Surpresas antecipadas: O novo método dos regressos no Wrestling

    A duas semanas da Wrestlemania, Vince McMahon diz a Rollins num segmento do Raw que o 4 vezes campeão mundial ia efetivamente ter um combate contra um adversário à escolha de McMahon. O adversário seria apenas revelado na noite do combate. Até nesse momento quando parecia extremamente óbvio que aquela seria a estreia de Cody Rhodes, houve pessoas a especular sobre um possível regresso de Shane McMahon.

    Mas, no dia 4 de abril, primeira de duas noites da Wrestlemania, foi mesmo Cody Rhodes quem desceu a rampa. A reação foi fantástica logo quando a frase “Wrestling has more than one royal family” foi ouvida por todo o AT&T Stadium.

    Bray Wyatt estreou-se, recentemente, no Extreme Rules. Foi mais um nome que voltou muito graças ao afastamento de Vince McMahon da administração da WWE, uma vez que Wyatt tinha sido despedido em julho de 2021. Uma das mentes mais criativas do negócio, Wyatt criou duas personagens marcantes: o “eater of worlds”, uma espécie de líder de culto; e o “Fiend”, uma autêntica obra-prima de “storytelling”.

    A personagem consistia num um homem com duas faces. Uma mais infantil, inspirada na série “Blue’s Clues”, que apresentava a “Firefly Fun House”, um segmento em que Wyatt assumia comportamentos mais joviais e dotados de uma aparente ingenuidade e inocência. Mas durante estes segmentos, apareciam vestígios de uma outra entidade: o “Fiend”. Um lado que encarnava todo o ódio e mágoa de Bray Wyatt em relação a todos aqueles que se atravessaram no seu caminho, no passado.

    Esta personagem levou os fãs a analisar bem todas as suas ações e a prestar atenção a todos os seus segmentos, à procura de detalhes que ajudassem a prever a ação seguinte do “Fiend”, nomeadamente o efeito que tinha sobre aqueles que enfrentava. O “Fiend” só aparecia mesmo quando Bray Wyatt se cruzava com um antigo rival. Era uma personagem que assumia a missão de destruir psicologicamente os seus adversários.

    Foi todo este estilo de mensagens crípticas que levou muitos fãs a perceber que Wyatt podia estar prestes a regressar logo quando no Smackdown de 16 de setembro, a música “White Rabbit” dos Jefferson Airplane, começou a tocar durante um intervalo. As luzes apagaram-se, permitindo aos fãs ligar as lanternas dos telemóveis como é habitual nos concertos de música… e nas entradas de Bray Wyatt. Como se isso não bastasse as luzes da arena ficaram vermelhas no final da canção, cor característica do “Fiend”.

    O mistério foi-se adensando, sobretudo quando apareceu um código QR no RAW de 19 de setembro, onde aparecia o vídeo de um jogo da forca, no qual se respondia à pergunta “Who killed the World?”, referência à expressão que Wyatt usava na sua primeira personagem: “He’s got the whole World in his hands”. Estes sinais de continuidade, por si só, já eram cativantes, mas a atenção ao detalhe foi o melhor.

    Por exemplo, ao fazer “scan” num dos códigos, o espetador era conduzido a um pequeno vídeo que repetia a mensagem do jogo da forca. Mas o fascinante estava no próprio código HTML do vídeo. Uma das funções era executada duas vezes, mas com um resultado diferente distinguido pelas duas frases “No man is ever truly good” e “No man is ever truly evil”, uma referência à música de Aleister Black (atualmente na AEW como Malakai Black), quase como uma tentativa de criar dúvida nos fãs. Seria mesmo Bray Wyatt?

    Estes detalhes eram constantes, tinham de ser extraídos pelos espetadores, uma boa utilização de storytelling baseado em Alternate Reality Games, um modelo de videojogos em que a escolha do jogador influencia o desenvolvimento da história. O momento do antecipado regresso, da revelação sobre quem estava por trás da figura do “White Rabbit” era impacientemente aguardado pelos fãs.

    Tudo apontava para o Extreme Rules. Nesse momento, depois do “main event” e de parecer que o espetáculo ia chegar ao fim sem qualquer revelação, as luzes apagaram-se e começou a tocar uma música com a tal expressão “He´s got the whole World in his hands/He’s got the whole wide World in his hands.”

    Depois, no meio do público apareceram pessoas com disfarces das personagens dos segmentos da Firefly Fun House, desde o Ramblin Rabbit ao Mercy the Buzzard e por último, o próprio Fiend. Os fãs estavam em êxtase, mas o momento alto foi quando uma porta se abriu e saiu um homem mascarado. Quando destapa o rosto, é nada mais, nada menos que Bray Wyatt. A reação dos fãs foi alucinante, uma das maiores ovações de 2022.

    Ainda há muito mistério em relação ao que Wyatt vai fazer com esta nova personagem e até sobre aquilo em que a mesma consiste. Mas a apresentação do conceito tornou extremamente óbvio que era o regresso de Bray Wyatt, teria sido uma desilusão se fosse outra pessoa. E assim é que se vende um regresso baseado na antecipação, não apenas na surpresa.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.