Vuelta a España #1: “GC Kuss” torna-se uma realidade no meio do caos

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    Chegou a Vuelta a España, a última Grande Volta do ano e, com os Campeonatos do Mundo a terem já decorrido, o último ponto alto da época para quem não vai à Volta à Lombardia. A corrida estava envolta por uma antecipação relacionada com a presença do vencedor de 2022, o novo Campeão do Mundo de contrarrelógio, Remco Evenepoel, do vencedor do Giro, Primoz Roglic e do vencedor do Tour, Jonas Vingegaard.

    Para além destas figuras, João Almeida e Juan Ayuso encabeçam a UAE Team Emirates e a INEOS chegou com Geraint Thomas e Thymen Arensman como principais figuras. Enric Mas lidera a Movistar, depois de quase dois meses de ausência devido a queda na primeira etapa do Tour de France, no início de julho.

    Ao nível dos sprinters, o pelotão deixa muito a desejar, com os nomes de Juan Sebastián Molano e de Kaden Groves a destacar-se dos demais. Interessante também ver o que bicampeão da Volta ao Alentejo, Orluis Aular consegue fazer.

    A primeira semana foi marcada pela força coletiva da Jumbo-Visma nas montanhas, assim como pelo “pacing” de Evenepoel nas subidas. Todavia, o que saltou mesmo à vista foi a sucessão de erros por parte da organização da Vuelta. Desde etapas percorridas à noite a uma chegada em alto onde os tempos foram cronometrados à mão, a organização da Volta à Espanha tem ficado aquém do estatuto de Grande Volta gozado pela corrida.

    UM INÍCIO ÀS ESCURAS

    A primeira etapa foi um contrarrelógio por equipas, com 14 km de extensão na cidade de Barcelona. A Jumbo partia com um enorme favoritismo, assim como a INEOS, com a questão mais inclinada para qual destes 16 corredores seria o primeiro camisola vermelha.

    A chuva começou logo a fazer das suas, levando ao chão ciclistas da Team Jayco AIUla, incluindo Eddie Dunbar (irlandês que esteve em destaque no Giro) e da Arkéa-Samsic. A equipa da DSM- Firmenich até estabeleceu um tempo que não era mau, mas efetivamente não se esperava que viesse a ser o tempo da equipa vencedora.

    Todavia, o céu começava a escurecer, o que levou equipas como a Jumbo e como a Emirates a levantar o pé, procurando sobretudo evitar quedas. Já a INEOS sofreu mesmo uma perda, com Laurens de Plus a ir ao chão e a abandonar a corrida com uma fratura na perna. Thomas, Roglic, Vingegaard, Almeida e Ayuso perdiam todos tempo para Remco Evenepoel e para Enric Mas, com a Soudal – Quick Step e a Movistar a ficarem extremamente próximas do tempo da equipa alemã.

     A DSM conquistava a etapa no meio de vários protestos dentro do pelotão, relativamente às circunstâncias da corrida. O primeiro camisola vermelha da corrida foi o italiano, Campeão do Mundo de contrarrelógio em sub-23, Lorenzo Milesi.

    O 2º dia viu os ciclistas protestarem com o percurso perigoso da etapa, nomeadamente com a descida final, cujo risco ficava adensado pela chuva intensa nas terras Catalãs. Os tempos passavam a ser marcados na base da subida ao Castell de Montjuic, a penúltima do dia, a contar com o pequeno alto que marcava o local onde seria coroado o vencedor da etapa.

    Apesar dos tempos na estrada ficarem definidos na base do Montjuic, a subida e a meta reservavam bonificações para os ciclistas, pelo que algum dos homens da geral podia ficar interessado nesses segundos de bónus.

    Roglic foi ao chão a 32 km do fim, com alguma especulação em torno das lesões que podia apresentar. Antes, já Oscar Onley, britânico da DSM fora obrigado a abandonar por causa de uma queda. No momento da queda do esloveno, a Jumbo passou para a frente do pelotão, com Jonas Vingegaard e Dylan Van Baarle a pedir para que o pelotão abrandasse, com vista a que a etapa não fosse desnecessariamente perigosa (ou então para que Roglic não perdesse tempo ou não se desgastasse para reentrar no pelotão).

    O abrandamento do pelotão foi uma boa notícia para a fuga que assim ficava com a camisola vermelha à sua mercê. Geraint Thomas caiu a 22 km e pouco depois, Lorenzo Milesi, Campeão do Mundo de contrarrelógio em sub-23, disse adeus à camisola vermelha, descaindo do pelotão. Quando as diferenças de tempo ficaram definidas, Andrea Piccolo e Javier Romo estavam isolados na frente, com o italiano da EF Education – Easy Post a chegar à camisola vermelha numa época em que tem ficado aquém das boas exibições.

    A geral não teve qualquer tipo de ação e a 3,6 km da meta, Andreas Kron saiu do grupo principal para vencer a sua primeira etapas em Grandes Voltas, cumprindo o objetivo principal da Lotto Dstny na Vuelta, a vitória numa etapa. Aos 25 anos, o Dinamarquês ganhou e dedicou a vitória a Tijl de Decker, vencedor do Paris-Roubaix de sub-23 que perdeu a vida dois dias antes, devido a um acidente de treino, e que corria na formação de desenvolvimento da equipa belga.

    A 3ª etapa não ficou isenta de polémicas, mas essas apenas chegaram no fim da etapa. No início do dia, a antecipação estava em torno da primeira chegada em alto da Vuelta, com o final no Arinsal, 1ª categoria com 8,3 km a 8% de pendente média, mas não sem antes o Col de Ordino, com mais de 17 km.

    Um dia de fuga numerosa com nomes proeminentes como Damiano Caruso, Lennard Kämna e ainda Eduardo Sepúlveda que aproveitava para apresentar a sua candidatura à classificação da montanha. O Ordino não fez grande diferença, com  o único destaque a ser Piccolo a ficar para trás, garantindo que um novo camisola vermelha subiria ao pódio no fim do dia.

    Seria Javier Romo? Não, o Espanhol da Astana perdia o contacto no início da subida final. A Soudal demonstrava a sua força nas montanhas, ao encabeçar o grupo, com a Emirates a passar também pela frente do pelotão. A Jumbo não passava pela frente… um potencial indício de que Roglic podia não estar com boas sensações depois da queda na segunda etapa.

    Na subida final, Juan Ayuso e Marc Soler foram lançando pequenos ataques, sem ganhar grande margem. Depois, foi Sepp Kuss a sair, com Ayuso a tentar juntar-se ao grupo. João Almeida ficava apanhado num pequeno corte com Aleksandr Vlasov, mas a ritmo lá chegou à frente da corrida. Geraint Thomas perdeu o contacto numa fase ainda madrugadora da subida, ficando a ideia de que o Galês não ia lutar pela vitória da Vuelta, como fizera no Giro.

    Thymen Arensman também passou dificuldades dentro do último quilómetro, pelo que ficava a ideia de que a INEOS iria ter muitas dificuldades em lutar pela vitória nesta Grande Volta. A equipa britânica que conta com 7 Voltas à França no registo, não ganha uma corrida de três semanas desde a Volta à Itália de 2021, com Egan Bernal.

    Nos metros finais, Remco Evenepoel lançou-se ao sprint, com Jonas Vingegaard na resposta direta. O campeão belga conquistou a etapa, vestindo a camisola vermelha, a da juventude e a da montanha, num dia em que Primoz Roglic ainda passava por algumas dores, o que o terá afastado da luta pela vitória na etapa. Ainda assim, a Jumbo escapava sem perder tempo significativo, a Emirates mantinha três ciclistas mais do que na luta e Evenepoel acabava de derrotar os dois últimos vencedores de Grandes Voltas.

    Pela positiva, o destaque do dia foi para Lenny Martinez e para Cian Uijtdebroecks, com os dois jovens que se estreiam em Grandes Voltas a chegarem com os favoritos. Já o destaque negativo foi para a INEOS, para Eddie Dunbar (o irlandês perdeu mais de 2 minutos e meio) e ainda para a Bahrain Victorious que via Mikel Landa e Wout Poels sofrerem perdas significativas. Santiago Buitrago era a esperança da equipa asiática.

    O incidente após a chegada foi uma queda de Remco Evenepoel, com o ciclista belga a fazer uma ferida no sobrolho, após embater numa “soigneur” e com o vencedor da Volta à Espanha do ano passado a queixar-se de que a imprensa e os membros da organização não se deviam colocar tão perto da meta. Até pode nem ter totalmente razão, mas a verdade é que os incidentes já cansavam demasiado os adeptos do ciclismo para  que alguém tivesse boa vontade com a organização desta corrida.

    KADEN GROVES PINTA A SUA VUELTA DE VERDE

    As etapas 4 e 5 foram para homens rápidos e não tiveram grande história. Não, pelo menos, até aos quilómetros finais. A 4ª etapa marcava o regresso a Barcelona, num dia em que a polícia impedira com sucesso um golpe de um movimento independentista catalão que pretendia despejar 400 quilos de azeite num viaduto, pouco antes da passagem do pelotão.

    De resto, foi um dia monótono, tal como o pelotão estava a precisar… até aos últimos momentos, em que quedas marcaram o dia, nomeadamente a 7 km do fim, com Bryan Coquard e Santiago Buitrago a ficarem envolvidos, assim como Wilco Kelderman. Os dois últimos ficavam de fora da luta pela geral, com o distanciamento de Kelderman a prejudicar a estratégia de vantagem numérica que a Jumbo tem vindo a usar nesta corrida.

    A Cofidis ficava sem o seu sprinter e líder para esta corrida, que abandonava no dia seguinte, não partindo para a quinta jornada. O sprint final ficava marcado por uma queda de Marjn Van den Berg que travou demasiado tarde numa das últimas curvas e pelo arranque fantástico de Juan Sebastián Molano que parecia ter tudo para vencer, até que Kaden Groves se chegou à roda do Colombiano que foi ultrapassado e derrotado de forma clara por um sprint fantástico do Australiano que já levantara os braços no Giro. A Alpecin-Deceuninck mantém assim a senda de conquistar etapas em todas as Grandes Voltas em que participa, desde o Giro de 2021

    O quinto dia foi muito parecido ao anterior, com os abandonos de Coquard e Rúben Guerreiro a serem notícia antes do começo da etapa. Já durante a etapa, era a vez dos dois líderes da Jayco abandonarem: Eddie Dunbar e Filippo Zana.

    De resto o dia, foi bastante tranquilo e a história pode ser resumida numa vitória dominante de Kaden Groves perante os outros sprinters. Isto porque o nome que ameaçou derrotar Groves não foi nenhum puro sprinter, mas sim Filippo Ganna, ex-campeão do Mundo de contrarrelógio. O Italiano que ganhou a Volta à Valónia surpreendeu toda a gente ao lançar-se ao sprint e ainda para mais, ao ameaçar mesmo a vitória de Kaden Groves, com a impressão de que o ciclista da Alpecin teria perdido a corrida, caso esta tivesse mais uns 30 metros.

    A 6ª etapa marcava uma nova chegada em alto, desta vez , ao Observatorio Astrofísico de Javalambre. A etapa era acidentada, mas só se previam ataques para a geral na última subida, o pico del Buitre, contagem de 1ª categoria com 10,9 km a 8% de pendente média.

    O dia ficou marcado por um início extremamente atribulado que levou à criação de uma fuga de 42 ciclistas com nomes da índole de Sepp Kuss e Lenny Martinez a integrarem o grupo que chegou a levar mais de 6 minutos de vantagem, obrigando a Soudal a controlar o pelotão.

    CICLISMO TOTAL DA JUMBO

     Remco Evenepoel deixara claro nos dias anteriores que queria perder a camisola vermelha, o que potenciou a vontade enorme de integrar a fuga por vários ciclistas no pelotão. Para além de Kuss, a Jumbo tinha três outros ciclistas, com Attila Valter, Dylan Van Baarle e Jan Tratnik. A equipa Neerlandesa surpreendia e usava a vantagem dos números quando ninguém esperava. Era também a formação com mais interesse no sucesso de uma fuga que incluía Rui Costa.

    Mais atrás, a Soudal tinha apenas a ajuda da INEOS. Na subida final, os ataques começaram na fuga com Einer Rubio a tentar surpreender. Não tardou a que Romain Bardet (já bastante atrasado na geral) saltasse do grupo com Lenny Martinez a seguir a roda do compatriota gaulês.

    Sepp Kuss permanecia inerte à espera do que Marc Soler faria. O Espanhol da Emirates estava no mesmo grupo que o Estadounidense e era uma das maiores ameaças à estratégia da Jumbo que não queria potenciar o ataque de uma equipa rival à geral. E Kuss acabou por sair e chegar à frente com uma facilidade tremenda, saindo disparado do grupo sem qualquer resposta.

    No pelotão, Primoz Roglic atacou a pouco mais de 3 km para o final, sem resposta pronta de Remco Evenepoel, que ficava na roda de Louis Vervaeke. Contudo, a vantagem do Esloveno apenas crescia e Evenepoel não se mostrava capaz de acompanhar o grupo dos favoritos, ficando num grupo com João Almeida e Geraint Thomas.

    A resposta mais séria a Roglic partiu de Jonas Vingegaard que atacou e fez a ponte para o colega de equipa, no que parecia o momento de superioridade absoluta por parte da dupla de líderes da Jumbo-Visma. Apenas Enric Mas aguentava o ritmo das “Abelhas” mas acabaria por estourar completamente, ficando mesmo atrás de Evenepoel.

    Entretanto Kuss isolava-se na frente e conquistava a etapa, ficando a apenas 8 segundos da camisola vermelha, agora envergada por Lenny Martinez, com a promessa francesa de 20 anos que corre pela Groupama a tornar-se no ciclista mais jovem da história a vestir a camisola vermelha.  Os dois construíram uma vantagem superior a três minutos para os candidatos à geral.

    Roglic e Vingegaard foram efetivamente os melhores de entre os candidatos à vitória final, mas não ganharam tanto tempo como chegou a parecer, sendo que Vingegaard aparentava ter um certo desconforto na roda de Roglic, o que pode ter levado a equipa a reduzir o esforço. Pouco atrás, chegavam Juan Ayuso e João Almeida, com o Português a fazer uma subida em “crescendo” para minimizar as perdas para o duo da Jumbo-Visma.

    Remco Evenepoel fez o mesmo e se a 2 km do fim, perdia 20 segundos na meta apenas perdeu 32 segundos, contrariando a aparência de que ia perder a Volta à Espanha naquele dia. O próprio Aleksandr Vlasov teve uma quebra enorme nas últimas rampas.

    A etapa 6 era dia que se esperava, mais uma vez, para a chegada ao sprint e, portanto, Kaden Groves era favoritíssimo a conquistar a terceira vitória nesta edição da Vuelta. Reforçou a liderança na classificação por pontos ao passar em primeiro num sprint intermédio que viu Jonas Vingegaard apanhar 3 segundos de bonificação, de forma semelhante aos 6 segundos em bonificações que Remco ganhara no sprint intermédio do 4º dia de corrida.

    O dia ficou marcado por nova sucessão de quedas dentro dos últimos 10 quilómetros. Primeiro, a 7 quilómetros, Milan Menten foi ao chão, deitando por terra as hipóteses de vitória de etapa da Lotto Dstny.  Pouco depois, uma queda na frente do pelotão levou Thymen Arensman de cara ao chão obrigando o Neerlandês da INEOS a desistir, acabando com as esperanças de um top 10 da formação nesta Vuelta. Geraint Thomas também caíra numa fase madrugadora da etapa, mas continuou em prova.

    O sprint final foi o mais caótico que já vi. Ninguém tinha comboios organizados, pelo que o posicionamento dos ciclistas parecia um pouco aleatório.  E talvez tenha sido por isso que Geoffrey Soupe conquistou o seu primeiro triunfo no World Tour, aos 35 anos. Desta forma, o experiente lançador francês beneficiou de um dia menos conseguido por Dries van Gestel (sprinter habitual da TotalEnergies, equipa de Soupe) e por Kaden Groves para surpreender e dar a vitória de etapa que “ganha” basicamente a Vuelta para a TotalEnergies.

    A penúltima etapa da semana, a 8ª desta Volta à Espanha levava os ciclistas a Xorret de Catí, num final em descida após uma subida com o mesmo nome, de apenas 3,9 km de extensão, mas com pendente média elevadíssima (10%). Uma etapa “rompe pernas” que se enquadra muito no perfil de ciclistas de Primoz Roglic e de Remco Evenepoel, sendo que o Belga precisava de responder a várias dúvidas que a estrada levantou em Javalambre.

    Mais um dia de fuga numerosa e uma potencial ameaça à liderança de Lenny Martinez na geral, um cenário que obrigou a equipa da Groupama a perseguir, com a formação da Jumbo a passar também pela frente. João Almeida caiu numa fase inicial da etapa, precisando de ser assistido, o que colocava também muitas dúvidas sobre o que o “Bota Lume” seria capaz de fazer no dia.

    E na subida a Xorret de Catí, a Soudal-Quick Step passou para a frente com Jan Hirt e Louis Vervaeke a fazerem um trabalho exemplar. A fuga foi anulada com Rui Costa e Oier Lazkano a serem os dois últimos homens a serem alcançados. No grupo dos favoritos, Vervaeke dava um esticão muito forte e Lenny Martinez cedia, assim como Cian Ujtdebroecks, duas boas notícias para João Almeida que subia aos poucos no grupo dos favoritos.

    Depois, foi Remco Evenepoel a antecipar uma movimentação de Sepp Kuss, fazendo uma mudança de ritmo muito forte, que deixou Ayuso e Almeida na cauda do grupo. Marc Soler ainda se aguentava, assim como Enric Mas e os dois suspeitos da Jumbo. Por último, Sepp Kuss foi mesmo capaz de atacar, com o campeão Belga a fechar o espaço.

    Foi então que surgiu uma das imagens desta Volta à Espanha. Evenepoel a olhar por cima dos dois ombros, a antecipar um novo ataque por parte de algum dos líderes da Jumbo. Almeida e Ayuso acabaram por chegar ao grupo, sendo que seriam Soler e também o Português a passarem pior na descida, mas sem perderem tempo.

    Pelo menos até à meta, quando Primoz Roglic se lançou ao sprint e conquistou a sua 11ª etapa em todas as participações na Vuelta, com Remco Evenepoel a ser segundo e com os restantes candidatos a perderem 2 segundos na estrada para o duo. Lenny Martinez perdia a camisola vermelha para Sepp Kuss, que se tornava no primeiro Estadounidense a vestir a camisola vermelha em 10 anos, com o último a ser Chris Horner, vencedor da edição de 2013 (e curiosamente, o mais velho de sempre a ganhar a corrida).

    Já Evenepoel afirmou que não sabia que o sprint era para a vitória na etapa, pensando que a fuga tinha vingado. Aproveitou para dizer que, se soubesse, teria pernas para disputar o mesmo.

    O QUE IMPORTA É COMO SE ACABA… OH, ESPERA

    Último dia da primeira semana da Volta à Espanha e chegava a hora de mais uma “vueltice”. A etapa 9 era muito dura e acabava com uma chegada ao Alto Caravaca de la Cruz, uma subida de 2ª categoria com 8 km a 6% de pendente média. O vento era cruzado e bem forte, particularmente no início da etapa, quando a Jumbo mandou a formação toda para a frente com o objetivo de cortar o pelotão e, com jeitinho, meter muito tempo em cima de Evenepoel antes do contrarrelógio em Valladolid.

    A UAE ficou completamente apanhada no corte, assim como a Movistar, mas na frente apenas seguia um grupo de 12 ciclistas, sendo que acabou por haver uma junção. Não tardou a que houvessem mais “abanicos” com Lenny Martinez a ficar apanhado, chegando a estar a 1 minuto dos favoritos, espaço que a equipa da Groupama conseguiu fechar, graças à desaceleração na frente.

    Esta desaceleração foi o impulso que a fuga estava a precisar para poder acreditar na vitória, crença esta que ficava mais sólida com a decisão por parte dos organizadores de marcar os tempos a cerca de 2,5 km da meta, devido ao terreno lamacento e ao temporal que se encontravam no topo de Caravaca de la Cruz. E foi aqui que a confusão começou, colocando ainda mais em causa a verdade desportiva nesta Vuelta.

    Era muito pouco clara a distância a partir da qual os tempos para a meta ficavam definidos. Uns diziam 2,7 km para a chegada original, outros 2 km. E como se isto não bastasse, o temporal era praticamente inexistente no topo. Decisões muito erráticas, que tornaram a corrida confusa quando não tinha de ser o caso.

    A decisão da etapa foi na chegada original. Chris Hamilton foi o primeiro a atacar, logo na base da subida final; Mattia Sobrero não tardou a fazer a sua aceleração e a 4,8 km do fim, Lennard Kämna atacou, deixou Sobrero para trás e foi rumo à vitória, completando o pleno de triunfos de etapa em Grandes Voltas na sua carreira.

    Atrás, era João Almeida a atacar quando faltava cerca de 1 km para ficarem definidos os tempos. Almeida teve resposta de Aleksandr Vlasov e o grupo do camisola vermelha não reagiu, de imediato. Já bem perto da meta improvisada, Roglic atacou, com Enric Mas e Remco Evenepoel a responderem ao princípio, até que o belga teve de encontrar o seu próprio ritmo, assim como o espanhol. Jonas Vingegaard mostrava fraqueza! Mas não foi contabilizada qualquer diferença, entre Remco, Mas e o Dinamarquês. Kuss quebrava um pouco mas continuava com a vermelha bem presa ao seu corpo.

    Almeida ganhou tempo a todos os rivais, ainda que menos de 10 segundos, mas deu para entrar no top 10, devido a uma quebra de Steff Cras.

    Sepp Kuss foi a grande surpresa da semana e parte para a segunda semana da Volta à Espanha com 2 minutos e 22 segundos para Remco Evenepoel, com o bellga a ter uma vantagem de 5 segundos para Roglic e de 11 para Vingegaard. João Almeida está a 3:55 do Estadounidense e a 12 apenas do colega de equipa Juan Ayuso. O outro colega de Almeida no top 10 é Marc Soler, a 43 segundos do camisola vermelha.

    A segunda semana da Vuelta abre com um contrarrelógio de 25 km, num dia em que se espera que Kuss perca tempo para os demais candidatos à geral.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.