Novas modalidades dos Jogos Olímpicos para 2028: Merecem o lugar olímpico?

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    No dia 16 de outubro, o Comité Olímpico Internacional (COI) aprovou de forma quase unânime a integração de cinco novas modalidades para os Jogos Olímpicos: lacrosse, flag-football, squash, críquete e basebol/softbol. A proposta foi aprovada de forma quase unânime, com apenas dois votos contra.

    Deste grupo, as estreias são o squash e o flag-football, modalidades apreciadas sobretudos nos Estados Unidos. O críquete marcou presença nos Jogos Olímpicos de Paris… em 1900, portanto é um regresso com mais de 100 anos de intervalo! O lacrosse também acaba com mais de um século de ausência, tendo integrado os programas de St. Louis 1904 e Londres 1908.

    O basebol/softbol regressa depois de 14 presenças, a última das quais em Tóquio 2020. Com o boxe ainda em dúvida devido à ausência de um órgão tutelar reconhecido pelo COI, já se sabe que o programa olímpico de Los Angeles 2028 contará com um número recorde de 35 modalidades.

    5 DESPORTOS MAS SÃO DESPORTOS OLÍMPICOS?

    Destas modalidades, a ausência do críquete por mais de 100 anos é efetivamente o mais chocante, visto a sua popularidade. É o desporto-rei de um dos países mais populosos do Mundo: a Índia, bem como do Paquistão e do Bangladesh. De resto, é extremamente popular noutros países asiáticos, como o Sri Lanka e os Emirados Árabes Unidos, assim como na Austrália e, naturalmente, em Inglaterra (local de origem desta modalidade).

    O Campeonato do Mundo de Críquete é um dos eventos desportivos mais vistos do Mundo, com audiências totais na casa dos mil milhões de espetadores, não muito distante do Campeonato do Mundo de Futebol. Portanto, será seguro dizer que o críquete não vai deixar de ser modalidade olímpica tão cedo e o seu lugar a este nível, é mais do que justificado.

    O basebol/softbol não é um sucesso tão garantido. Em termos de popularidade, é uma modalidade célebre nos Estados Unidos, bem como na América Latina, com nações como Cuba, República Dominicana e Venezuela a destacarem-se também na modalidade. Porto Rico (compete independentemente dos Estados Unidos) e o Japão são igualmente nações predominantes, com os nipónicos a sagrarem-se campeões do Mundo de basebol este ano, conquistando o terceiro título mundial, depois de levantarem o troféu em 2006 e em 2009. São os recordistas.

    É um desporto popular na Austrália, pelo que a presença em Brisbane 2032 é provável, mas a não ser que a modalidade, sobretudo o softbol, se expanda para a Europa,  pode continuar a ser uma presença inconsistente nos Jogos Olímpicos.

    O lacrosse também é praticado numa panóplia de países, 78 de acordo com Mark Donahue no Lacrosse All Stars, isto em 2015. É uma modalidade extremamente popular nos EUA e no Canadá mas é um desporto federado em todos os continentes, nomeadamente no Uganda, em Portugal, na Austrália e na Índia. O Mundial de 2023, em San Diego foi conquistado pela seleção anfitriã numa final frente ao Canadá.

    O primeiro Campeonato do Mundo foi em 1967 e nos seus 56 anos de existência, apenas EUA e Canadá levantaram o troféu com a Austrália a ter sido a única nação para além das duas americanas, a chegar à final. Apesar desta hegemonia, o lacrosse é um desporto em claro crescimento, com o Mundial 2023 a contar com um número recorde de 30 seleções. Desta forma, o crescimento da modalidade justifica que se torne uma modalidade olímpica, ainda para mais em Los Angeles, sendo que é o desporto mais antigo dos EUA. É mais incerto, todavia, se continuará a ser uma aposta no futuro, mas é provável que o Comité Olímpico Australiano tenho vontade de manter o lacrosse no programa para Melbourne 2032.

    AS ESTREIAS

    Agora o squash e o flag-football, para esses a estreia é mesmo absoluta.

    O squash surgiu no século XIX, em 1830, em Inglaterra, mas o coração do desporto não reside unicamente em Inglaterra. Para isso, temos de nos deslocar aos EUA, onde a prática da modalidade vale mesmo a atribuição de bolsas aos estudantes universitários, nomeadamente em instituições que integrem a Ivy League. A US Squash (órgão tutelar do squash no país) é uma das mais organizações mais respeitadas no Mundo do squash

    Paquistão, Austrália e Egito são outras das grandes potências do desporto. O Campeonato do Mundo que decorreu em maio deste ano contou com 64 atletas provenientes de 20 países diferentes, incluindo Portugal que se fez representar através de Rui Soares. Se formos a juntar o torneio feminino, o valor das nações já ultrapassa as 20. Será interessante ver como funcionará o processo de adesão em 2028 para perceber se esta estreia terá uma repetição em edições posteriores dos Jogos Olímpicos. Neste momento, o campeão e a campeã do Mundo são do Egito: Ali Farag e Nour el Sherbini.

    O menos conhecido destes desportos é sem sombra de dúvidas, o Flag Football. É uma variante do futebol americano em que o objetivo passa por tentar levar a bola à “end zone” da equipa adversária, como na versão original do Futebol Americano, mas com uma adenda: vão embora os tackles e ao invés, a posse de bola pode ser (não apenas, mas também) ganha ao retirar uma bandeira pendurada nas costas dos jogadores da equipa adversária.

    Porquê esta alteração? Para combater a epidemia (já se pode usar esta palavra outra vez, certo?) de traumatismos cranianos que assola a NFL, em particular. E a verdade é que o aspeto técnico da modalidade é bem capaz de ser mais apelativo do que o seu aspeto físico. Isto, porque os dados da Federação Internacional de Futebol Americano (IAFA) dizem muito sobre a evolução do flag football no Mundo.

    Em março deste ano, a IAFA estima que existam 20 milhões de jogadores de flag football espalhados em 100 países por todo o Mundo. No Japão, meio milhão de alunos em escolas primárias têm a possibilidade de jogar , no México apareceram em 2021, 100 mil novos jogadores. O México, aliás, superou os EUA nos World Games femininos, o que mostra que pode ser uma forma de futebol americano, mas não se cinge, de forma alguma, aos Estados Unidos. Vietname e Papua Nova Guiné são outros dois países onde o flag football está a crescer. Em 2024, os Campeonatos do Mundo vão ter lugar na Finlândia e contar com 24 equipas, tanto no torneio masculino como feminino, um valor recorde. Desta forma, 2028 será um ano em grande para o flag football e apesar de ser uma modalidade muito jovem, os sinais para a sua continuidade em Melbourne são positivos (ainda que muito embrionários).

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.