Não soube nunca o que me liga a ti. Ainda hoje não sei que chama é esta, que fulgor é este que me não deixa estar sereno sempre que tomas o relvado para enfrentar um clube outro, sempre tão mais pequeno que tu. E entre gritos e silêncios sôfregos, entre suores e lágrimas corrosivas, ergo outra e mais uma vez o cachecol com as tuas cores numa ânsia inexplicável de tudo emergir sob a tua alçada. Eu amo-te, Benfica.
Amo-te desmesuradamente como se te descobrisse por entre os curtos intervalos entre-aulas no secundário. Como se atrás de eucaliptos e edifícios velhos – que pode orgulhar Portugal de ter a maior percentagem de escolas básicas e secundárias adaptáveis a cenários de paintball da União Europeia – te encontrasse em cada história que eu mesmo por lá escondi. E depois voltar a casa com a frivolidade de ter encontrado o amor da minha vida com o primeiro sol de Maio a beijar-me a tez, como que a recompensar-me pelo tão grande nada que acabara de conquistar. Do fútil e do superficial jamais seremos apartados, bem sabemos, porque a quem não sente assim não se consegue explicar o que de majestoso existe no respirar vermelho e branco. Mas quis quem distribui o amor pelo Mundo que a amar-te como eu não houvesse poucos e que a frivolidade que nos é apontada, por ser de tantos e tão bons, fosse grande o suficiente para tornar regra a excepção: “Dizem que somos loucos da cabeça”.

Fonte: ontemvi-tenoestadiodaluz.blogspot.com
Não tenho dúvida de que o próximo domingo vai ser um dia de benfiquismo do mais alto nível. Porque esta nação merece, porque o que outros clubes tentam almejar ao munir-se de artifícios que jamais podem construir mística alguma é base do que nos faz não menos que estratosféricos, genuinamente grandes. E nada disso se explica, nada disso se aprende.
No domingo reuniremos todos em casa para uma celebração em família. Haja tochas e fumos que nos façam chegar ao céu, onde o Eusébio e o Coluna nos possam sentir, haja alegria e vermelho infinito, haja pais a mostrar o Benfica aos seus rebentos, haja quem veja o Benfica pela última vez campeão depois de uma vida dedicada ao clube, haja confraternização e solidariedade para com quem se festeje ébrio, haja abraços e lágrimas de campeão, haja Benfica em todo o lado, em todas as cores, em todas as línguas. Haja, acima de tudo, benfiquismo sem fim.
Nunca soube o que me liga a ti, mas peço-te hoje o que quero ver consumado no domingo: Sport Lisboa e Benfica, faz-me o favor de seres campeão. Até domingo, amor da minha vida.
“vou largar tudo
a mulher o trabalho a cidade onde vivo a casa de que não gosto
a cidade apagou em mim muitos desejos
a única coisa que ainda faço com prazer é vagabundear
o que não é muito
mas sinto-me livre e feliz e anónimo”
Al Berto, 1985