
Certamente que o “1-4” assinalado no record dos Ravens não corresponde à maioria das previsões feitas no arranque da época. Pelo contrário: de uma equipa que se esperava que a “primeira mudança” fosse bem engatada na corrida até ao Super Bowl, ou até vencer o troféu, acabou por ficar especada nas “boxes”.
Entre derrotas bem discutidas e quedas humilhantes, há muito que se lhe diga relativamente ao jogo dos Ravens. Certamente muito mais a advertir do que a celebrar.
Lesões, lesões e lesões
Ora, neste caso em concreto, “box” entendem-se por gabinete médico. Para falarmos da situação atribulada que se vive em Baltimore, temos, inevitavelmente, de destacar o impacto negativo das lesões no planeamento de jogo de John Harbaugh. Podemos, até, discutir que o treinador já não se apresenta tão criterioso como noutros tempos, mas torna-se difícil quando há poucos ovos para fazer omeletes.
O primeiro da lista de utentes da enfermaria a saltar à vista será, claro, o duas vezes vencedor do MVP, Lamar Jackson. Mas o problema nasceu bem antes da paragem da estrela da equipa. A debilidade defensiva apenas se veio agravar com as recorrentes baixas. Contra os Texans, seis titulares ficaram na bancada a assistir ao embate.
O resultado desse confronto veio confirmar a falta que estas ausências fazem. Sem Kyle Hamilton, a secundary sofreu significativamente. De tal forma que CJ Stroud esteve à vontade e concluiu o jogo com quatro touchdowns. Na corrida, Nick Chubb e Woody Marks (85 jardas combinadas) fizeram o que queriam e algo mais, ao contrário de Henry (2.2 yards per carry)que demonstrou estar a uns tantos campos de futebol o melhor momento da sua carreira.
Condicionantes controláveis
Não nos podemos debruçar apenas nas condicionantes físicas. Começar uma época com um parcial de 1-4 é, sim, motivo para soar os alarmes, especialmente seguindo os critérios da franchise em questão. Franchise essa que se vê apenas pela segunda vez na sua história com apenas um triunfo nos primeiros cinco jogos. Para que as coisas assim sejam, a razão nunca se limitará a um aspeto. Há muito mais que se lhe diga.
Previamente à perda de Lamar, poucos eram os motivos para sorrir. A derrota diante dos Chiefs (que, até à data, pareciam não ser o grupo que nos tinha habituado a muitas celebrações), fez erguer umas tantas bandeiras vermelhas para assinalar reais motivos de preocupação. Vimos um Jackson apagado, a demonstrar sinais de indecisão e de incapacidade de tomar a decisão rápida, mas pouco pôde fazer na companhia de uma O-Line que pouco intervinha para impedir todo o tipo de pressão defensiva adversária. E, quando os papéis se invertiam, Mahomes instalava-se confortavelmente no pocket.
Mais que isso, o problema é estrutural, baseado em demasia no talento de Lamar Jackson e Derrick Henry, especialmente no que toca a correr com a bola na mão. Um autêntico mar de rosas, sim, até o adversário se demonstrar capaz de aniquilar esta poderosíssima arma.
Na defesa, haverá argumentos que motivem maiores preocupações. E, neste caso, assinalo aspetos culturais. A ideia de fazer tremer os ataques adversários, tão característica da marca “Ravens”, com as faces de Ray Lewis, Terrel Sugs e muitos outros históricos jogadores da turma de Baltimore, é agora uma mera memória gloriosa do passado. Naturalmente que a ausência de jogadores como Madubuike, Smith, Humphrey e Hamilton não favorece a equação, mas algo mais seria de esperar nestes momentos de crise.
E agora?
Correr atrás do prejuízo. Devemos, claro, assinalar que três das quatro derrotas foram contra candidatos a chegar ao Super Bowl: Chiefs, Lions e Bills. Algumas delas foram disputados até aos instantes finais e decididas em detalhes que nunca chegaram a sorrir aos Ravens. Contudo, sem recorrer a eufemismos, não posso deixar de culpabilizar a equipa pela sua incapacidade de, nesses duelos, dar um passo em frente nos momentos de aperto.
Agora, colocando os olhos no futuro (mais concretamente na corrida aos playoffs), não há dúvidas que o caminho a percorrer é longo. Felizmente para o Raven Flock, o pior já passou, pelo menos no que ao calendário diz respeito. Tendo em conta uma análise do ESPN, resta-lhes o oitavo conjunto de jogos mais fácil, pelo menos no papel. Papel esse no qual consta também que o AFC North já viu melhores dias. Os Steelers lideram, mas as suas três vitórias somam para uma diferença pontual de apenas 12. Já os Bengals e Browns apresentam, em conjunto, um record de 3-7. Por isso, tudo está em aberto. Resta saber se os Ravens estarão aptos para ocupar esse espaço.