Terça-feira, dia 15 de Abril de 2014, bar da Escola Superior de Comunicação Social: do nada, dou por mim a verter uma ou outra lágrima, enquanto falo de toda a mística benfiquista e de tudo aquilo que poderá vir a acontecer, no próximo fim-de-semana.
Segunda-feira, noite de 14 de Abril de 2014, quarto da minha mansão lisboeta: dou por mim a verter várias lágrimas, ao rever tudo aquilo que se passou no dia dedicado às cerimónias fúnebres de Eusébio.
E, assim como referi estas datas e factos, poderia ter referido outros, como sendo a minha massiva visualização dos festejos do título, em 2010, ou o resumo alargado do Sporting 3-6 Benfica, em 1994, ou o resumo do Leça 1-5 Benfica, de Janeiro de 1997 (atenção, também vejo muitos resumos que se reportam a desaires do maior de Portugal). O que importa aqui realçar é a forma como o Benfica ocupa um espaço tremendo na minha vida, nos meus hábitos, no meu quotidiano. Admito: não consigo estar mais de cinco minutos sem pensar neste clube e, fundamentalmente, na temporada que tem vindo a realizar e naquilo que nos poderá reservar o futuro.
Mas digam-me lá: como é que eu não hei-de amar o Sport Lisboa e Benfica? Depois de um final de época tão dramático e penoso como aquele que aconteceu no ano passado, que outro clube conseguiria reerguer-se desta forma? Que outro clube tem esta aura? Que outro clube consegue colocar milhões e milhões de pessoas em suspenso? Que outro clube consegue superar um FC Porto, estando a jogar com menos um jogador desde os 30 minutos de jogo? Que outro clube consegue ter tanto ex-jogador, de nacionalidade estrangeira, a torcer por ele?
Assumo: sou o típico adepto benfiquista! Ao longo desta época, como podem comprovar por alguns dos meus primeiros artigos, já fui um crítico veemente do clube, porque na altura o Benfica merecia isso. Penso que sempre mantive a coerência, porque nestas coisas do futebol tudo muda num ápice. Neste momento, é impossível dizer mal do que quer que seja. Ontem dei por mim, no final do Benfica vs FC Porto, quase com os olhos empapados, a olhar completamente babado para toda aquela atmosfera na Luz. Ao longo desta quinta-feira, já vi e revi dezenas de vezes o golaço de André Gomes.
O problema é que, mesmo que eu quisesse que o ego baixasse um pouco, não daria! Somos o clube europeu com mais adeptos no próprio país, segundo estudo oficial da UEFA, isto dias depois de termos transformado Aveiro num autêntico vulcão benfiquista. Temos filas intermináveis junto às bilheteiras do Estádio da Luz, com vista a adquirir o bilhete mágico para esse aguardado Benfica vs Olhanense. Tivemos uma equipa de júniores a disputar a final da Youth Cup, de uma forma digníssima.
Ontem à noite, ao ver todos aqueles adeptos que invadiram o terreno, completamente eufóricos para comemorar um golo com os seus ídolos, eu revi-me totalmente neles! Isto é uma doença, talvez seja, mas é esta maleita que nos torna uma massa adepta única, completamente sofredora, que torna o Estádio da Luz em algo transcendente, em algo inigualável.
No próximo domingo, como todos os restantes milhões de adeptos do meu clube, espero festejar o 33º título nacional. Sem provocações aos rivais, sempre a cantar pelo nome do Benfica, tornando o dia 20 de Abril, domingo de Páscoa, em algo sobrenatural. Nós somos o Sport Lisboa e Benfica, conseguimos paralisar Lisboa, Aveiro, Braga, Paris, Genebra, Lausanne, Díli, Newark, e todo o restante local em que exista oxigénio. Somos o clube do povo, das massas! Na segunda-feira, se tudo correr bem, veremos médicos, juízes, lojistas, barbeiros, desempregados, sem-abrigo, toxicodependentes, o que quiserem, felizes! Porque, independentemente da conjuntura de Portugal, um título do Benfica é algo de único, é algo que nos faz esquecer de tudo aquilo que temos à nossa volta.
Eusébio da Silva Ferreira e Mário Coluna, onde quer que estejam, devem estar radiantes por ver que o Benfica está à imagem deles – grandioso, corajoso, sem medo de nada nem de ninguém, a encantar milhões de adeptos. Por isso, Sport Lisboa e Benfica, mais uma razão para dares tudo o que tens neste fim-de-semana pascal: homenagear estas duas lendas do futebol nacional, que durante quase toda a sua vida te veneraram.
Bem, e agora eu, como em jeito de despedida, digo-te, maior de Portugal: dá-me esta alegria suprema, que é como quem diz, seres campeão nacional. Só penso em ti, quando jogas entro noutro mundo, já prejudiquei namoros por causa de ti, já tive discussões em casa por causa de ti, já saí abruptamente de espaços públicos por causa de ti, já sorri, e muito, por causa de ti, já chorei por causa de ti, já saí até às tantas por causa de ti, já me fechei no quarto por causa de ti. Não te estou a cobrar nada, porque isto é instintivo. Mas vá, faz lá felizes tantas e tantas pessoas.
Porque tu, Sport Lisboa e Benfica, és mesmo um dos meus suportes básicos de vida, desde 2 de Janeiro de 1989. Sem ti, não andava cá a fazer nada.
P.S: Confesso que desejo ardentemente ouvir anúncios de trânsito radiofónicos, no próximo domingo, do género: “Trânsito muito condicionado entre o Saldanha e o Marquês de Pombal”…