Não pense quem ler este artigo que estou já a começar a construir o caminho para os festejos do título. Pelo contrário. Sempre gostei de manter o maior distanciamento possível dessa situação até que a matemática confirme aquilo por que o coração tanto anseia. E mesmo assim, até o mais cauteloso adepto não se livrou de uma valente lição na época passada no que a esse capítulo diz respeito. Mas não foi só em 2012/2013 que o Benfica deixou fugir a liderança. Vejamos também 2011/12.
Cumprida que está a 18ª jornada da presente temporada, o Benfica veste a camisola amarela e encontra-se a quatro pontos do FC Porto e a cinco pontos do Sporting. Olhando em retrospectiva, na época 2011/2012, ao fim de precisamente 18 jornadas, o Benfica encontrava-se no primeiro lugar a cinco pontos do FC Porto. De uma vantagem de cinco pontos, o campeonato terminou com o FC Porto campeão com seis pontos de vantagem. A página virou-se e um 2012/2013 quase perfeito pelos lados da Luz viu uma fuga à 23ª jornada e um primeiro posto então assegurado a quatro pontos do rival do norte. Conta a história aquilo que foi uma recta final de temporada mascarada de um autêntico desastre desportivo – não de exibições, mas de resultados. Esta é a terceira vez consecutiva que o topo da tabela classificativa sorri ao clube encarnado e em que uma margem semelhante à dos últimos dois anos nos faz olhar para o segundo lugar com um distanciamento que deveria oferecer confiança.
A praticar um futebol cada vez mais coeso, afirmo de forma peremptória que o Benfica é neste momento a equipa com mais armas para chegar ao título. Se, por um lado, um Sporting rejuvenescido surpreendeu tudo e todos com uma entrada fulminante no campeonato e com uma luta incessante pelos lugares cimeiros, também é verdade que – e não querendo estar a concluir a partir de um caso isolado – o jogo na Luz mostrou as fragilidades de um leão em reconstrução. Um factor-surpresa que surpreendeu pouco e uma perda de William Carvalho mal colmatada não esconderam uma equipa com uma estrutura tremida, o que não deveria surpreender ninguém: a campanha 2013/2014 do Sporting está muito acima do que seriam as minhas expectativas para o clube de Alvalade. Por outro lado, este é decerto o FC Porto mais fragilizado dos últimos anos. Ao contrário do que é habitual, este FC Porto não tem conseguido esconder aquilo que são problemas entre direcção e balneário: seja pela partida de Lucho, seja pelo tremido episódio de Fernando, seja pelo próprio Paulo Fonseca, treinador atípico em comparação com os técnicos a que o FC Porto nos tem habituado no seu comando. Ricardo Quaresma foi, sem dúvida, uma contratação inteligente e em tempo útil, mas resta saber até que ponto este FC Porto não se terá descaracterizado.
No entanto, o Benfica vai entrar num ciclo de jogos que quase não vai dar espaço para respirar. Para além de embates na Taça da Liga e na Taça de Portugal, que vão exigir cuidados especiais pelos adversários que se apresentam ao clube da Luz, é já no final deste mês que o Benfica volta à Liga Europa, frente ao PAOK. Na perspectiva daquilo que é a minha principal preocupação e que me motivou a escrever este artigo – a capacidade de gestão deste primeiro lugar no campeonato –, o calendário encarnado pode interferir e muito com as dinâmicas de jogo. Como é natural, terão de ser dadas prioridades, e de falta de banco o Benfica não se pode queixar. No entanto, a orientação que Jorge Jesus vai dar aos seus pupilos não pode deixar de parte, pelo terceiro ano consecutivo, aquilo que é a obrigação de não mais largar o posto mais alto da tabela.
Outra nuance poderá ser a saída de Garay. Se é certo que neste momento a falta de Matic não é colmatada na sua totalidade por Fejsa, também é verdade que, apesar disso, o ex-Olympiakos tem cumprido com eficácia e Ruben Amorim também é solução. No entanto, pior do que despir a equipa de uma peça-chave é despir de duas, e a possível saída de Garay não oferece soluções tão risonhas. Eu diria mesmo que a partida do argentino é extremamente evitável nesta altura e que, a acontecer, pode ser um peso enorme naquilo que são as pretensões do Benfica e naquilo que é a necessidade de garantir tranquilidade e consistência de um primeiro lugar que, repito, não soubemos gerir nos últimos dois anos.
Nesta perspectiva, e sumariando aquilo que acima referi, o Benfica tem mais opções, o Benfica é o candidato mais forte ao título, o Benfica tem um técnico que conhece a casa e que passou pelos desaires dos últimos três anos, o Benfica tem de fazer uma boa gestão do calendário, o Benfica tem obrigação de ser campeão nacional.
À terceira, só tem de ser de vez.