«Lembro-me da estreia no estádio da Luz e de um momento (logo no inicío do jogo) em que apareço na cara do Quim (ex Internacional A) e por pouco não fiz o golo. Teria sido fantástico, porque tinha juntado uma boa exibição a um golo.»
BnR: Os jovens de hoje em dia são lançados cada vez mais cedo, com 18, 19 e 20 anos. Terá algum jogador maturidade, em termos futebolísticos e até pessoais, para entrar em campo e entender os diferentes momentos do jogo?
DL: Depende dos jogadores e das suas personalidades. O mais importante é o jogador ter muita confiança em si mesmo, sem se deixar influenciar pelo que se passa à sua volta. Existem formas de melhorar a auto-estima, o foco, a concentração e a preparação para a oportunidade que acabará por surgir. Os clubes, sabendo que têm um jogador com enorme potencial, têm de retirar o melhor rendimento desportivo e isso passa por fazerem com que, psicologicamente, esteja nas suas melhores condições e consiga gerir todas as situações que vão acabar por acontecer.
BnR: Acabou a carreira aos 28 anos. É mais difícil hoje um jogador se manter ao mais alto nível em relação à época em que jogava?
DL: São alturas diferentes, não posso efectuar essa comparação. O futebol é efémero, passa muito rápido. Existem muitos factores que podem influenciar a carreira de um jogador. Mas um jogador só consegue controlar um desses factores, que é o seu rendimento. Para alguém se manter ao mais alto nível em alta competição, tem de trabalhar nos limites, ser profissional, ter a humildade para estar sempre a aprender e respeitar todos os intervenientes no jogo. E estes critérios tanto se aplicam hoje, como no meu tempo.
«Não acredito que o problema esteja especificamente na defesa, mas sim no processo (ou ausência dele) defensivo da equipa como um todo.»
BnR: O caso de Bruno Varela, no jogo contra o Boavista, demonstra a fragilidade de lançar jovens jogadores. Deveria Rui Vitória manter a aposta no guardião?
DL: A questão não tem que ver com ser jovem, porque tanto falha o Bruno Varela como o Júlio César ou o Rui Patrício. O fundamental é a qualidade. Ou tem qualidade ou não tem. A situação ganha ainda mais relevo porque o ano passado na baliza estava Ederson. Rui Vitória deveria ter definido quem iria ser o seu titular, a partir do momento em que Júlio César recuperou, se iria ser ele a primeira opção, Rui Vitória deveria ter, desde logo, substituído Bruno Varela. Neste caso, Varela continuou a titular. A situação só se alterou no momento em que Bruno Varela cometeu um erro e esse foi aproveitado para colocar Júlio César como titular. Não me parece que tenha sido a melhor forma de gerir a situação. Claro que analisar tudo de fora, torna as coisas mais fáceis.
BnR: A defesa, que era a posição onde jogava, é atualmente um dos pontos fracos do Benfica. Estará a solução para esses problemas na formação?
DL: Esta é uma questão difícil. Não tenho conhecimento profundo da formação para poder responder de uma forma concreta. O que me parece é que se está a individualizar o erro e não a olhar para a questão de uma forma coletiva. Apesar das opções para a defesa e baliza não terem a mesma qualidade que no último ano, o Benfica continua a ter melhores jogadores que muitos dos adversários que tem defrontado. O grande problema está na forma como o Benfica (não) defende coletivamente. Existe demasiado espaço entre sectores. Jogar com dois homens no centro do meio campo exige que outros jogadores tenham tarefas que ajudem a equipa a equilibrar-se e a tornar-se compacta. Esses jogadores são os alas, que têm de efectuar um trabalho tático de grande sacrifício e que, nesta fase, não o estão a fazer. Os dois homens mais avançados também têm um papel fundamental, na forma como têm de limitar a saída de bola dos adversários, como têm de reagir à perda de bola. Não acredito que o problema esteja especificamente na defesa, mas sim no processo (ou ausência dele) defensivo da equipa como um todo. Existem comportamentos que têm de se adquirir e que se a equipa o fizer, naturalmente o Benfica irá ficar mais forte.
BnR: A questão que suscita dúvidas entre os adeptos encarnados é a do capitão Luisão e da sua titularidade garantida. Nesta fase da carreira a disponibilidade física não é a mesma. É altura de dar lugar aos mais jovens ou, pelo que já deu ao clube e pela experiência que tem, deve continuar a merecer a confiança de Rui Vitória e de Luís Filipe Vieira?
DL: Essa é uma falsa questão. O Luisão nunca foi um jogador rápido, mas tem comportamentos e características que podem ser uma mais valia para a equipa. Tem experiência, capacidade posicional, sabe comandar a defesa. Quando digo que isto é uma falsa questão é porque olho, por exemplo, para a Juventus e um dos titulares da defesa é o “jovem” Barzagli, que tem 36 anos. Ao seu lado joga o também “jovem” Chiellini que tem 33 anos. Alguém diz que Barzagli não devia jogar? A questão é que a Juventus joga como uma equipa, compacta, com os sectores interligados, não permite espaço aos adversários. Estes dois jogadores na Juventus até são uma mais valia para a equipa apesar da idade.