É com particular orgulho que faço a primeira publicação relativa a Futebol de Praia no Bola na Rede. Bem sei que esta não é uma modalidade consensual entre os amantes do desporto, por ser excessivamente direcionada para o espetáculo, mas é importante que se tenha noção da enorme evolução que esta sofreu ao longo dos tempos. No meu caso em particular, sou do tempo em que Madjer – ver a sua entrevista ao Bola na Rede AQUI – estava no início de carreira e que fazia com o luso-brasileiro Alan uma dupla absolutamente terrível no ataque. Na defesa, lembro-me bem das enormes defesas do guarda-redes Zé Miguel (que até há bem pouco tempo era o selecionador nacional), da raça de Nunes e do enorme espírito de liderança de Hernâni. Este foi o 5 inicial que marcou a minha juventude e que me fez vibrar, durante o verão, com esta modalidade. Tantas foram as vezes em que os dias de praia foram substituídos por uma bela tarde a ver alguns duelos épicos com a França de Cantona, a Espanha de Amarelle ou o Brasil de Jorginho.
No entanto, os tempos mudaram, a modalidade profissionalizou-se e os intervenientes envelheceram. No futebol de praia atual, Portugal já não é a única seleção a fazer concorrência ao Brasil como grandes potências do desporto. Os últimos anos viram a Espanha crescer (já sem o lendário Amarelle) e uma surpreende Rússia, que até é bi-campeã do mundo de Futebol de Praia. Mudaram-se os tempos, mas a essência da modalidade não mudou. Portugal viu crescer Belchior, formou talentos como Jordan, Torres, Bruno Novo ou José Maria e soube acolher Alan e Madjer na sua equipa como elementos mais experientes do seu plantel.
Nesta edição do Mundialito de Futebol de Praia, que se disputa em Espinho na Praia da Baía, Portugal entra em campo frente às seleções da Hungria, Japão e E.U.A., fator que me faz duvidar do verdadeiro objetivo dos responsáveis da organização. Antigamente, entravam em campo as 4 melhores seleções do mundo. Neste caso, para além de Portugal, teria de lá estar o Brasil, a Espanha e a Rússia. Mas não. Foram escolhidas 3 seleções muito inferiores à nossa, o que me faz entender que este Mundialito foi organizado apenas para dar motivação aos jogadores portugueses e disfarçar quaisquer tipo de fragilidades que a nossa equipa possa ter, quando falta apenas um ano para a organização do Mundial da FIFA, cá em Portugal.
Sem divagar muito mais sobre este início de Mundialito, Portugal bateu, como se previa, sem dificuldades a Hungria por 5-0, com 3 golos de Belchior, 1 de Jordan e outro de Bruno Novo. Portugal apresentou-se com Nuno Hidalgo na baliza (onde anda Paulo Graça?), Torres e Jordan mais recuados, e Madjer no apoio ao único avançado, Belchior. Em destaque na partida, esteve, obviamente Belchior, que, fruto do envelhecimento de Madjer, se assume cada vez mais como a grande figura desta equipa. Os 3 golos são apenas uma amostra das potencialidades que ele oferece à equipa de Mário Narciso. Numa partida frente a uma equipa praticamente amadora, que se estreava num Mundialito de Futebol de Praia, pouca história há para contar. Portugal dominou por completo, deu espetáculo e soube gerir a partida a seu gosto.
Não termino este texto sem antes deixar a pergunta para os dirigentes da FPF: se não querem matar a modalidade, por que raio é que foram estas as seleções escolhidas para disputar a competição? Nós, portugueses, gostamos de ganhar. Mas sem facilitismos.