Citando o célebre “Diácono Remédios”, uma das personagens mais marcantes da carreira de Herman José, podemos afirmar o seguinte, em relação a este Benfica vs Tottenham: “não havia necessidade…”. E de facto, não havia mesmo qualquer necessidade de o Benfica ter passado por tanto calafrio na recta final da partida, quase colocando em xeque a passagem aos quartos-de-final da Liga Europa, quando este jogo parecia estar destinado a ser uma mera formalidade.
Jorge Jesus, tal como vinha fazendo em todos os outros jogos da Liga Europa, aproveitou para rodar jogadores. Desta feita as alterações verificaram-se inteiramente do meio-campo para a frente, com destaque para os regressos à titularidade de André Gomes, Sulejmani, Salvio, Djuricic e Cardozo. E a verdade é que durante o primeiro tempo, o Benfica quase não criou perigo junto da baliza da equipa londrina, apesar de quase sempre controlar o jogo. Com posse de bola, alguma dinâmica e entrosamento, o Benfica desde cedo deu mostras de que muito dificilmente iria passar por sustos. E se as coisas já estavam bem facilitadas, ainda mais ficaram quando aos 34 minutos Ezequiel Garay (que época inacreditável que este jogador está a fazer!) inaugurou o marcador para a equipa da casa.
Chegou-se assim ao intervalo com um ambiente calmo nas hostes encarnadas, ficando mesmo a ideia de que a tendência seria para que o Benfica voltasse a marcar, ainda para mais defronte de um Tottenham decepcionante, sem chama, lento, quase derrotado. Já na etapa complementar, até aos 78 minutos, o Benfica controlou como quis o jogo, com excelentes trocas de bola, acelerações repentinas, muita coesão. Com um excelente ambiente nas bancadas (os adeptos estão claramente com a equipa), o Benfica parecia respirar confiança, e ter os quartos-de-final no bolso. Mas eis que, do nada, se voltou a provar o porquê do futebol ser um desporto apaixonante: num remate de fora da área, bem colocado, Chadli empatou o jogo para a formação inglesa, mas mesmo assim tudo não parecia passar de um mero “acidente”. Até que apenas dois minutos depois, o impensável aconteceu: Chadli bisou, voltou a colocar o Tottenham na luta pelo apuramento, e o Estádio da Luz gelou.
A partir desse momento, assistiu-se a um enorme tremelicar do Benfica, que acusou (e de que forma!) os dois golos da equipa britânica. Com a habitual crença que costuma acompanhar os conjuntos ingleses, o Tottenham acreditou que podia levar a eliminatória para prolongamento e ainda causou uma grande oportunidade de golo, por intermédio de Sigurdssen, para grande defesa de Oblak. Mas esse também seria um desfecho demasiado cruel para um Benfica que mesmo na partida de hoje, demonstrou que é claramente melhor do que o Tottenham. E talvez por isso, os deuses mostraram que ainda estavam com a águia, ao ser uma grande penalidade marcada a favor do Benfica, no último suspiro do jogo, após derrube sobre Lima. O avançado brasileiro, com a frieza do costume, empatou o jogo e fez descansar os milhares de adeptos encarnados.
Contas feitas, o Benfica está nos quartos-de-final da Liga Europa, ficando a aguardar pelo sorteio de amanhã. Apesar do susto vivido na partida desta quinta-feira, há claramente a noção de que este Benfica tem capacidade para chegar longe na prova, tal como o fez na época passada. Para isso, a equipa portuguesa só tem de continuar a mostrar competência, segurança, expressar a qualidade que tem em muitos dos seus jogadores, e evitar minutos de sofrimento escusado como aqueles por que passou hoje.
A Figura
Ezequiel Garay – É impressionante o momento de forma deste soberbo defesa-central. Defende com uma classe ímpar, não erra um passe, entende-se de olhos fechados com Luisão, marca golos em série. Um autêntico craque, que só por um qualquer milagre não deixará o futebol português, no próximo Verão.
O Fora-de-Jogo
Óscar Cardozo – É um grande ponta-de-lança, com um notável faro pelo golo, mas a verdade é que nunca mais voltou a ser o mesmo depois da terrível lesão nas costas, que o apoquentou durante meses. Esforçado, mas sem fazer um único remate, Cardozo voltou a provar que ainda está muito longe do seu melhor, ainda para mais numa fase em que Rodrigo e Lima se encontram num grande momento.