O Vice Campeão Europeu que poucos conhecem – Entrevista a Bruno Magalhães

BnR: Em França, aconteceu, recentemente, o Rally Jeunes, uma prova organizada pela FFSA (Federação Francesa de Automobilismo), que já levou à descoberta de muito bons pilotos, sendo Loeb e Ogier os expoentes máximos. Achas que era um trabalho que a FPAK tinha que fazer em Portugal?

BM: É normal que em França existam mais iniciativas porque eles têm os construtores lá, apesar de neste momento ser a M-Sport a apoiar, na altura eram a Peugeot e a Citroen que apoiavam. Obviamente que acho que devia haver algo mais para projectar pilotos para o futuro e por isso é que nós, em Portugal, neste momento, não temos muitos pilotos jovens, porque não há apoios. Acho que há uma grande falha de comunicação ao nível dos ralis, nos meios de comunicação mais generalistas, porque nós vemos pessoas noutros desportos que vão disputar um campeonato da Europa, seja no Atletismo, no Remo, no Judo ou no que for, e são alvo de atenção por parte dos meios de comunicação e nós, que estivemos num campeonato europeu, numa modalidade que está ligada ao mundo automóvel, e pouco ou nada foi falado. O mundo automóvel é um dos principais sectores de actividade em Portugal, tudo o que é ligado aos automóveis tem muita força no orçamento. Como é que uma participação num campeonato tão forte, que envolve tantos meios, com um acompanhamento da Eurosport, não é mais mediática? Só senti uma abordagem diferente quando fui para a última prova, ainda com a possibilidade de ser campeão, porque, de resto, nunca vi nas televisões que tínhamos ido ao pódio, ou algo parecido. Faz-me muita confusão como é que não se olha para isto. Acho que é preciso fazer um trabalho de fundo, mas não sou eu, como desportista, que o tenho de fazer, tem de ser a FPAK a trabalhar isto, tem de se impor perante os meios generalistas e mostrar que o mundo automóvel em Portugal é importante, talvez em conjunto com as próprias marcas. O que se passou este ano não é normal, uma pessoa anda à frente de um campeonato da Europa e ninguém liga, só as pessoas que gostam, e, claro, é também disto que advém a dificuldade de arranjar patrocínios. Eu tenho retorno, porque só a Eurosport a transmitir para todo o mundo permite isso, mas podíamos ter muito mais e sermos conhecidos por mais gente que não só as pessoas que gostam das corridas. Por exemplo, eu não percebo nada de Judo, mas sei quem é a Telma Monteiro, tal como todos nós sabemos. Alguém trabalhou para que a Telma, fruto dos seus resultados, seja um nome conhecido por todos. Mesmo noutras modalidades isto acontece, por exemplo, no Ténis, não temos ninguém a liderar rankings, mas todas as semanas temos notícias do jogador X e Y, basta entrar no top100. E um português que está à frente do Europeu? Ninguém quer saber e isto faz-me confusão.

BnR: Achas que o ERC anda a perder influência nos últimos anos, comparativamente com o IRC, tendo, inclusive, perdido os directos?

BM: O IRC – competição que deu origem ao ERC atual – antes era mais forte. As marcas estavam envolvidas e havia muito dinheiro. Tínhamos pilotos que estão agora a discutir provas e títulos no WRC e nós, na altura, fomos vítimas disto. Porque estes pilotos de topo já tinham seis ou sete anos a fazer ralis com duas passagens e eu vinha com os vícios de Portugal. Agora, temos os pilotos locais, que conhecem o terreno como ninguém e que temos de contar com eles, mesmo que sejam nomes desconhecidos que ninguém ouviu falar, porque eles conhecem bem o rali. É um campeonato forte, mas tem menos força que o IRC.

Todos os anos milhares de pessoas vão para as estradas na prova do WRC Fonte: Rali de Portugal
Todos os anos, milhares de pessoas vão para as estradas para assistir ao Rali de Portugal
Fonte: Rali de Portugal

BnR: Que ideia tens da importância dos ralis em Portugal e do interesse dos portugueses pela modalidade?

BM: Acho que os portugueses gostam de ralis e é por isso que o Rali de Portugal tem muitos milhares de pessoas nas estradas, mas se calhar também já teve mais adeptos, porque a modalidade também era dada a conhecer de outra maneira pelas televisões e jornais generalistas. Em Portugal, as pessoas são apaixonados por automóveis por natureza, por isso, acho que se recuperarmos a atenção, podemos recuperar rapidamente o interesse das pessoas.

BnR: Falaste nas TV’s generalistas… Hoje em dia, só aparecem ralis nas televisões portuguesas durante o Rali de Portugal ou devido a acidentes graves. O que mudou nestes 20 anos para antes termos notícias do Campeonato Nacional de Ralis e agora pouco ou nada se fale?

BM: Para começar, as marcas deixaram de se preocupar com o desporto automóvel. Antes, quem estava à frente das marcas gostava de automóveis. Agora, quem está à frente já não tem paixão, é igual ser uma marca de automóveis ou de frigoríficos, as pessoas olham para números. E como só olham para números, muitas decisões não são tomadas e muitos projectos não são apoiados. Antigamente, quem trabalhava na área estava lá 20 ou 30 anos e era daquela marca, havia paixão. Agora, estão sempre a mudar e a pessoa tanto trabalha nos carros, como nos frigoríficos, como noutra coisa qualquer, o que levou a esta troca da paixão pelos números. Quem está nas marcas deveria ter prazer ao criar um Troféu, ir ver os ralis, que era o que se passava antigamente. Antigamente, criava-se um Troféu e iam todos ver o rali durante o fim de semana, era uma festa. Acho que o que falta é paixão e não dinheiro.

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Francisca Carvalho
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Aos 20 anos, a Francisca gosta de dar pontapés na bola, mas evita os pontapés na gramática. É uma confessa adepta do Sporting e grande fã de desporto, em especial futebol e ténis, embora não saiba o suficiente para escrever sobre qualquer um deles.                                                                                                                                                 A Francisca não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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