Reportagem BnR | O maior evento de wrestling de sempre

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    Londres, Buckingham Palace, 11 horas da manhã. Sob o olhar atento do memorial da Rainha Victoria, as pessoas apinham-se para assistir a uma das maiores tradições da coroa inglesa, o render da guarda. No meio da multidão multicultural, algumas t-shirts da All Elite Wrestling (AEW) destacam-se.

    Não é surpresa. Afinal, é dia 27 de agosto e sabe-se que a AEW vendeu mais de 80.000 bilhetes para o evento All In, no Estádio de Wembley. Mas como é que uma empresa de wrestling ainda desconhecida por alguns fãs casuais, de repente, encheu um dos estádios mais emblemáticos do mundo? É tudo graças, primeiro, a Tony Khan.

    Fonte: Afonso Viana Santos / Bola na Rede

    1.NASCE UMA ALTERNATIVA

    Membro da poderosa família Khan, que é dona do Fulham FC e da equipa de NFL Jacksonville Jaguars, Tony sempre foi um fã de wrestling. Herdeiro de um império de negócios gigante, não hesitou em investir na criação de uma empresa de wrestling que sempre se assumiu como a maior alternativa à WWE. Mas tal só aconteceu devido a um grupo de lutadores conhecido como The Elite – daí provém o nome da empresa.

    Kenny Omega, Young Bucks (a equipa de Matt e Nick Jackson), Cody Rhodes e “Hangman” Adam Page já se haviam tornado estrelas demasiado grandes para o circuito independente, mas não viam com bons olhos ingressarem na WWE, que seria o habitual passo seguinte. Então, bastou estas mentes se juntarem à fortuna e astúcia de Khan e, a 1 de janeiro de 2019, nasceu a AEW.

    De repente, nomes como Chris Jericho, Jon Moxley (Dean Ambrose) e, mais tarde, Bryan Danielson e Adam Cole trocaram a WWE pela AEW; a empresa até conseguiu trazer CM Punk de volta. Tudo isto lhe deu credibilidade. Essa experiência e estatuto, aliado a uma panóplia de lutadores jovens e talentosos, permitiu que a AEW desde de cedo se destacasse, enchesse arenas e provasse que, apesar de a WWE ser intocável no seu estatuto de maior empresa de wrestling, muitos fãs precisavam de uma alternativa.

    Mesmo com uma pandemia e várias dores de crescimento, a AEW sempre se destacou pelos PPV recheados de qualidade e por não ter medo de arriscar – em contratações, em estipulações de combates e em eventos. Assim, após quatro anos, estava na hora de anunciar o maior risco de todos.

    2. NASCE O ALL IN

    A 5 de abril de 2023, foi anunciado o All In Wembley – a estreia da AEW na Europa e num estádio de futebol. Era a maior aposta de sempre da empresa, qual seria o seu retorno? A venda de bilhetes começou a 5 de maio, mas no dia 2, foi iniciada a pré-venda para quem se registasse. E os bilhetes começaram a voar.

    No primeiro dia, foram logo 36.000, batendo o recorde de bilhetes vendidos para um evento da AEW. No segundo dia de pré-venda, 43.000 bilhetes já tinham sido vendidos e 24 horas após a venda ao público em geral ter começado, já havia 60.000 bilhetes vendidos. Um sucesso estrondoso. Devem-se ter aberto garrafas de champanhe – a AEW está na melhor forma de sempre e, depois disto, prometia não parar.

    A 28 de julho e ainda sem qualquer combate anunciado(!), mais de 70.000 lugares em Wembley já estavam marcados. No final, foram vendidos 81.035 bilhetes, que se traduziram em mais de 10 milhões de dólares de receita.

    Desta forma, o AEW All In Wembley tornou-se no evento de wrestling que vendeu mais bilhetes em toda a história deste desporto!

    Agora, só faltava tocar a campainha.

    3. TUDO ELITE

    Entro no metro na estação de Charing Cross, em Trafalgar Square, às 14h15 – faltam pouco menos de três horas para começar a “Zero Hour”, que funciona como um “pre-show”. A carruagem já tem fãs que se dirigem a Wembley, mas só ao mudar para a Jubilee Line em Baker Street é que estes já preenchem a plataforma. Agora, são nove paragens até Wembley Park.

    Quando lá chego, é difícil passar para a plataforma, tantas são as pessoas que querem sair da estação – Wembley Park está, de resto, muito bem construída, já que, quando a abandonamos, somos confrontados pela vista idílica do Estádio de Wembley ao longe, acompanhada (neste caso) de um mar de pessoas e um cartaz eletrónico gigante a dar as boas-vindas ao evento.

    Rumando ao estádio, passo por um cartaz que (traduzido) dizia “Jesus morreu pelos vossos pecados. Abracem a sua fé!”. O senhor que o segurava não parava de falar, enquanto era ignorado por todos. Se calhar, não sabia que o main-event do All In foi entre dois devotos religiosos: um cristão e um judeu.

    Outra constante ao longo de todo o evento foram os “WOOO!” alusivos a Ric Flair, entoados por milhares de fãs. Mesmo nunca tendo estado na AEW, Ric Flair continua a ser “The Man”.

    Vendo já bandeiras de vários países, desde a Alemanha e Áustria, até à Argentina e ao Brasil, comecei a mostrar também a minha bandeira portuguesa, na esperança de encontrar outro compatriota no evento. Não aconteceu, mas encontrei outro fã que fez questão de me apertar a mão por estar a usar uma camisola do Christian Cage.

    Chegou a hora da abertura de portas e as filas de entrada já tinham proporções bíblicas, até era difícil de perceber onde começavam. Mas como estava acompanhado por um amigo portador de uma deficiência visual, pudemos ir para a fila das pessoas deficientes e entrámos num instante.

    O Estádio de Wembley é uma maravilha arquitetónica. Ao entrar, percebemos a sua imponência e sentimos o peso da história daquele local sagrado do desporto inglês, onde todos os anos se disputa a final da FA Cup, onde Inglaterra ganhou o Mundial de 1966 e, mais recentemente, onde a Itália venceu o Euro 2020.

    Os nossos lugares eram no anel mais baixo da bancada, à direita da zona de entrada dos lutadores. Com vista total para o ringue, sentámo-nos ao pé de franceses, italianos e, claro, ingleses que, pelo menos os que estavam à nossa frente, se dedicaram a embebedar desde o início do evento.

    Depois, vimos história.

    4. ALL IN

    Vimos provavelmente o último combate da carreira de CM Punk. Pouco antes de entrar em ação frente a Samoa Joe, teve uma altercação física nos bastidores com Jack Perry, que lutara na Zero Hour. Depois, ameaçou nem sequer lutar e ameaçou fisicamente Tony Khan, que uma semana após o evento, o despediu da empresa.

    Vimos um dos melhores combates de Tag Tem de sempre, entre os Young Bucks e os FTR, que terminaram com uma rivalidade que durava há mais de cinco anos.

    Vimos Chris Jericho a cantar com a sua banda Fozzy a sua música de entrada, Judas, antes de um aclamado combate frente ao “herói da casa”, Will Ospreay.

    Vimos lendas como Christian Cage, que fez equipa com Swerve Strickland, e Sting, que fez equipa com Darby Allin, enfrentarem-se num Tag Team Coffin Match.

    Vimos cara conhecidas como as de Jon Moxley e Claudio Castagnoli a participarem numa guerra de 10 homens que levou a ação até várias zonas do estádio, no chamado Stadium Stampede Match.

    Vimos também homenagens muito sentidas a Windham Rotunda “Bray Wyatt”, que falecera três dias antes.

    E vimos um main-event memorável entre Adam Cole e MJF, pelo AEW Championship deste último. Os dois têm protagonizado uma amizade e rivalidade maravilhosa e, antes de começarem a lutar, sentia-se a energia no ar de mais de 80 mil pessoas que sabiam estar a assistir e a participar num combate que ficará para sempre marcado na história do wrestling.

    No All In, não houve derrotados. Todos ganharam. Os lutadores, os diretores da empresa e sobretudo os fãs. Após os confettis que marcaram o fim do evento, Tony Khan veio até ao ringue e anunciou que vai repetir tudo de novo: a 25 de agosto de 2024, a AEW e o All In voltarão ao Estádio de Wembley.

    5. PÓS-EVENTO

    Tinha de sair rapidamente do Estádio se queria ter esperanças de apanhar um dos últimos metros do dia. Assim o fiz, mas a volta não seria tão fácil quanto a ida.

    A estação de Wembley Park estaria obviamente lutada. Pensei em ir para Wembley Central, a cerca de 2 km a pé do estádio. Mas as ruas já estavam a encher rumo a essa estação. A solução? Ir até North Wembley, que ficava a 2,5 km do estádio.

    A adrenalina lá ajudou a fazer essa caminhada noturna, e valeu a pena. A estação estava praticamente vazia, tirando algumas pessoas que tiveram a mesma ideia que nós.

    Nos dias seguintes, em Londres, ainda encontrei alguns fãs que estiveram no All In. Tal só comprovava o sucesso estrondoso que foi este evento.

    E o melhor de tudo, é que para o ano há mais.

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    Afonso Viana Santos
    Afonso Viana Santoshttp://www.bolanarede.pt
    Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora as táticas envolvidas no futebol europeu e americano e também é apaixonado por wrestling.