A fundação (oficial) do anti-Benfica

    Na prática, trata-se da formalização daquele que é, como todos já sabíamos, o segundo maior movimento social e desportivo no nosso país, logo a seguir ao Benfica: o anti-Benfica. Confesso-me curioso quanto à estratégia a ser utilizada, embora antecipe algo muito idêntico ao corrente: a insistência ruidosa e repetitiva de ideias acessórias e falsas, através de órgãos de comunicação próprios – os Dragões e Leões diários desta vida –, imediatamente propagandeados por um exército de comentadores (e alguns jornalistas) afectos à causa, mais tarde transformadas em factos indesmentíveis, agigantados com um ou outro pormenor, pela generalidade dos adeptos dos respectivos clubes. Aconteceu no caso dos vouchers, da cartilha e, mais recentemente, na mentira depauperada que procura conotar o Benfica com o regime do Estado Novo. Uma opção atrevida – tal como se reconhece à ignorância –, que tem servido para desvalorizar erros próprios e méritos alheios, mas, ainda assim, insuficiente para travar tarjas, vaias e apupos e chicotadas psicológicas.

    Se puxarmos pela memória, este assunto nem sequer é propriamente uma novidade. Na altura, talvez tivesse faltado acutilância jornalística, vontade e coragem para confrontar o poder instalado e desmascarar as reuniões realizadas em hotéis de Lisboa e Porto. Esta aliança, que alguns dizem santa, já se verificou, na verdade, de forma mais ou menos oficial. Basta recordar a Era Paulo Bento no Sporting, entre 2006 e 2009, onde o clube de Alvalade, presidido à época por Filipe Soares Franco, conquistou um inédito tetra-vice-campeonato. Para contrariar a ascensão anunciada do Benfica, sublinhada com o título de 2005, seguiram-se quatro vitórias do FC Porto, quatro segundos lugares do Sporting enquanto o Benfica somava três terceiros e um quarto lugares – o melhor dos mundos para portistas, e uma realidade mais do que aceitável, até mesmo agradável, para a esmagadora maioria dos sportinguistas. O facto de, naquele período, Portugal apurar apenas duas equipas para a milionária Liga dos Campeões não deverá ser ignorado; tal como, aliás, não deverá ser ignorado esta união forçada ocorrer, exactamente, quando o mesmo acontecerá a partir da próxima temporada.

    Fonte: SL Benfica
    Fonte: SL Benfica

    Neste momento, resta ao Benfica continuar a trabalhar, com o mesmo esforço, dedicação e competência e com a garantia do apoio incondicional de todos os seus sócios e adeptos espalhados pelo mundo. Um projecto cada vez mais valorizado, não só pelos resultados desportivos já obtidos, mas, agora, também pela confissão de impotência por parte dos seus rivais; Bruno de Carvalho e Pinto da Costa não estão – e isto, de tão óbvio, nem sequer era necessário escrever – interessados na paz, ou no carácter exemplar e diplomático desta aproximação. O que os une é, para felicidade de todos os benfiquistas, a consciência das suas limitações individuais e, em contra-corrente, na esperança de que, colectivamente, da soma das suas partes, surja algo capaz de se superiorizar àquela que, nos últimos 113 anos, é a maior colectividade portuguesa.

    Foto de Capa: SL Benfica

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.