Jota não é nome de craque. É nome de jogador de futebol de rua. João Filipe não é nome de estrela. É nome de adepto. Jota e João Filipe são o número 73 do Benfica e um dos jogadores mais promissores do Seixal.
25 de Fevereiro de 2019. Aos 82 minutos de um Benfica vs Chaves, quando os de Lisboa já vencem por 3-0, Bruno Lage promove a estreia de mais um miúdo da formação: Jota. Entra, rotulado de craque, apontado como o próximo João Félix, para o lugar de alguém que já é prata da casa: Pizzi. Uma estreia com peso, simbólica, e que certamente recordará para a vida toda. E, ou muito me engano, ou os benfiquistas também.
10 meses volvidos, Jota ainda não se afirmou na equipa principal. Vai jogando uns minutinhos, aqui e acolá, em posições tão diferentes como a de segundo avançado, extremo esquerdo ou extremo direito. Sempre que entra, trata a bola como ninguém. Trata-a por tu, mima-a, encanta, tem pormenores que enchem o olho. Mas o golo tardava em aparecer. Parecia que a bola não queria entrar, por uma qualquer teimosia divina, para desespero dos adeptos, mas sobretudo para o de Jota.
Porque Jota, o futebolista de rua, cheio de truques, classe e magia, é, antes de ser jogador, um adepto, o que faz com que entre em campo com o manto sagrado a pesar-lhe aos ombros. Porque a maioria, joga por um clube que não é o seu e limita-se a fazer o que sabe melhor e a divertir-se; mas Jota, entra para se divertir, fazer o que mais gosta e no fim apontar para o símbolo que carrega sobre o coração, o que faz dele um jogador diferente de todos os outros.
Fazem falta jogadores assim a todos os clubes, que joguem com amor à camisola, dispostos a deixar uma perna em campo, mas fazem ainda mais falta Jotas ao Benfica, jogadores que sintam a grandeza do Benfica, “que nos campos a vibrar sejam papoilas saltitantes”. Jogadores que marcam e apontam para o emblema. Foi por isso que tardou o golo de Jota, foi por isso que a bola saiu por cima ou ao lado, ou não fez o arco necessário, ou saiu demasiado fraca. Porque jogar difere e muito de jogar com amor à camisola.
E essa pressão desviou os remates de Jota para fora do alvo e aos poucos tornou-o num jogador nervoso, precipitado, demasiado ansioso por acertar na baliza. Isso fez os adeptos desconfiarem dele. Felizmente, ele nunca desconfiou de si. E numa noite triste na Covilhã, enquanto os benfiquistas roíam as unhas ao ver os minutos a passar e o Benfica a perder com os “Leões da Serra”, Jota respirou fundo, parou de pensar nos golos que ainda não tinha marcado e como num jogo de rua chutou, sem pensar, e quando a bola entrou, vi ali o sorriso e os olhos brilhantes de quem acabou de viver o dia mais feliz da sua vida e pôde finalmente apontar para o símbolo do seu clube de coração.
Está lá tudo: cabeça com juízo, pés mágicos, classe, técnica, amor à camisola, dedicação. O que falta ainda? Minutos e carinho. Tudo o resto já lá mora. É assim que nasce uma estrela.
Foto de Capa: SL Benfica
Artigo revisto por Inês Vieira Brandão