Pequenos ajustes numa solução vencedora

    A discussão sobre os modelos competitivos que mais favorecem determinada modalidade é antiga e dificilmente consensual. A solução mais clássica costuma ser uma fase regular, mas temos também os playoffs ou algumas soluções mais criativas como uma segunda fase entre as seis melhores equipas, entre muitas outras.

    Neste artigo, pretendo refletir sobre qual a solução mais indicada para o campeonato português de hóquei em patins. Assim, irei ter em conta algumas vertentes que me parecem essenciais para que esta análise possa ser equilibrada e, dentro do possível, concreta.

    A HISTÓRIA TAMBÉM JOGA

    Em primeiro lugar, o histórico da modalidade. O que com isto quer dizer é perceber quais os modelos competitivos mais utilizados no hóquei em patins, seja em Portugal e no Estrangeiro.

    No que a Portugal diz respeito, o sistema utilizado é o de uma fase regular com duas voltas. O campeonato é composto por 14 equipas. Nos últimos anos, a única alteração que se registou foi o número de equipas. Em 2013-2014, ano em que o Valongo se sagrou campeão nacional, a liga era composta por 16 equipas. No último ano, a Federação Portuguesa de Patinagem chegou a ponderar uma segunda volta após a fase regular, mas tal não chegou a avançar.

    Fonte: FPP

    Quando olhamos para os campeonatos de maior destaque fora de portas, existem dois cenários. Em Espanha, o modelo utilizado é exatamente o mesmo. Por sua vez, em Itália a realidade é outra. Atualmente, o modelo utilizado é o de uma fase regular seguida de playoffs.

    INCERTEZA É PEÇA CHAVE

    O campeonato português é inúmeras vezes apelidado como o melhor do mundo. A verdade é que os dados estatísticos comprovam essa mesma afirmação. Nos últimos 10 anos, tivemos quatro campeões diferentes (Porto, Sporting, Benfica e Valongo) e inúmeros outsiders que se conseguiram intrometer na luta, nomeadamente a Oliveirense, a Juventude de Viana, entre outros clubes.

    Se nos quisermos comparar com o país vizinho, vemos que o Barcelona é o crónico campeão. Os culés triunfaram em oito das últimas dez edições do campeonato espanhol.

    Já em território italiano, houve quatro campeões na última década.

    Podemos então concluir que a incerteza relativamente ao vencedor é muito maior em Portugal e Itália do que em Espanha.

    SUCESSO FORA DE PORTAS

    Um outro aspeto que penso ser essencial termos em conta é o sucesso fora de portas. No hóquei em patins, existem duas grandes competições: a Liga Europeia e a World Skate Europe Cup, também conhecida como taça CERS.

    Fonte: Sporting CP

    Se olharmos para os vencedores da Liga Europeia nos últimos dez anos, vemos que sete foram espanhóis (quatro vezes o Barcelona, duas o Liceo e uma o Reus) e três foram portugueses (O SL Benfica por duas vezes e o Sporting por uma). No que aos finalistas concerne, ligeira vantagem para as cores portuguesas: seis vezes o finalista vencido foi português e por quatro foi espanhol.

    Relativamente à Taça CERS, existe uma maior diversidade. Na última década, houve quatro campeões portugueses (Sporting, SL Benfica e por duas vezes o OC Barcelos), cinco espanhóis e um italiano. Sobre os finalistas vencidos, temos dois portugueses (HC Braga e OC Barcelos), três italianos e cinco espanhóis.

    Perante estes números, podemos concluir que as equipas espanholas têm um tremendo sucesso em competições internacionais. Contudo, as equipas portuguesas, sobretudo num passado mais recentes, têm vindo a melhorar as suas prestações.

    Nesta análise, poderíamos também incluir o desempenho das seleções nacionais dos respetivos países. Nessa vertente, e olhando apenas para os últimos anos, Portugal conquistou um Campeonato da Europa e quebrou um jejum de mais de 16 anos com a recente conquista do Campeonato do Mundo.

    LIMAR UMA BOA SOLUÇÃO

    Assim, e perante tudo aquilo que referi anteriormente, penso que a solução que se encontra atualmente em vigor é a mais correta. A competitividade que o campeonato português apresenta, bem como o sucesso dos nossos clubes e seleções no estrangeiro comprova isso mesmo.

    O número de estrangeiros de tremenda qualidade que atuam na nossa liga e que são titulares das suas seleções é outro indicador que demonstra a qualidade da nossa liga. Relativamente a este tema, a FPP tomou recentemente uma solução que impõe um mínimo de portugueses nas fichas de jogo.

    Fonte: World Skate Europe RinkHockey

    Esta é também uma forma de limitar um número de estrangeiros no campeonato português. Embora, na minha opinião, não me pareça que tenhamos um excesso de jogadores estrangeiro a atuar em Portugal. Nomes como Platero, Ordóñez, Cocco, entre outros, só acrescentam qualidade à nossa liga. No entanto, esta mesma regra não é assim tão limitativa e no contexto atual apenas o Sporting teria de diminuir o número de estrangeiros.

    Em suma, e voltando à discussão sobre qual o modelo competitivo que mais favorece a competitividade e, consequentemente, o espetáculo, parece-me que a solução encontrada é bastante interessante. A competitividade do campeonato português permite que a fase regular seja uma boa solução no que ao modelo competitivo diz respeito. Se olharmos para os diferentes vencedores dos últimos anos, vemos isso mesmo. Na última época, por exemplo, os três grandes e também a Oliveirense perderam pontos em inúmeras partidas com as ditas equipas pequenas. A adoção de playoffs ou de uma segunda fase poderia, na minha opinião, desvalorizar o campeonato em si e, talvez o fator mais importante, prejudicar a prestação das equipas portuguesas no estrangeiro.

    Fonte: FPP

    Termino este artigo com uma frase que Matías Platero e Toni Pérez, jogadores do Sporting, referiram numa recente entrevista afirmando que é mais difícil ser campeão em Portugal do que ganhar a Liga Europeia. Penso que é bem ilustrativa do sucesso do nosso campeonato.

     

    Foto de Capa: FPP
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    Do ciclismo ao futebol, passando pelo futsal ou o andebol, quase todos os desportos apaixonam o Duarte. Mas a sua especialidade é o ténis, modalidade que praticou durante 9 anos.                                                                                                                                                 O Duarte escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.