretaria são agora, a par de João Rodrigues, parte integrante de uma tripla de sonho ao serviço de Nuno Ribeiro, chefe de equipa e um dos grandes responsáveis pelos sucessos recentes dos dragões. Perceber como a “Ineos portuguesa” vai funcionar perante uma concorrência cada vez mais ameaçadora pode ser meio caminho andado para antever o que se pode passar nas estradas portuguesas. Afinal, qual será a ordem tática de favoritos dentro do comboio de Nuno Ribeiro? Quem será capaz de ombrear com estes nos momentos decisivos?  Haverá, finalmente, espaço para alguma surpresa de uma cor que não azul?

    O perfil da prova diz-nos que o termo coletivo será especialmente importante devido ao elevado número de dias sem descanso, por assim dizer. Dia sim, dia sim, são inúmeras as dificuldades que podem traduzir-se em diferenças de tempo, o que nos leva também para a particularidade de que os homens rápidos do pelotão terão a vida muito complicada. Tirando da equação os cinco finais de etapa com chegada em alto, os velocistas ou corredores rápidos, se não tiverem aquela ponta de explosão em chegadas com alguma dureza, como em Setúbal (1ª), Castelo Branco (2ª) e Fafe (6ª), podem muito bem passar ao lado das maiores decisões.

    Outro aspeto importante da corrida são os dois contrarrelógios, colocados justamente no início e no fim da prova. Totalizando os 26 quilómetros de esforço individual entre as duas etapas, está aqui mais um ingrediente interessante, tanto para os contrarrelogistas presentes, como para os voltistas ou trepadores que se adaptam melhor a este momento da corrida e procuram fechar ou aumentar diferenças na classificação geral e na classificação da juventude.

    Passando a apresentar os principais candidatos a destronar a W52-FC Porto do topo, há que fazer uma referência imediata para duas equipas: a simbiose perfeita da Efapel com uma tripla de respeito composta por António Carvalho, Frederico Figueiredo e André Cardoso (ainda com Rafael Reis para os esforços individuais), assim como a importância que a jovem formação da Movistar pode vir a ter na grandíssima.

    Se somarmos as tais cinco chegadas em alto a três etapas explosivas, as características de ciclistas propensos a terrenos inclinados, sejam de curta ou longa duração, serão fundamentais. Héctor Carretero, Juan Diego Alba e principalmente Sergio Samitier, à partida, serão os jovens mais perigosos do lado da Movistar para a geral, que conta com nomes para atacar praticamente todas as etapas (possivelmente o principal objetivo da equipa), como o imponente Mathias Norsgaard para os contrarrelógios.

    A forte presença espanhola será novamente uma realidade, juntando-se à maior equipa espanhola atualmente a Caja Rural, a Euskatel-Euskadi, a Burgos-BH e a Kern-Pharma. Com a Volta a Espanha a coincidir com o final da Volta a Portugal, as turmas vizinhas, naturalmente, não se vão apresentar com os principais corredores. Para a geral, destacar Jhojan Garcia, colombiano de 23 anos a representar a Caja Rural, e que potencialmente é o homem mais forte da armada “espanhola” em termos de equipas continentais. Já na caça a etapas, e com um percurso tão acidentado, Enrique Sanz, da Kern Pharma, é o atleta a ter em consideração para os inúmeros finais de etapa ao estilo de ciclistas explosivos.

    Um ponto que se pode tornar fulcral para o desfecho da corrida é a equipa da Rally Cycling e a sua formação de grande qualidade. Ben King e Nathan Brown prometem ser uma grande dor de cabeça para o favoritismo português, dado o seu historial interessante no World Tour num passado recente. A equipa laranja conta com outros nomes com justas aspirações, como Keegan Swirbul, no entanto, é uma incógnita saber se a equipa vai apostar na classificação geral ou dar liberdade a estes ciclistas para tentar fazer uma ou várias gracinhas nas diversas oportunidades para os punchers do pelotão.

    Ainda dentro das formações estrangeiras, mencionar a participação da Israel Cycling Academy, SwiftCarbon Pro Cycling e a Bingoal Pauwels Sauces, sendo esta última a mais reconhecida. A equipa belga conta com o veterano Jelle Vanendert, que noutros tempos teria nesta competição o favoritismo à vitoria em mais de 50% das etapas. Agora com 36 anos, a experiência do belga contrasta com a explosividade de outrora. O principal raio de ação destas equipas deve passar essencialmente pela tentativa de uma vitória de etapa, intromissão em fugas ou as classificações da montanha ou juventude, isto se existir capacidade de algum dos muitos jovens estrangeiros em prova.

    Por último, mas não menos importante, as equipas portuguesas e aquilo que os seus principais corredores podem conseguir na 82ª edição da grandíssima. Para além da já referida W52-FC Porto e o seu objetivo máximo de revalidar o título, assim como a Efapel, o principal rival a tal conquista, há que referir que esta luta está longe de ser mano-a-mano entra as duas formações.

    Respeitando a ordem dos dorsais, começar por referir Joaquim Silva e Iuri Leitão da Tavfer-Meansindot-Mortágua. O primeiro, pela regularidade que tem apresentado, é um excelente candidato a um bom lugar na geral final, já Iuri Leitão, um homem rápido com muita história na pista, pode vir a ter uma ou duas oportunidades para brilhar apesar do percurso não se adaptar perfeitamente a si. Passando para a Louletano-Loulé Concelho, a equipa multicultural apresenta diversas opções para diversos objetivos, devendo apostar em Tomas Contte nas etapas mais “fáceis” e em fugas ou chegadas mais complicadas devido ao perfil dos vários ciclistas que se adaptam às dificuldades da grandíssima.

    De Loulé viajamos para Santa Maria da Feira, para a Antarte-Feirense e para as aspirações de Vicente García De Mateos. Em termos de classificação geral, o espanhol tem apresentado uma trajetória descendente, assim como em chegadas de grande velocidade, onde se consolidou como um dos melhores ciclistas a correr em Portugal nos últimos anos. Seja como for, o dorsal número um da equipa terá uma armada lusa em seu redor, destacando-se Bruno Silva e Gonçalo Amado. Claramente com mais capacidade nas grandes montanhas portuguesas surge a Kelly/Simoldes/UDO e César Fonte, Henrique Casimiro e Luís Gomes, trio que promete fazer frente aos portistas e à Efapel na luta pelos lugares cimeiros da classificação final e na luta por etapas.

    De uma formação com qualidade para se intrometer nas etapas de alta montanha e finais íngremes, passamos para outra com condições semelhantes. A Rádio Popular Boavista confia em João Benta e Luís Fernandes para um objetivo ambicioso para a geral. Com Tiago Machado a acrescentar a sempre importante ponta de experiência na equipa, prevê-se uma equipa ativa na frente do pelotão nacional. Sobram apenas a L.A. Aluminios/L.A. Sport e a Atum general/Tavira/Maria Nova Hotel, predispondo-se a duas maneiras diferentes de encarar a corrida.

    Na primeira constam nomes interessantes para a luta pelas várias etapas. Carlos Salgueiro para o contrarrelógio e André Ramalho e Gonçalo Leaça para os finais acidentados são potencialmente os nomes a reter. Já a formação algarvia conta com Gustavo Veloso e Alejandro Marque nas suas fileiras, dois veteranos bem conhecidos do pelotão nacional. É um facto de que a idade pode pesar nas pernas, ainda para mais com um percurso tão duro, mas a experiência e a quilometragem de contrarrelógio prometem equilibrar a balança para os dois espanhóis, dois candidatos ao pódio final se a dureza das imponentes montanhas não matar a esperança galega à nascença.

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.