A ressaca europeia

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    O processo de “regresso à Terra” após o brilhantismo europeu é similar ao processo da travessia de um penoso dia de trabalho após um jantar bem regado com amigos, que se estendeu pela noite dentro e ocorreu a uma quinta-feira à noite. Pensamos que a semana tem apenas mais um dia, o expediente será levezinho, ainda temos idade para aguentar essa labuta e que daí a pouco são 18 horas. Mas a realidade é outra: o dia tem o mesmo comprimento que os demais, ou seja, é enorme; o expediente complica-se, estamos a ficar velhos e o relógio parou… Na segunda-feira, o Vitória de Setúbal foi a nossa sexta-feira: parecia leve, mas foi de uma dureza enorme. Porquê? É uma equipa difícil? Não, apenas estávamos de ressaca. E íamos pagando o peso da nossa irresponsabilidade ao irmos beber a um dia de semana. O que nos salvou foi um Guronsan brasileiro vestido de amarelo. Obrigado, Ederson. Por mim, não descalças até ao fim!

    Neste intróito lancei um dos temas deste texto, que serão dois, mas lá chegaremos. Agora, em termos de ressaca, pego noutra vertente: no que fica de futuro desta magnífica Champions League 2015/16. A nossa participação deste ano não pode nunca ser um fim em si, mas sim o estabelecimento de metas ambiciosas. E aumenta as responsabilidades. Em primeiro lugar, as metas. Um clube que “limpa” mais de 30M€, num mercado como o nosso, está “obrigado” a olhar para o futuro de uma outra perspectiva. Se o saneamento do passivo é garantido pelos contratos de publicidade, temos de olhar para estas verbas como um maná para garantirmos jogadores de uma outra qualidade. Temos de, aliados a um investimento forte no “Seixal”, ser selectivos, mas ambiciosos nos jogadores que compramos. Prefiro gastar 8/10M€ num jogador de qualidade insuspeita que a mesma verba em 2/3 jogadores que são uma incógnita. A ver se “colam”…

    Ou seja, temos de aproveitar este dinheiro fresco para alimentar uma ambição crescente para que pelo menos consigamos, anualmente, verbas da mesma ordem. E para que internamente possamos estabelecer uma efectiva hegemonia. Entroncadas nisto, as responsabilidades europeias. O futebol é momento, ninguém duvida disso. E, se hoje o Benfica está bem visto por essa Europa fora, na próxima época voltaremos a zeros. E ninguém se lembrará de nós se ficarmos pela fase de grupos. E é isso que temos de evitar: temos de ser habitués nas fases adiantadas da prova.

    Esse é o preço. Senão esta campanha foi apenas um acaso. Sobretudo se não soubermos aplicar os fundos ganhos em 2016! Iremos perder prestígio e deitar dinheiro fora em jogadores de qualidade dúbia. E isso é um retrocesso. Este é o preço de uma Champions League como a deste ano. Evitar que seja um mero acaso… Como? Investindo! Ganhando mais dinheiro e investindo. Consecutivamente. E pode ser que um dia cheguemos ao trono! E esta é uma ressaca boa, de uma responsabilidade que não podemos abandonar! Temos de acabar de vez com “o campeonato é que interessa”! O campeonato é para ganhar e a Europa é para ganhar também. Dinheiro, pelo menos. Muito!

    Jonas voltou a facturar Fonte: SL Benfica
    Jonas voltou a facturar
    Fonte: SL Benfica

    Voltando à intro. Sinceramente, pouco mais do Benfica esperava ante o Setúbal. Além do dinheiro fresco que rolava por fora, consubstanciado pelo choro compulsivo de Arnold, os sadinos querem dar um chuto na crise. O Benfica vinha de duas semanas intensíssimas e desgastantes ao nível físico e, sobretudo, psicológico. Andávamos com a cabeça nas nuvens. Nas bocas da Europa, com elogios de todos os quadrantes, e temos de apanhar com este frete tipo Setúbal?! E quando assim é, e isto acontece com todas as equipas, as exibições são sempre mazinhas!

    E às vezes há castigo. A vitória foi justa, peca por escassa, sobretudo porque fomos fustigados por um golo no 1.º minuto e até ao intervalo podíamos ter feito três ou quatro golos! Mas ao não resolvermos a contenda ficámos a jeito! E depois os “chocos” cresceram, pois perceberam o frete que o Benfica andava a fazer. A displicência com que abordámos o jogo, concretizado por dois lances de Pizzi, deixou-nos à mercê de uma violenta estocada! Mas é normal. O que não pode suceder é a impavidez de Vitória, que não conseguiu ler o jogo e virá-lo, ao preferir o conservadorismo das substituições costumeiras. Sinceramente, preferia ter apanhado já o Rio Ave, pois obrigava a uma concentração maior do que aquela necessária com este adversário e se calhar os erros seriam menores.

    Nos últimos quatro jogos, tivemos sérias dificuldades em vencer três. Mais importante que tudo foi sobrevivermos a esta provação sem que a liderança fosse beliscada. Prova de carácter. Todavia, a quatro jogos do fim e com apenas dois pontos de avanço, muito pode acontecer. E passada que está a euforia da Champions League é tempo de beber uma Água das Pedras, um bom café, e voltar às boas e convincentes exibições. É que a vida não começou em Munique nem acabou na Luz na passada quarta-feira. E Vila do Conde é um bom teste à nossa candidatura ao título. Armadilhas, mais que muitas. E já vimos um Sporting disposto a tudo para ser campeão. O nosso carácter está em teste. Resta-nos, depois de um penoso caminho percorrido, estar à altura!

    P.S.: Sobre os propalados 200 mil euros e a história de Heldon: não duvido disso. E não sou inocente; o Benfica no passado terá feito o mesmo. Agora, nunca com um desespero tão público, com espuma de raiva na boca e com tanta manobra para denegrir tudo e todos… Nunca com uma beligerância tão profunda, com tanto ódio à mistura. O Benfica, ao nível comunicacional, cometeu erros. João Gabriel, I’m lookin’ at you. Mas… O SCP deve reflectir nas tácticas 80’s que tem utilizado. E nas potenciais consequências… Não pode valer tudo.

    Foto de Capa: SL Benfica

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    John Aguiar
    John Aguiarhttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado pelo Benfica desde que se conhece, descobriu a paixão pelos encarnados ao ir pela mão do pai ver os jogos na sede social da terrinha. Desde cedo habituou-se a ler A Bola em formato gigante e coleccionava anualmente os Cadernos do dito jornal. Desde 1993 que não falha um…                                                                                                                                                 O John não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.