5 figuras em clássicos da Supertaça

    Num duelo tão desigual como o FC Porto-Benfica em contexto de Supertaça, qualquer exercício de memória quanto a figuras ou melhores golos irá sempre cair a favor dos Dragões. Em 12 finais entre rivais, o Benfica ganhou uma – e as onze derrotas dão-se muitas vezes em cenários dantescos de vergonha, com copiosas remontadas ou derrotas que se tornavam humilhantes de tão naturalmente se construírem.

    Eleger um top cinco de figuras destas partidas deixa uma certeza à partida: que seremos injustos para alguém, dada a lista de craques que pincelaram o seu nome na história dos grandes momentos. Jacques é um deles, o avançado portista que virou um 2-0 benfiquista com um hattrick, na segunda mão da Supertaça 1981 (que terminaria em 4-1 nas Antas). Ou Futre, que em 86 chegava à Luz para cometer a proeza de castigar o atrevimento do Benfica, que empatara nas Antas, com uma exibição dos diabo e ajudar com um bis ao 2-4 final.

    Esta 4.ª feira, Agosto de 2023, que se veja em campo a mesma certeza dos génios e das suas convicções, naquilo que se augura como outro grande confronto entre a esperteza de Sérgio Conceição e as idealizações táticas do campeão Schmidt. Sortudos, todos nós!

    5.

    Diamantino, 1985 – A primeira oficial do Benfica só chegou em 1985, já iam três finais perdidas sempre por números esclarecedores; na Luz, nunca se dando importância a troféu terciário, ia-se deixando o FC Porto ganhar vantagem – já ia três-zero – pelo que Mortimore, gentleman habituado a outras competitividades e cultura desportiva, tratou de pôr travão no desleixo vermelho.

    A 20 de Novembro, na Luz, o Benfica adiantava-se por causa do génio de Diamantino Miranda – um livre directo com toda a classe, como se pode ver aos 4:44 do vídeo em epígrafe.

    Na segunda-mão, jogada a 4 de Dezembro, houve temporal nas Antas e prenúncios de outra remontada portista: mas não, que o senhor Mortimore sabia como ninguém pôr uma equipa a defender. Seria essa, aliás, a sua maior valia enquanto treinador de futebol. Para ajudar a essa mestria tática, havia na baliza um sujeito de bigodão e personalidade a condizer, que nestes jogos se tornava um monstro que tudo agarrava. A equipa lutou debaixo do temporal, Senhor Bento defendeu o possível e o impossível e assim se fez Supertaça, numa época que terminaria com a conquista da Taça, num 2-0 ao Belenenses.  

    4.

    Vítor Baía, 1992 – A Supertaça 1991 só é decidida já no final de 1992, portanto já decorria 1992-93 a todo o gás; O FC Porto era de Carlos Alberto Silva, o treinador campeão do ano anterior, que sendo brasileiro se destacava pelas primorosas ideias defensivas – daí que Vítor Baía, um rebento das escolas dos Dragões, já tivesse nessa altura o recorde português de invencibilidade: 1191 minutos, entre Setembro de 1991 e Janeiro de 1992, o que tornou possível a fabulosa marca de… 11 golos sofridos em 34 jornadas de campeonato, números avassaladores. O Benfica, segundo lugar, sofrera mais do dobro (23); o Sporting, afundado em quarto, sofrera 26.

    Naquela noite de Coimbra, construiu mais uma camada do seu estatuto lendário. Ainda antes de ser votado para o melhor onze europeu do ano ou ficar em sexto na votação para melhor guarda-redes do mundo, Baía chamaria a si as atenções pelo espantoso feito de conseguir virar um desempate por grandes penalidades de 0-3 a favor do Benfica para… 4-3!

    Aquela supertaça ainda era respeitante a 1990-91 – as duas mãos jogadas durante 91/92 não serviram para nada, tudo igual, finalíssima marcada para o início de 92/93 então, mesmo à portuguesa. O Benfica começou melhor com um golo de Isaías – é na sequência que acontece a famosa perseguição portista a José Pratas – o Porto empatou pouco depois e precipitou os remates dos onze metros, quando já todos estavam fartos de tanta indecisão.

    O Benfica chegou a 3-0 e é aí que entra em cena Pinto de Costa, que se ajoelha e se mete a rezar. Como dizem os manolos do lado de lá, não acreditamos em bruxas, mas tudo aponta para que existam: o Benfica começa por falhar aparvalhadamente, é barrado depois por duas defesas brutais de Baía e o FC Porto consegue mesmo a reviravolta.

    Baía acabaria novamente campeão nacional em 1993 e obviamente como guarda-redes menos batido: desta vez 17 golos, o que não deixa de representar mais um estrondoso registo a 34 jornadas. Em 1994-95, noutro título portista, conseguiria 15, também a 34 jogos. E no último ano antes de Barcelona? Só 20. Nos oito anos da primeira passagem pelos séniores do Porto, Baía sofreu… 116 golos.

    O que dá 14 golos por ano.

    3.

    Domingos, 1994 – Novamente Benfica e Porto frente a frente, novamente muitas peripécias e tremideiras para decidir um vencedor para a Supertaça. Veja-se bem o insólito: a 17 de Agosto de 1994, jogou-se a finalíssima de 1993 (que deu 2-2 e os penalties outra vez a favor do FC Porto).

    Sete dias depois, ainda com a adrenalina como incenso, outro Clássico para decidir a Supertaça de 1994. Deu porrada a valer, pois então, com três expulsões vermelhas e duas azuis. Foi nessa primeira-mão que começou a novela João Vieira Pinto-Paulinho Santos, com direito a vómitos de sangue e narizes partidos; e foi tristemente aí que se disse adeus a Rui Filipe – que, sendo um dos expulsos, ficaria de fora da segunda  jornada do campeonato. Nesse Sábado de Beira-Mar – FC Porto, a 28 de Agosto, livre de compromissos, foi jantar com amigos. Na volta, já altas horas, a tragédia do despiste. Tinha 22 anos.

    Em Setembro, a segunda mão. Depois do 1-1, o 0-0 chatinho da praxe, quando duas equipas querem mais não perder que arriscar o toque da glória. Tudo recambiado para Junho, em Paris e no Parque dos Príncipes como prenda aos emigrantes – que não viram as estrelas maiores, como Preud’Homme, Cannigia ou Edilson, já todos de férias.

    Deu novamente FC Porto e Domingos, o goleador dos campeões que fizera 19 golos no campeonato, a coroar mais uma época dominadora dos homens de Bobby Robson.

    2.

    Artur, 1996 – O Benfica de Autuori não era o melhor dos exemplos quando pensamos num adversário de respeito, mas o que o FC Porto e principalmente Artur fizeram naquela noite na Luz foi a mais humilhante demonstração de superioridade, pisando e esmagando qualquer réstia de esperança que aquela pré-época pudesse ter construído.

    Artur vinha do Boavista e sabia da necessidade de lutar por um lugar à sombra num plantelzaço, apesar de ter sempre cumprido mais que a dezena de golos nas quatro épocas de axadrezado. Para três lugares na frente, olhava para a direita e via Sérgio Conceição, Rui Barros ou Edmílson; Olhava para a esquerda e lá estavam Drulovic, Domingos ou Folha; e ao centro, como figura sacra de feições inofensivas, mas luminosa o suficiente para ofuscar a mais brilhante das estrelas, Mário Jardel. Tinha que dar ao pedal imediatamente.

    E deu. Naquela noite, a meio de Setembro, a Luz viu uma das melhores performances individuais registadas em Clássicos. Artur decidiu o jogo na primeira parte, quando faz o 1-0 aos três minutos e assiste para o segundo golo perto do intervalo. O Benfica morreu aí, a segunda parte limitou-se a proceder calmamente enquanto se apuravam os culpados e se ia confirmando o escândalo.

    Antes, na semana anterior, num 11 de Setembro ainda sem assombro, Artur fizera gato-sapato de Maldini na espectacular vitória por 2-3 frente ao Milan, em San Siro.

    Super contratação.

    1.

    Ricardo Quaresma, 2004 – Integrado no negócio de Deco para o Barcelona, Ricardo Quaresma já era o Harry Potter para os adeptos portugueses, apesar do falhanço na Catalunha, uma experiência que voltaria a repetir-se noutra grande cidade europeia. Quaresma sentiu ter saído demasiado cedo do ninho – e reconheceu, recentemente, que o que lhe faltou foi… paciência! – e aceitou prontamente ser incluido como moeda de troca por Deco. Chegando ao Porto, estreou-se oficialmente contra o Benfica e não podia ser melhor.

    Quaresma já havia marcado aos encarnados, despedira-se até do Benfica com um golo no último derby de 2002-03 (um 1-2 no Jamor a favor do Sporting) e reencontrava-os agora numa oportunidade de troféu. Homem que se agigantava nos grandes jogos, gargalhou quando percebeu que era a montra perfeita para provar um ponto – para convencer os novos adeptos e para mostrar a todos os outros que sim, algo correra mal em Barcelona, mas talento nunca fora problema.

    Não sendo o melhor dos vídeos, dá para atestar o festival técnico com que Quaresma brindou o público que assistia à Supertaça no Municipal de Coimbra. O Benfica de Trapattoni não era um portento, mas acabaria por ser campeão e na defesa já existia Luisão, havia Miguel, o campeão europeu Fyssas ou Ricardo Rocha, que fazia da concentração a sua melhor arma.

    Não era fácil impôr a magia como Harry fez. 

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.