Carta aberta a Rui Manuel César Costa

     

    Caro Rui Costa,

    Escrevo-te esta carta porque sei que o Luís Filipe Vieira não tem vagar para estas leituras.

    Foste formado cá, foste campeão nacional, choraste no regresso à Luz com outra camisola, exultavas o teu amor ao SL Benfica em cada intervenção pública e até voltaste no ocaso da carreira.

    Uma história de amor perfeita – se fecharmos os olhos à demora em voltar, tendo sido necessário arrastares-te por Itália até à falência total do teu futebol para o alto nível -, que agora metes em causa por valores que, no teu entender, mais alto se levantam.

    Não do tipo que Mário Wilson proclamou numa certa gala, mas uns mais egoístas, que menos se adequam aos ideais benfiquistas.

    É provável que mantenhas ainda a boa imagem perante considerável franja de sócios e simpatizantes. E é provável que também saibas que cada vez mais te exorcizam outros, que condenam a tua associação ao círculo criminoso que comandou os destinos do clube durante tanto tempo.

    O termo “banana” não nasceu por simples implicação cómica, é uma referência triste à tua conivência com o lamaçal em que se tornaram os gabinetes da Luz: podias ter optado pelo afastamento, como o fez, por exemplo, Nuno Gomes.

    Mas não, optaste por te emaranhar na rede de negociatas e afundares-te em suspeições e registos que metem em causa a tua reputação e a validade do teu amor pelo SL Benfica. Queres agora dar a entender que devemos confiar em ti e no teu benfiquismo para prosseguires enquanto líder máximo da instituição, insinuando uma distância moral entre ti e os mesmos que hoje se encontram nos calabouços de Moscavide?

    O SL Benfica, como tão bem sabes, já era democrático em altura de monarquia e ainda mais o foi em alturas de ditadura. Era a expressão máxima de liberdade num país amarrado pelo poder de figuras sinistras e interesses fossilizados – a mesma situação que, por infeliz troca de papéis, tão bem se aplica ao (teu) SL Benfica em 2021.

    Mariana Mortágua e Cecília Meireles deram o mote e despoletaram o final processo de dinamização de toda a onda contestatória reprimida por 18 anos de opressão. Há, finalmente, sustento para as vozes de revolta, tantas vezes caladas, de se exprimirem livremente.

    Até os estatutos gritam por eleições livres, auditoradas por entidades verdadeiramente independentes que impeçam ilusionismos de pacotilha para disfarçar vitórias: Rui, o lugar não é teu por direito de linha sucessória. Ninguém te impede de concorreres enquanto candidato à presidência – não te tentes é alapar ao lugar, nem fingir pureza de espírito para assumires tão naturalmente a presidência.

    “Suspensão de funções”, diz ele. Sabendo tu que os estatutos não permitem essa opção, qual vai ser a resposta? Estarás tu a levar um ‘bigode’ daquele de quem sempre aceitaste tudo, aquele que ia pondo o nome do SL Benfica em causa enquanto tu fazias vista grossa? Não querendo eu acreditar que as comadres se tenham zangado, pois, afinal, tu não estarás ainda completamente a salvo, pelo que tem vindo a público. Qual o próximo passo, Rui?

    De alguém que conviveu de perto com o último grande presidente do SL Benfica, o senhor Jorge de Brito, alguém que tirava enormidades do próprio bolso para dar ao clube – noutra clara inversão da realidade atual -, estarás tu ainda capacitado para personificar valores de tão grande paixão e dignidade benfiquista, os mesmos que ignoraste durante tanto tempo ao preterir os interesses do clube por outros mais obscuros e dos quais tiraste todo o proveito?

    É que poderá ser essa a tua salvação, por mais soterrado que estejas.

    Artigo revisto por Gonçalo Tristão Santos

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.