A forma como acabou a época passada não conta a história do que aconteceu com os encarnados durante a mesma. Uma equipa a jogar um futebol delicioso em grande parte da temporada oferecia certezas de que esse colectivo funcionava, de que as mecânicas estavam assimiladas e de que assim o Benfica estaria desportivamente bem encaminhado. O final infeliz fez, ainda assim, com que alguém soubesse olhar para esta equipa e tentasse preservá-la. Fora uma comitiva de sérvios, esse foi o grande reforço do Benfica para esta temporada: não deixar sair.
Eis que nos encontramos em altura de mercado de transferências de Inverno e a especulação sobre as saídas e entradas em todos os clubes é imensa. De tantos nomes tradicionalmente apontados ano após ano, o patrão do meio campo benfiquista parece ser nesta altura o alvo mais cobiçado – em Inglaterra tropeçam uns sobre os outros para ver quem chega primeiro. Matic é destaque na Europa e a forma como cresceu no Benfica não passou despercebida. Hoje é um elemento fulcral no modelo de Jorge Jesus e é isso que assusta, com a chegada do dia 1 de Janeiro. A verdade é que se houve iluminados que perceberam que a orgânica da equipa tinha de se manter intacta para que o Benfica pudesse com potencial ambicionar aquilo por que sócios e adeptos tanto anseiam – títulos – então que não se apague agora essa luz. Isto porque o impacto que tem manter uma equipa com o calibre da do Benfica de um ano para o outro deixa pouca margem para “brincadeiras”, passe a expressão. E fazer uma aposta deste tipo, com tudo o que isso implica, para chegar a Janeiro e começar a descoser o tecido pode abrir portas a outros finais menos felizes.
Fesja não terá vindo por acaso e por isso a surpresa não seria grande se Matic saísse. Mas esta ideia de reforço antecipado não me convence. Oxalá esteja tão enganado como estive quando saiu Javi Garcia e não encontrei em Matic a solução ideal. Mas fazer esquecer o homem que fez esquecer Javi é algo muito ambicioso. Nesta perspectiva, falar de Matic é como falar de Garay ou Gaitán, que são nomes apontados à porta de saída também. Mantendo a coerência daquilo que era o projecto que conferia imunidade a este plantel, a saída de qualquer um destes jogadores nesta altura pode comprometer seriamente as ambições do clube. Isto porque as contas se fazem no fim – não no Natal – e porque o Benfica está a disputar quatro competições que, ainda que não tenham todas a mesma importância, pelo menos enquanto compromisso no calendário representam desgaste. Não estando a falar de jogadores do mesmo patamar, se calhar se Bruno Cesár ou Nolito não tivessem saído por esta altura no ano passado o Benfica teria conseguido imprimir alguma frescura em competições como a Taça da Liga ou a Taça de Portugal, que está a disputar novamente este ano e para as quais é sempre favorito.
Vou estar atento a estas movimentações de Inverno com a esperança de que a coesão se mantenha pelo menos até ao final da temporada. Não há dúvida de que a instituição Benfica, pela dimensão que tem e pelo que representa, não vive apenas e só do futebol enquanto modalidade. Por outro lado, a corrigir tantos assuntos extra-desportivos, cerca de seis milhões de benfiquistas têm ficado para trás desde há três anos para cá e tem-lhes sido negado o tão cobiçado título de campeão nacional. É hora de voltar a pôr a nação benfiquista à frente dessa lista de prioridades.