Uma era chegou ao fim. Depois de oito anos ao serviço do Sport Lisboa e Benfica, Rafael Alexandre Fernandes Ferreira da Silva, popularmente Rafa, pisou pela última vez o Estádio Da Luz enquanto jogador do clube.
161 golos e assistências em 325 jogos de águia ao peito tornam o avançado numa figura incontornável da história recente do clube. Figura essa que, apesar de tudo aquilo que conquistou e alcançou ao serviço dos encarnados, deixou sempre um espaço para o “se”. E “se” finalizasse melhor? E “se” decidisse melhor? E “se” fosse mais constante?
A verdade é que entre um “se” ou outro, escondidos entre a realidade longínqua, Rafa foi ao longo destas oito épocas uma peça crucial em todas as caminhadas percorridas pelos encarnados, mesmo registando uma certa inconsistência, difícil de prever e perceber em certas ocasiões.
Ainda assim, a história não é escrita a partir de cenários hipotéticos ou alternativas à realidade. A mais pura realidade é que o impacto de Rafa no Benfica é inegável e absoluto. Além disso, somando ao que entregou dentro das quatro linhas, Rafa deixa também uma marca de lealdade e honra a nível interno. Oito anos não são oito meses ou oito dias, e não há nada que apague esse facto.
No último jogo de águia ao peito no Estádio que o viu brilhar em tantas ocasiões, Rafa fez um retrato dos últimos oito anos de Benfica. Uma exibição de classe, importante a todos os níveis, que empurrou a equipa para a vitória, mas que, mesmo assim, deixou espaço de sobra para um nível ainda mais superior.
Numa tarde em que as atenções se centravam nele, o próprio não quis assumir o papel de principal protagonista em qualquer circunstância. Nunca o quis.
A recusa na conversão de duas grandes penalidades oferecidas pelos colegas primeiro estranhou-se, mas depois justificou-se quando Rafa finalizou dois lances que acabaram em golo, mostrando mais uma vez que “se” ele quiser, ele fá-lo. Depois da recusa à seleção na temporada passada, a dose repetiu-se na tarde de domingo, mas sem motivos para alarme desta vez. Mesmo podendo ter saído da Luz com mais dois golos, Rafa deixou-se ficar pelos 94 que serviram para atingir o mesmo patamar de jogadores como Simão Saborosa ou Pizzi. Um patamar aparentemente satisfatório e honroso para o próprio. Desta forma, um bis e uma assistência bastaram para ser ovacionado pela massa adepta de maneira que se possa relembrar deste dia como o dia em que se despediu do Estádio da Luz.
Uma despedida que apesar de notoriamente positiva, não foi perfeita. Certamente um clima mais estável e um troféu nas mãos serviriam de palco para o imaginado adeus perfeito, algo que acabou mesmo por faltar para tal acontecimento.
No que diz respeito ao próprio, nada mais havia a fazer. Naquela que foi a melhor temporada do jogador, estatisticamente falando, a sua contribuição não foi suficiente para terminar a história conjunta da maneira mais feliz possível, colmatando assim com uma saída repleta de dissabores.
É neste contexto que surgem as incógnitas: E “se” o melhor de Rafa ainda está por vir? E “se” for possível algo mais? A verdade é que a ânsia por algo mais nunca foi a imagem de marca do número 27 das águias, que foi respeitando sempre o caminho traçado por ele mesmo. Agora, só ele saberá o que o futuro lhe reserva, ou aquilo que ele próprio reservou.
Para trás, fica a memória de um jogador que marcou um clube, que marcou uma geração, e que se junta assim à lista de grandes figuras do Sport Lisboa e Benfica.