Só faltava a laje, para colocar à cabeça de uma cova há muito escavada. Só faltava a Madeira, para fabricar um caixão há muito encomendado. Talvez por custar enfrentar a morte, mesmo que se trate da morte de um ciclo, ainda não tinha havido coragem (como de costume…) para deixar ir Bruno Lage.
Numa clara demonstração de falta de punho, liderança e visão do (ainda) presidente do Sport Lisboa e Benfica, a anunciada e desejada saída de Lage do comando técnico dos futuros vice-campeões nacionais só se materializou quando o próprio ex-técnico dos encarnados se viu forçado a colocar o lugar à disposição.
No entanto, mais do que a saída, surpreendeu a queda de Bruno Lage. De viver um estado de graça por graça de Jaime Graça a cair em desgraça sem que ninguém ache graça alguma foi um instantinho. Em cerca de ano e meio, Lage caiu sem paraquedas do pico mais alto dos céus divinos (Monte Eusébio, creio ser o nome) até às mais profundas profundezas do Inferno da Luz.
Compreender-se-ia, com relativa facilidade, que Lage alcançasse um patamar razoável e caísse para um não tanto razoável. Não se compreende, nem muito menos se explica, que um treinador atinja um patamar em que bate recordes históricos positivos e caia depois para um patamar em que quebra recordes históricos negativos.
Todavia, não foi (apenas) por culpa própria que Lage caiu tanto. Luís Filipe Vieira podia e devia ter amparado a queda do setubalense ainda nos anos a.C. (antes do Covid). Não o fez então, não o fez depois e não o fez agora! Talvez, quiçá, tenha visto a luz e decidido ignorar desta vez. O problema é que, desta feita, a luz era da traseira de um camião, contra a qual o Ferrari vermelho se enfaixou. Por falar em enfaixar, podem pintar de azul e branco as faixas de campeão…
O futebol encarnado perdeu qualidade. Logo, o SL Benfica perdeu jogos (e competições). Logo, Bruno Lage perdeu o emprego. Feliz ou infelizmente, as coisas são algebricamente assim. É tempo agora de Lage procurar uma nova aventura e das águias procurarem um novo aventureiro. E terá que ser um enorme aventureiro o próximo timoneiro do clube da (pouca) Luz, porque não é qualquer pessoa sã que aceita treinar uma equipa cuja ala direita é composta por André Almeida e Pizzi.
No momento da despedida, pouco mais posso escrever (já que não posso utilizar profanações). Podia socorrer-me de toda uma miríade de estatísticas e dissertar sobre elas e tentar explicar o inexplicável. Podia recolher toda uma panóplia de opiniões e citações e pronunciar-me sobre as mesmas. Contudo, neste momento de emoções fortes e dilacerantes, apenas um número interessa: um.
Bruno Lage sai do SL Benfica com um título de campeão magistralmente conquistado e com um triunfo em cinco jogos após a retoma. Foi bom, muito bom, enquanto durou, mas nada dura para sempre (nada, Vieira, nada…). Obrigado pelos bons momentos, Lage. Espero que a vida te vista de sorte, mas o teu ciclo terminou. Ponto final. Parágrafo. Fim.