Surpresas antecipadas: O novo método dos regressos no Wrestling

    O NOVO “KAYFABE”

    Um aspeto comum tanto no regresso de Cody Rhodes e de Bray Wyatt é que foram utilizados muitos elementos da vida real de ambos os lutadores como forma de criar expetativa nos fãs. No caso de Rhodes, através das várias notícias que circulavam sobre o futuro do “American Nightmare”, nomeadamente em relação a um eventual regresso à AEW.

    No caso de Wyatt, usou por mais do que uma vez, o código postal de Windham Lane, uma travessa da cidade de Corbin, no Kentucky. Windham como referência a Windham Rotunda, o verdadeiro nome de Bray Wyatt.

    A AEW é uma empresa muito habituada à transição de elementos da vida real para o ecrã. Vice-Presidentes Executivos como os Young Bucks e Kenny Omega são acusados por vários fãs e até por lendas da indústria como Jim Cornette de destruir a credibilidade do wrestling, de tornar demasiado óbvio que se trata de um desporto com resultados combinados, afastando a atenção de muitos apreciadores.

    A AEW tem vindo a demonstrar que este não é necessariamente o caso, gerando histórias como a perseguição do título mundial por “Hangman” Adam Page, na qual imensos fãs ficaram emocionalmente investidos. Outro exemplo disto ocorreu já este ano. Maxwell Jacob Friedman (MJF) é uma estrela em ascensão, um autêntico diamante em bruto, particularmente no microfone, mas também no ringue.

    A rivalidade entre MJF e CM Punk elevou muito o nova Iorquino que mostrou um lado mais empático da sua personagem, baseando as suas motivações na desilusão que sentiu quando CM Punk abandonou a WWE. Aqui, Maxwell falou bastante, até mesmo em televisão da “bidding war of 2024”. MJF usa esta expressão para se referir à luta entre a WWE e a AEW para ver quem fica com o jovem lutador, quando o seu contrato chegar ao fim.

    Depois deste conflito, MJF avançou para uma rivalidade com Wardlow, o seu guarda costas. Wardlow estava em brasa, os fãs super investidos no jovem lutador que mostrava que os fãs ainda podiam torcer por um gigante. Fez o melhor trabalho da carreira nessa rivalidade.

    Contudo, as coisas mudaram um dia antes do Double or Nothing, em que os dois lutadores se iam enfrentar num dos combates mais antecipados da noite. MJF não apareceu, sem aviso, numa sessão de “meet and greet” para promoção do evento e da marca.  Ganhou força o rumor de que MJF não iria aparecer no pay-per-view, por discordar com o salário que recebia em função da sua importância para a empresa.

    MJF acabou por aparecer e perdeu de forma clara, dando o momento que Wardlow precisava, ainda que diminuído pelos acontecimentos das 24 horas anteriores. Voltou a aparecer no Dynamite do dia 1 de junho. Fez uma promo, na qual criticou Tony Khan por pagar mais a talento vindo da WWE e a lutadores que de acordo com MJF, não se aproximam sequer do seu nível. Pediu, no ar, a Tony Khan que o despedisse.

    A promo aconteceu num espetáculo em que administradores executivos da Warner Bros. Discovery estavam a assistir para considerar o futuro dos direitos televisivos da AEW.

    MJF não foi referenciado na programação da AEW até ao dia 4 de setembro de 2022, dia do All Out, PPV da AEW. O merchandise de MJF foi retirado do site da AEW, assim como qualquer presença do lutador de 26 anos nos genéricos dos programas televisivos da All Elite.

    Primeiro combate do All Out, o “Casino Ladder Match”, por uma hipótese pelo título mundial. Um conjunto de homens mascarados ataca todos os envolvidos no combate. Revelaram-se como sendo um grupo de lutadores liderado por Stokely Hathaway. Chegou o momento de entrar o “Joker”, o participante mistério do combate.

    Ao som da “Sympathy for the Devil” dos Rolling Stones, um homem mascarado desce a rampa e Hathaway entrega-lhe a ficha de póquer que simboliza a vitória no combate. A revelação não foi feita aí, mas no fim do “main event”. CM Punk derrotou Jon Moxley para recuperar o título mundial. As luzes apagam-se. Passa na arena o áudio de uma suposta chamada de Tony Khan em que oferece um valor que se entende ser avultado para que a pessoa em questão regresse à empresa, uma vez que é muito importante para os fãs.

    Passa um vídeo de uma promo de CM Punk em que virou “heel” na Ring of Honor, uma promo que em conjunto com a “pipebomb” de Punk na WWE em 2011, foram as duas principais referências para o discurso de MJF no dia 1 de junho. Na promo da ROH, Punk diz que a maior coisa que o Diabo fez foi levar todos a acreditar que não existia. Corte para um fundo negro onde aparece o homem mascarado de costas. Tira a mesma, diz a frase “And I am the Devil… Himself”.

    A ovação dos fãs foi crescente à medida que se iam apercebendo de que MJF estava de volta. Apesar das acusações de falta de profissionalismo, da falta de referências em televisão, MJF nunca deixou de ter o público nas mãos. A insatisfação de MJF era verdadeira, assim como a pressão feita através da ausência no “meet and greet”. A AEW foi capaz de utilizar estes elementos em prol de uma história e de uma reação que foi das maiores em 2022.

    O importante num regresso (e no Wrestling em geral) não está apenas no efeito surpresa, mas na execução. Se o resultado é esperado, tem de se fazer os fãs desejar o resultado. Já dizia Roddy Piper, quando pensam que sabem as respostas, tem de se mudar as perguntas.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.