Suécia 1-1 Canadá (2-3 GP): Final de antologia dá ouro inédito ao Canadá

    A CRÓNICA: QUANDO UMA MEDALHA DE OURO NÃO É SUFICIENTE

    Dezasseis dias depois do pontapé de saída para o torneio de Futebol feminino, Suécia e Canadá alinharam à partida para a final, na disputa pelo ouro olímpico. Alterado à última hora de Tóquio para Yokohama, de modo a evitar temperaturas diurnas elevadas e contornar o mau estado do relvado da principal arena olímpica, o jogo iria marcar a estreia de uma das equipas enquanto campeã olímpica, depois de Suécia e Canadá terem conquistado prata e bronze nos Jogos Olímpicos de 2016, respectivamente.

    A Suécia vinha de uma campanha imaculada, com vitórias convincentes sobre a natural candidata (e medalhista de bronze) selecção americana, a Austrália e a Nova Zelândia, na fase de grupos, juntando a isso vitórias tranquilas sobre Japão e novamente Austrália, nos quartos de final e meias finais da competição, respectivamente. Já a selecção do Canadá, vista como a eterna promessa do futebol internacional feminino, teve caminho mais complicado até à final, conseguindo cinco pontos no Grupo E composto também por Chile, Japão e Grã-Bretanha, e obtendo vitórias marginais sobre Brasil (4-3 nos penáltis), nos “quartos”, e a eterna rival dos Estados Unidos (1-0), nas “meias”.

    Esperava-se, por isso, algum favoritismo inicial para a selecção sueca e um confronto de ataque contra defesa: com sete golos marcados entre as duas jogadoras, Stina Blackstenius e Fridolina Rolfö apontavam a mira à baliza canadiana, que por sua vez chegava à final com apenas três golos sofridos em cinco jogos disputados.

    O jogo começou algo “partido”, com um canto para cada lado a abrir os primeiros dez minutos e poucas oportunidades claras de golo. Aos 16 minutos, oportunidade para Rolfö com um remate cruzado, bem defendido pela guarda-redes Stephanie Labbé. Feito o aviso, o Canadá tentava recuperar algum controlo da partida, com o jogo a meio campo a passar sobretudo por Christine Sinclair na frente do diamante composto também por Desiree Scott, Jessie Fleming e Quinn.

    Quinn, apesar de alguns furos abaixo nos primeiros minutos de jogo, com várias perdas de bola e pouca iniciativa ofensiva, havia já feito história pessoal e colectiva ao tornar-se a primeira atleta transgénero e não-binário dos Jogos Olímpicos, e em particular numa final.

    Nesta altura, a iniciativa ofensiva era toda da Suécia que, aos 32 minutos, apelava uma mão na bola de Quinn à entrada da área defensiva e logo depois chegava ao primeiro golo do jogo. Nova perda de bola de Quinn a meio campo, desarmada pela incansável capitã sueca, Caroline Seger, e que Rolfö, Kosovare Asllani e Blackstenius aproveitaram da melhor forma numa saída rápida pela direita e finalização irrepreensível da então melhor marcadora sueca na competição.

    Vantagem justa para a Suécia a fechar o primeiro tempo e mais um passo em direcção à cobiçada medalha de ouro. O Canadá ainda tentaria responder antes do fim do primeiro tempo, mas sem sucesso. A experiente Suécia mostrava-se confiante e fechava a primeira parte novamente com mais posse de bola, sobretudo no meio campo ofensivo.

    Mais vontade e mais bola para a equipa de Priestman nos primeiros minutos da segunda parte e duas boas oportunidades pela direita do ataque a prenunciar um Canadá à procura do golo. A definição de jogo não foi a melhor durante os primeiros 15 minutos do segundo tempo, com várias perdas de bola de parte a parte mas com Grosso e Asllani a destacarem-se de cada lado.

    Nova substituição canadiana aos 63 minutos e o impacto de Rose fez-se sentir quase de imediato: jogada pela esquerda iniciada pela substituta, cruzamento de Allysha Chapman e penálti cometido pela central Amanda Ilestedt sobre Sinclair, confirmado pelo VAR. Fleming, chamada à conversão, bate sem hipótese para a direita da veterana guarda-redes Hedvig Lindahl e faz o 1-1, deixando a final completamente aberta uma vez mais.

    Após sete minutos de um jogo dividido, mas sobretudo de “água na fervura” por parte do Canadá, tripla substituição na Suécia com Jonna Andersson, Lina Hurtig e Hanna Bennison a renderem Magdalena Eriksson, Jakobsson e Angeldahl, numa tentativa de reassumir algum controlo a meio campo. De imediato, a Suécia cresceu no jogo, conseguindo uma excelente oportunidade para se colocar de novo na dianteira aos 78 minutos, mas o remate de Rolfö saiu centímetros ao lado do poste direito de Labbé.

    Apesar de algumas investidas ofensivas de parte a parte, entre elas um remate de Asllani cortado em cima da linha pela central Kadeisha Buchanan aos 88 minutos, o jogo parecia mesmo destinado ao prolongamento e no fim do tempo regulamentar não havia decisão.

    Os primeiros minutos do prolongamento continuaram a mostrar duas selecções muito equiparadas. Enquanto a defesa Jayde Riviere rendia Chapman na defesa do Canadá e a equipa de vermelho conseguia duas boas chances de golo através de remates perigosos de Rose e Grosso, a Suécia respondia por Rolfö e Blackstenius, as duas unidades mais inconformadas do ataque da equipa de amarelo. A terminar a primeira parte do prolongamento, remate perigoso de longe de Andersson por cima da barra de Labbé.

    A Suécia entrou mais determinada a evitar os penáltis, acumulando cantos e remates bloqueados nos primeiros minutos do segundo tempo extra. No entanto, a primeira grande oportunidade de golo foi mesmo para o Canadá, aos 112 minutos. Grande jogada individual de Rose sobre Björn na direita, cruzamento teleguiado e correspondido por um bom cabeceamento de Huitema, com este a sair ligeiramente ao lado do poste esquerdo de Lindahl. Pouco depois, a Suécia apelou um penálti por mão na bola, não concedido por Pustovoitova, e aos 117 minutos teve oportunidade flagrante de golo após cruzamento da esquerda de Andersson e uma carambola na pequena área, que Bennison não conseguiu aproveitar.

    Depois de mais um desperdício sueco aos 118 minutos, desta feita por Hurtig, que se viu isolada no centro da área canadiana, mas cabeceou para fora, nova ronda de substituições de parte a parte – Emma Kullberg rendeu Ilestedt na defesa da Suécia enquanto Shelina Zadorsky entrou para o lugar de Scott. Alterações possivelmente com vista ao desempate por grandes penalidades, que chegaram para desfazer um empate que em tudo se justificou durante os 120 minutos mais compensações.

    Na “lotaria”, a fortuna do pontapé vencedor sorriu a cinco jogadoras apenas, com as duas guarda-redes a terem também um impacto decisivo no desfecho. Duas das jogadoras mais habilidosas e experientes da Suécia, Asllani e Seger, falharam. Vanessa Gilles e Lawrence, ambas incansáveis e com exibições muito sólidas na defesa do Canadá, falharam também a conversão. Com cinco penáltis batidos para cada lado, a decisão na “morte súbita” recaiu então sobre Andersson, que viu o seu pontapé defendido por Labbé, e sobre a jovem Julia Grosso, que, apesar de um desvio de Lindahl, conseguiu mesmo confirmar a medalha de ouro para o Canadá, a sexta da nação nestes Jogos Olímpicos.

    Uma final de antologia entre duas equipas muito equilibradas e com sede de se estrear a vencer nesta competição; com os olhos do mundo postos em Yokohama, esta pode ter sido uma bela, e muito necessária, montra para uma modalidade a que se deve maior reconhecimento. Com estrelas emergentes, e agora medalhadas, como Jordyn Huitema, Hanna Bennison ou Catarina Macario, e jogadoras consagradas como Jessie Fleming, Stina Blackstenius ou Lindsey Horan, o Futebol feminino prepara aquela que pode ser uma “idade de ouro” da modalidade e cujo início pode ter estado, mesmo, nestes Jogos Olímpicos de 2020.

     

    A FIGURA

    Jessie Fleming – Fez praticamente tudo bem na “sala das máquinas” do Canadá. A jogar na frente do diamante do meio-campo, recuperou bolas à frente e atrás, criou perigo e não vacilou na hora de bater as duas grandes penalidades que ajudaram a trazer uma medalha de ouro inédita para o Canadá.

    A jovem suplente Deanne Rose e a treinadora britânica Beverly Priestman também merecem destaque; a primeira por mostrar uma maturidade e qualidade de jogo acima da média desde a sua entrada em campo aos 63 minutos, e a segunda por, mais uma vez, ter acertado em todas as mudanças no alinhamento que promoveu durante o encontro.

    O FORA DE JOGO

    Quinn – A sua incontestável importância fora das quatro linhas não se materializou numa boa exibição nesta final. A jogar no lado esquerdo do diamante canadiano, Quinn perdeu várias vezes a posse de bola e vacilou na hora de definir o passe frontal ou lateral.

    O golo da Suécia resulta, precisamente, de uma perda de bola sua a meio campo. De qualquer forma, a sua contribuição no torneio resulta na primeira medalha de qualquer tipo para um atleta transgénero e não-binário em Jogos Olímpicos – um feito que merece destaque e que uma exibição pobre não pode apagar.

     

    ANÁLISE TÁCTICA – SUÉCIA

    A Suécia não promoveu alterações em relação ao onze inicial da meia final frente à Austrália, alinhando no seu típico 4-2-3-1, com Angeldal e Seger no miolo, atrás da linha ofensiva composta por Jakobsson e Rolfö (nas alas), a média criativa Asllani e a figura de proa Blackstenius. Seger destacou-se, em particular, pelas recuperações de bola.

    Já as constantes trocas de flanco de Jakobsson e Rolfö não resultaram tão bem desta feita, apesar de a Suécia ter criado oportunidades de golo suficientes para resolver o jogo no tempo regulamentar.

    Das suplentes, Andersson foi quem mais acrescentou com subidas constantes a partir da faixa direita da defesa sueca. Apesar das seis alterações, e à semelhança do que aconteceu com a equipa do Canadá, Peter Gerhardsson nunca desvirtuou o alinhamento táctico.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Lindahl (7)

    Glas (6)

    Ilestedt (5)

    Björn (6)

    Eriksson (6)

    Angeldal (6)

    Seger (7)

    Jakobsson (7)

    Asllani (7)

    Rolfö (7)

    Blackstenius (7)

    SUBS UTILIZADOS

    Andersson (6)

    Hurtig (5)

    Bennison (5)

    Schough (6)

    Anvegård (5)

    Kullberg (-)

     

    ANÁLISE TÁCTICA – CANADÁ

    À semelhança da Suécia, o Canadá alinhou com o mesmo onze inicial da meia final e no sistema táctico privilegiado por Beverly Priestman durante a competição: um 4-1-2-1-2 em diamante, com Scott a bascular atrás de Fleming e Quinn, e Sinclair ligeiramente mais adiantada a servir a linha de dois avançados composta por Beckie e Prince.

    A equipa canadiana tentou sair, sobretudo, em contra-ataque, usando a velocidade de Prince, primeiro, e de Rose, a partir dos 63 minutos, com Lawrence em particular a desencadear muitos dos ataques pela faixa direita em combinação com Fleming. A treinadora britânica também esgotou as substituições, primeiro conferindo rapidez ao ataque por intermédio de Rose e, depois, colocando Huitema mais estática na frente, já à entrada para o prolongamento.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Labbé (7)

    Lawrence (7)

    Gilles (7)

    Buchanan (6)

    Chapman (5)

    Scott (6)

    Fleming (8)

    Quinn (5)

    Sinclair (7)

    Beckie (6)

    Prince (6)

    SUBS UTILIZADOS

    Grosso (6)

    Leon (6)

    Rose (8)

    Huitema (5)

    Riviere (-)

    Zadorsky (-)

    Artigo revisto por Gonçalo Tristão Santos

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    Carlos Eduardo Lopes
    Carlos Eduardo Lopeshttp://www.bolanarede.pt
    Concluída a licenciatura em Comunicação Social, o Carlos mudou-se para Londres em 2013, onde reside e trabalha desde então. Com um pai ex-piloto de ralis e um irmão no campeonato nacional de karts, o rumo profissional do Carlos foi também ele desaguar nas "águas rápidas" da Formula One Management, onde trabalhou cinco anos. Hoje é designer numa empresa de videojogos, mas ainda não consegue perder uma corrida (seja em quatro ou duas rodas).