Adeus, Chalana | Génios como tu são entidades transgeracionais

    Sven Goran Eriksson volta em 1989 com a missão de devolver o Benfica á Taça dos Campeões Europeus. Conseguiu-o, levando a equipa á final de Viena em 90, mas foi ele quem teve a coragem de afirmar que Chalana não era mais insubstituível. Se Toni no ano anterior tentara tudo para recuperar o craque amigo, foi Sven quem transmitiu: não dava mais para atleta de alto nível.

    Rotação, talvez. Nessa época de 1989-90, 27 jogos. 12 a titular, 15 como suplente utilizado. Precipitou-se o fim, talvez de maneira demasiado abrupta. Chalana guardou rancor, claro está.  «Pior do que as lesões que sofri, foi ter encontrado Eriksson no Benfica, ele sim é que me deu a machadada final. O sueco talvez tenha sido a maior lesão da minha vida!» vociferou á A Bola na altura. Final triste.

    Passaria por Belenenses  e Estrela da Amadora. Em 1992 era jogador livre e pronto a retirar-se. Em 1994, na miséria depois de um rol de más escolhas, é ajudado pelo Benfica, que o faz entrar pela porta das camadas jovens e dá-lhe cargos como treinador de formação.

    Em 1999 é campeão nacional de Juniores, em 2002 estava na equipa técnica de Jesualdo Ferreira quando este é despedido depois de ser eliminado pelo Gondomar (II divisão B) da Taça de Portugal, em plena Luz. Chalana assume o jogo seguinte, é ele quem reinventa Miguel – que de extremo inconsequente passou a um dos melhores laterais da Europa – e acolhe Camacho para a recuperação do Benfica moderno.

    Como quase durante toda a vida, foi sempre Chalana dos primeiros prontos a servir o Benfica, nas piores circunstâncias possíveis, sem medo de repercussões na sua imagem. Pura dedicação e a simplicidade dum homem heróico. Pega na equipa em 2007-08 depois de, ironicamente, Camacho sair. É ele quem aguenta o barco naquele final de época penoso, com a derrota por 5-3 em Alvalade pelo meio. Quando todos se afastaram, foi Chalana quem deu a cara.

    Agastado com a ingratidão mas de consciência tranquila, voltou ás camadas jovens para inspirar jogadores e treinadores.  Rui Vitória, Bruno Lage e Renato Paiva foram os mais contundentes nas demonstrações públicas de carinho para com a lenda – de forma consistente. Era Bruno Lage que estava no banco quando, na comemoração do aniversário de Chalana a 10 de Fevereiro de 2019, ordenou a equipa a impôr-se com um 10-0, exigindo que o último golo fosse do 10 Jonas.

    Um daqueles fenómenos numerológicos que se repetiu a 10 de Agosto de 2022, quando Fernando se despediu de nós. Outro detalhe: Jordão, seu grande amigo dentro de fora dos relvados – fizeram formação juntos no Benfica -, nascera a 9 de Agosto.

    E talvez sejamos obrigados a não ser insensíveis em relação ao destino e notar a tristeza com que Bernardo Silva se despediu do velho mestre, crucial na sua ascensão enquanto futebolista e o único que, a determinada altura, viu no médio as qualidades que por hoje o tornam num dos melhores do planeta.

    «Quando tinha 16 anos, numa fase difícil, fez-me acreditar quando nem eu acreditava. Nos estágios, batia à porta do meu quarto para me dizer que eu ia ser um grande jogador e ia ter muito sucesso»

    Chalana chamava-lhe Messizinho e via nele o único á sua semelhança, o único que se entregava completamente á arte da técnica e do raciocínio para ultrapassar as debilidades físicas. O SL Benfica já informou que retira a camisola ‘10’ pelo menos durante 2022-23.

    Fica uma sugestão a aproveitar a deixa deliciosa do tal destino: a ‘10’ só poderá voltar a ser utilizada se estiver nas costas de Bernardo Silva. Haverá homenagem que mais faça sorrir o Pequeno Genial, lá do alto do Quarto Anel?

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.