
Num ano em que a Fórmula 1 tem assistido a lutas pela vitória com bastante regularidade, contrariando tudo aquilo que se tinha visto em 2023, era algo estranho que ainda não tivéssemos tido momentos como o que tivemos no último fim de semana no Grande Prémio da Áustria. Max Verstappen e Lando Norris estavam ambos a lutar na frente, bateram, furaram e abriram a porta da vitória a George Russell.
Em primeiro lugar, importa dizer que a luta só aconteceu porque a Red Bull cometeu erros que permitiram que Norris se aproximasse. Verstappen tinha conseguido uma pole position bastante autoritária e o primeiro stint da corrida estava ao nível de 2023. O stint com pneus duros já permitiu ao piloto da McLaren ganhar um pouco de tempo, mas não seria o suficiente para ameaçar se a Red Bull não tivesse tido uma paragem lenta: 6.5 segundos que fizeram com que Lando saísse da box (parou na mesma volta) perto de Max, tendo chegado ao DRS em pouco tempo. Foi aí que começou a luta, dividida em quatro momentos.
Verstappen já tinha tido uma amostra, pela corrida sprint, da capacidade de Norris lançar o carro e conseguir travar de modo a completar a ultrapassagem. No Grande Prémio, na primeira tentativa, Max que viu Lando ia lançar-se novamente por dentro e reagiu, indo com o seu Red Bull para a linha interior, algo que motivou as queixas do seu adversário. De facto, o neerlandês tinha-se mexido na zona de travagem, algo que as regras da Fórmula 1 não permitem, embora não tenha sido tomada qualquer ação.
No segundo momento, Norris já vinha condicionado com uma bandeira preta e branca por ter passado três vezes para lá dos limites de pista (mais uma e seria penalizado). Desta vez, Norris espera mais uns instantes, vê onde é que Max vai defender, vem para a zona interior e Verstappen também tem um ligeiro movimento para dentro. Seja como for, Norris trava tarde e consegue meter o carro para ultrapassar. O problema para Norris é que não conseguiu travar o carro antes de sair de pista (Verstappen, por outro lado, quase que pára o carro para conseguir manter-se na pista), sendo obrigado a devolver a posição (algo que fez) e incorrendo na sua quarta infração de limites de pista, algo que o iria levar a ser penalizado.
No terceiro momento, Verstappen não se mexe na zona de travagem, Norris tenta ultrapassar por dentro novamente e chega ao vértice da curva por diante do campeão do mundo. Só que o piloto da Red Bull mantém o pé no acelerador e sai de pista para recuperar a posição, alegando que foi empurrado para fora da mesma (na minha opinião, não foi e resta saber se este momento seria investigado, mas depois chegou o quarto e decisivo momento).
Sempre na curva 3, desta vez Verstappen protege o meio da estrada e Norris vai para a linha exterior, onde pode preparar a saída da curva e ter DRS para ultrapassar a seguir. Verstappen também se começa a mexer para a linha exterior, porque ele próprio quer sair bem da curva, mas encosta-se demasiado e ambos acabam por tocar-se. Norris tinha um pouco mais de espaço à esquerda, mas teria de subir o corretor, algo que não queria fazer para não desequilibrar o carro. Com o toque, ambos furaram (Verstappen voltou à corrida e acabou em quinto, mesmo com uma penalização de dez segundos, enquanto Norris abandonou).
Nas reações à comunicação social, Norris estava insatisfeito pela forma como Verstappen tinha lutado em pista com ele, sentindo que o neerlandês não lhe mostrou o respeito em pista que o britânico tinha tentado mostrar. E aqui consigo perceber os dois lados. Verstappen já não era chamado a duelos tão intensos há bastante tempo e aqui mostrou alguma dureza para com o seu oponente. Contudo, apesar de Verstappen ser seu amigo, Norris está a perceber em primeira mão que Verstappen é implacável nos duelos roda com roda.
Numa altura em que está a ser questionada a amizade entre ambos, os pilotos não têm de deixar de ser amigos fora de pista, mas, numa altura em que se perspetiva que tenham muitas mais lutas em pista, é sobretudo Norris que tem de se ajustar às circunstâncias. No ano passado, em Silverstone (palco do próximo Grande Prémio), Norris liderava e não defendeu de maneira nenhuma a ultrapassagem de Max Verstappen. Este ano, imagino que a história seja bem diferente (não desejando, obviamente, um incidente como o que aconteceu em 2021 com Verstappen e Lewis Hamilton).