Open da Austrália: Como Nuno Borges se tornou no novo herói do desporto nacional

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Este sábado, Portugal acordou com a notícia de que Nuno Borges tinha garantido a presença nos oitavos de final do Open da Austrália. Um feito histórico, pois João Sousa tinha sido o único português a chegar a esta fase de um Grand Slam, no US Open de 2018 e no torneio de Wimbledon em 2019. Para além da campanha no slam australiano, Nuno Borges garantiu a entrada no top 50 do ranking ATP, tornando-se também no 2º português mais bem classificado de todos os tempos na hierarquia.

Mas seria errado reduzir a campanha de Nuno Borges ao jogo frente a Grigor Dimitrov. O jogador de 27 anos não teve uma caminhada fácil para chegar até esta fase do Open da Austrália, começando por jogar frente ao alemão Maximilian Marterer, número 96 do Mundo. A hierarquia até atribuía favoritismo ao português, mas Marterer vencera o último jogo entre os dois, no Open Europeu de Antuérpia, em outubro.

Mas o maiato não fraquejou e teve uma exibição de luxo frente ao alemão. Até foi Borges o primeiro a ser quebrado, mas logo no jogo a seguir, recuperou o break point. Foi um set muito disputado, mas Borges ia assegurando ligeira superioridade no serviço, e sobretudo nas devoluções. Quebrou o adversário, mais uma vez a 5-5 e serviu para o set.

O 2º set foi, mais uma vez, renhido sem que existisse algum break point convertido até ao tie-break, onde o português voltaria a sair por cima. No 3º set, o português não esteve para brincadeiras ou dramas e confirmou a vitória em parciais diretos, por 7-5, 7(7)-6(3) e 6-2. O adversário seguinte? Alejandro Davidovich Fokina, espanhol que ocupa o lugar número 24 do Mundo e que derrotara Constant Lestienne por parciais diretos na 1ª ronda.

E foi aqui que Nuno Borges começou a fazer história. Nunca antes o maiato avançara para lá da segunda ronda de um torneio ATP e Fokina partia como favorito para a partida. O 1º set foi equilibrado com inconsistências no serviço de parte a parte, pelo que ambos concretizaram dois break points antes de o set seguir para um tie-break onde Nuno Borges foi superior.

E então foi mesmo show do português a partir daqui. O forehand de Borges provava-se demasiado para um Fokina que continuava sem consistência nos serviços e que falhou as poucas oportunidades de break que surgiram. O 2º set também caía para o português, por 6-3 e o 3º set confirmou a vitória de Nuno Borges frente a Alejandro Fokina com o espanhol incapaz de quebrar o vencedor do Maia Open por uma única ocasião nos últimos dois sets.

Aí, Nuno admitia ao “Raquetc” que era “uma grande altura para ter a minha melhor vitória da carreira”. O português chegava à 3ª ronda de um Grand Slam, algo que apenas João Sousa e Frederico Gil tinham alcançado antes de si. No dia seguinte ao triunfo frente a Fokina, era dia de jogar ao lado de Aleksandar Vukic para o torneio de duplas. Ainda assim, o dia seria negativo para o português, uma vez que a dupla ver-se-ia obrigada a abandonar o torneio  devido a lesão do australiano.

Tudo indicava que o jogo da 3ª ronda frente a um Grigor Dimitrov, antigo top 3 mundial, finalista do Masters de Paris e vencedor do Brisbane International (já este ano) seria o último para Borges no slam do Hemisfério Sul. E efetivamente, foi o búlgaro a começar por cima num set sem break points de parte a parte e que se decidiu a favor do búlgaro no tie-break.

O 2º set começou melhor para o português que conseguiu o primeiro break do encontro e demonstrou ainda resiliência para salvar 7 break points de Dimitrov e igualar a partida. O 3º parcial foi completamente dominado por Borges, num parcial em que quebrou Dimitrov por duas ocasiões e não sofreu um único break.

O 4º set tinha potencial para ser decisivo. Nuno Borges começou mal ao sofrer um break pela primeira vez e ao perder os primeiros três jogos do set. O número 13 mundial apanhava-se a ganhar o set por 5-4 e a servir para levar o jogo a um set decisivo. Mas o jogador da Maia não fraquejou e quebrou o rival, levando o parcial para um tie-break, no qual obteve 5 mini-breaks para levar a vitória para casa.

PORTUGAL ENCANTADO COM NUNO BORGES

Se tivesse perdido frente a Dimitrov, a campanha de Nuno Borges em Melbourne continuaria a ser lendária, mas foi a vitória frente ao búlgaro que atirou o maiato para as luzes da ribalta, tanto a nível nacional, como internacional. O português está a surpreender o Mundo do ténis e… a si próprio, como admitiu na entrevista no court após a vitória contra Dimitrov:

“Honestamente ainda não acredito. Que encontro. Nunca esperei estar aqui na segunda semana do Open da Austrália. Quem diria?!”

De resto o momento em que o maiato confirmou o apuramento para os “quartos” foi difundido pelas redes sociais, com o ténis a ganhar nova vida em Portugal depois do auge de João Sousa (não há muitos anos, mas ainda assim). Em entrevista à Rádio Observador, o Presidente da Federação Portuguesa de Ténis (FPT) falou de “um feito histórico para o ténis português e muito importante para elevar o nível do ténis português”.

Já o treinador de Nuno Borges e selecionador da Taça Davis, Rui Machado, exaltou o jogador como “um exemplo de trabalho, profissionalismo e de querer e por isso um grande exemplo a seguir para os valores do CAR [Centro de Alto Rendimento] e para o ténis português”, em declarações ao site “Bola Amarela”.

O próximo adversário? Daniil Medvedev, número 3 mundial que chegou à final do Masters de Pequim e do ATP de Viena, nos últimos meses, nomeadamente com vitórias frente a Stefanos Tsitsipas e a Carlos Alcaraz. Sobre as hipóteses do jovem da Maia frente ao russo, o Presidente da FPT admite que é difícil, mas que o jogador “neste momento está preparado para jogar com qualquer um ao mais alto nível”.

Esta madrugada, por volta das 2:30 (hora de Portugal), Nuno Borges, que já tem a subida ao top 50 do ranking mundial garantida, vai tentar fazer história novamente, tornando-se no primeiro português de sempre a chegar aos quartos de final de um Grand Slam. Para isso, terá como palco a mítica Rod Laver Arena e um adversário adequado à ocasião.

Filipe Pereira
Filipe Pereira
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.

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