Após uma longa espera de 16 anos, Portugal voltou a França para participar pela segunda vez na história no Mundial de Rugby. A estreia frente ao País de Gales terminou numa derrota por 28-8, mas Portugal não deixou de dar uma boa réplica.
Afinal de contas, Gales está na 6ª posição do ranking mundial das seleções de rugby – Portugal está na 16ª -, por três vezes já ficou em 3º lugar num Mundial e na edição anterior ficou em 4º. É uma equipa experiente, matreira e forte em vários aspetos, como Portugal pôde testemunhar em primeira mão.
Assim, para analisar o primeiro dos quatro jogos de Portugal na fase-de-grupos, veremos os pontos positivos e negativos da exibição dos “Lobos” frente ao País de Gales.
POSITIVO – PREPARAÇÃO PARA O JOGO
O gaulês Patrice Lagisquet é o selecionador de Portugal desde 2019 e para este Mundial queria, acima de tudo, montar uma equipa competitiva. Apesar da derrota por 20 pontos, Portugal lutou durante todo o jogo e era difícil Lagisquet ter preparado melhor a equipa.
Portugal entrou pressionante, instalou-se nos 22 metros de Gales e ganhou aí uma falta nos primeiros cinco minutos de jogo. Foram várias as vezes em que Portugal conseguiu empurrar os adversários para os seus 22 metros e tal deveu-se à velocidade (de pés e de decisão) de jogadores como Nuno Sousa Guedes e Tomás Appleton ao quebrarem a linha defensiva adversária. Aliar isso a uma troca de bola rápida foi um dos pontos fortes de Portugal e algo que o País de Gales nunca conseguiu controlar.
As bases táticas e fundamentais da equipa estão bem delineadas por um treinador com vasta experiência no rugby ao mais alto nível, os jogadores compreendem-nas na perfeição e a seleção tem crescido claramente graças a isso.
NEGATIVO – ERROS TÉCNICOS
As equipas acabaram com semelhante número de turnovers: País de Gales 8-10 Portugal. Mas as falhas técnicas dos “Lobos” ocorreram em ocasiões mais decisivas. Vários contra-ataques morreram dessa forma, mais por demérito português do que mérito galês.
São marcas habituais de uma equipa que não está habituada ao mais alto nível, mas acabam por manchar e prejudicar a exibição de Portugal – infelizmente, por vezes, chegámos a ser o nosso maior inimigo. Juntando estes erros ao elevado talento do adversário fez com que o jogo ficasse muito complicado para os “Lobos”.
Por exemplo, em novembro do ano passado, foram os pés de Samuel Marques que levaram Portugal ao Mundial na conversão de uma penalidade. Mas frente a Gales, o jogador do Béziers, de França, só converteu uma de três penalidades e falhou a conversão do ensaio – no total, desperdiçou oito pontos.
Note-se que os pontapés não tinham as localizações mais favoráveis e a pressão de ter os olhos do mundo sobre um jogador é imensurável. Mas não deixa de ser um aspeto que, a melhorar, aproximará Portugal de uma possível vitória.
POSITIVO – ESPÍRITO DE LOBO
No primeiro tempo, Portugal chegou a estar a dois metros do ensaio, mas perdeu a bola após cometer uma falta (foram 10 no total). Já depois do intervalo, quando Portugal perdia por 14-3, a história seria outra.
O País de Gales não demorou a marcar novo ensaio, mas Portugal nunca se foi abaixo. Furou mais uma vez a linha defensiva, ganhou posição a cinco metros da linha de ensaio antes de conquistar uma falta. Havia a possibilidade de converter uma penalidade simples, mas ninguém na equipa tinha dúvidas que se tinha de tentar o ensaio.
No lançamento lateral ganho após a falta galesa, e numa jogada de laboratório, Mike Tadjer repôs a bola em campo, Rafael Simões ganhou-a nas alturas e assistiu de imediato Nicolas Martins, que ainda recebeu um empurrão de Tadjer antes de marcar o único ensaio luso da partida.
Este momento refletiu a garra de uma equipa destemida e uma jogada de laboratório executada na perfeição. Foi um prémio mais do que merecido para os jogadores e para os barulhentos adeptos portugueses nas bancadas.
NEGATIVO – IR ABAIXO EM MOMENTOS DECISIVOS
Como já referi, Portugal entrou melhor no jogo mas, na primeira jogada de perigo do País de Gales, ficou a nu a diferença individual entre os jogadores das duas equipas. Numa excelente movimentação individual, Louis Rees-Zammit fez o primeiro ensaio do jogo. Mas foi também o único até aos 40 minutos.
Portugal perdia por 7-3, só que Gales conseguiu marcar um ensaio nos descontos da 1ª parte. Já aos 80 minutos, o resultado era de 21-8, mas os galeses marcaram o ensaio final no quarto minuto de descontos.
Ambas as jogadas visaram o cansaço físico dos portugueses. Gales, no geral, tinha jogadores mais fortes e pesados e soube aproveitar isso para fazer quatro ensaios e conseguir um ponto de bónus por isso mesmo. São estes pormenores que fazem toda a diferença no final. É algo que qualquer equipa ao nível de Portugal acaba por passar frente a seleções mais fortes. Nestes momentos, se os “Lobos” conseguirem controlar mais a bola e jogarem com o relógio, serão eles que poderão marcar pontos nos momentos-chave da partida.