Um Benfica que deu a cara e se arrisca a perder a coroa num jogo com duas faces da moeda | Benfica

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Dois golos num jogo com dois períodos distintos a iniciar uma eliminatória a duas mãos. O Benfica foi superior ao Marselha, esteve no trilho certo para construir uma vantagem confortável, mas acabou por possibilitar um cenário de eliminatória complicada. As duas faces da moeda giraram no relvado da Luz num jogo com dois blocos distintos.

A entrada do Benfica foi impositiva. A equipa de Roger Schmidt, ainda que longe de uma perfeição utópica, apresentou uma melhoria exibicional recente com alicerces muito bem definidos e o Marselha foi, durante grande parte do encontro, presa demasiado fácil para uma águia com muita fome e vontade de comer. Afinal, a Liga Europa é o mais próximo que o Benfica tem da salvação.

O Benfica cresceu com a entrada de Florentino em campo, especialmente em jogos em que o adversário não se feche atrás e que permita criar sem ser preciso uma criatividade sobrenatural no passe. O médio do Benfica é, à semelhança da primeira fase de Roger Schmidt no Benfica, o que se aventura na pressão, procurando morder os calcanhares adversários e agigantar-se. Poder defender mais alto esconde muitas das dificuldades do Benfica quando precisa de envolver os extremos no processo defensivo.

Ofensivamente é também um Benfica mais solto e com maior peso para os criativos. Na fase mais delicada da temporada, Schmidt – que teve muitas reservas em fazer algo do género em 2022/23 – juntou Rafa, David Neres e Ángel Di María e depositou nos três a confiança para o Benfica criar. Juntou-lhes um avançado de perfil distinto, mais trabalhador e cujo perfume não surge dos pés, mas do suor que se acumula em constantes vaivéns e ruturas na diagonal e confiou-lhes a missão de agredir os adversários. Contra o Marselha foi suficiente durante parte do jogo.

As várias lesões e ausências dos franceses levaram Jean-Louis Gasset a apostar num 5-4-1 com Luís Henrique a fechar à direita e Amine Harit a defender sobre o mesmo corredor. A transição ataque-defesa com o brasileiro muitas vezes balanceado na frente e o marroquino por dentro, a gozar da merecida liberdade de procurar jogar perto da bola, foi ponto de aproveitamento para o Benfica. David Neres, principalmente, procurou receber numa zona intermédia entre lateral e central para obrigar a teia do Marselha a mexer-se e a abrir espaços e o Benfica, por meio de combinações diretas, entrou na área. No primeiro golo via Rafa-Tengstedt, no segundo pelo duo Di María-Neres.

Rafa Silva Benfica Marselha
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Sem nunca perder de vista a baliza adversária, o Benfica conseguiu, nesta fase, ir gerindo o jogo e, ao mesmo tempo, ludibriar a defensiva do Marselha. O golo madrugador ajudou Schmidt, trouxe várias configurações táticas aos franceses e permitiu ao Benfica ir ameaçado por dentro. Os laterais subiam (principalmente Bah, projetado para aproveitar o menor compromisso de Aubameyang) e os desequilibradores juntavam-se por dentro, procurando combinar para levar o Benfica a entrar na defensiva marselhesa.

Mesmo sem bola, o Marselha raramente criança perigo de forma coletiva e quando o fez a bola passou por Amine Harit. Não há esférico que chore nos pés do marroquino que trata a bola por tu, roda e procura sozinho fazer o campo balançar. O Marselha tentou muitas vezes atrair Florentino e João Neves para a esquerda e soltar rapidamente em Harit que, por dentro, podia rodar. Mas nem estes rasgos causaram mossa ao Benfica até ao segundo golo encarnado.

Uma vantagem de 2-0 dava um cenário confortável ao Benfica para a segunda mão. E Roger Schmidt procurou, antes de marcar o terceiro, não sofrer um golo que fizesse abalar a Luz e acabou por levar com o próprio feitiço.

A segunda face da moeda surgiu depois do golo de Di María e trouxe um Benfica mais passivo ao jogo. As águias continuaram a ter mais bola, mas deixaram de procurar agredir o adversário, fazendo-a apenas circular de um lado ao outro. Quando o Benfica tentou acelerar, deixou de o fazer com critério – as tais combinações curtas – e procurou antes uma bola mais longa que não resultou.

Roger Schmidt abdicou da pressão tão alta e quis resguardar-se embalando o jogo numa doce e melódica melancolia de quem quer passar pelos pingos da chuva sem se molhar. Não o conseguiu fazer e a sensação de jogo tranquilo e de vitória empolgadora esvaiu-se num erro de António Silva. A música de embalar soou demasiado alto, o português deixou-se dormir num lance único – fazia uma sólida exibição até então – e o matreiro Aubameyang apareceu para reduzir. Quem adormeceu foram as águias e já não voltaram verdadeiramente a acordar.

Pierre-Emerick Aubameyang Marselha
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Roger Schmidt tinha despertadores no banco, mas o conservadorismo foi mais forte. O técnico do Benfica continua a mostrar reticências na altura de ler o jogo e de mexer. Quando o plano inicial não funciona – ou deixa de funcionar a certa altura – não há muito a fazer e os encarnados acabam por se subjugar ao que o jogo tem de melhor e pior.

O jogo podia ter terminado num 3-0 ou algo parecido e o 2-1 foi uma face da moeda cruel para o Benfica que foi penalizado pela abordagem conservadora. Daqui a uma semana saberemos qual o tamanho da penalização perante um Vélodrome lotado naquela que é a única esperança do Marselha na temporada. Há que saber escolher cara ou coroa.

BnR na CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

Roger Schmidt: Não foi possível realizar qualquer questão a Roger Schmidt, treinador do Benfica.

BnR: Nos oitavos de final da Liga Europa o Marselha sofreu em Espanha mas tinha o conforto de uma vitoria gorda no Velodrome. Por um lado, sair vivo para disputar a segunda mão em casa era um objetivo e por outro podemos esperar uma postura diferente pelo ambiente no estádio e pela necessidade de dar a volta ao resultado?

Jean Louis-Gasset: «É obvio que controlamos menos os nossos jogos fora da Liga Europa do que os jogados em casa. O fervor do público, o empenho dos jogadores e a tática, que pode ser mais ofensiva, faz com que tenhamos de jogar um jogo perfeito para nos apurarmos».

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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