Força da Tática: João Félix e o estou-me cagandismo

    Há muito tempo atrás, o Seixal foi o local escolhido para o início da materialização do sonho de dois irmãos, que iria mudar para sempre a história de Portugal. Foi nessa cidade do Distrito de Setúbal que Paulo e Vasco da Gama construíram as embarcações para a viagem à Índia. 520 anos mais tarde, as margens do estuário do Tejo voltam a presenciar o início de uma nova história de sonho.

    Este jovem não irá “navegar por mares nunca dantes navegados”, mas o único e fascinante “estou-me cagandismo” vai encantando as bancadas do Estádio da Luz.

    Como todos sabemos, no próximo fim-de-semana o SL Benfica vai ao Estádio do Dragão para um jogo que será decisivo na luta pelo título. Félix vai marcar (novamente)? Assistir (novamente)? Colocar Seferovic em condições de decidir o jogo (novamente)?

    Ninguém sabe, mas o tal “estou-me cagandismo” continuará a ser parte importante deste “novo” Benfica, que vai procurar assaltar a liderança azul e branca, com o veneno, a agressividade, e as chegadas constantes e de qualidade a zonas de finalização, que têm carterizado a equipa de Bruno Lage.

    Afinal, o que é o “estou-me cagandismo”?

    Para ter a resposta mais correta e verdadeira possível, só perguntando a Ricardo Araújo Pereira, que acredito ser o autor a quem “roubei” esta expressão. Contudo, recordo-me de pensar na primeira vez que o vi jogar João Félix: “Será que puto sabe quem é o adversário? Parece que está no parque”.

    Agora, eu pergunto ao leitor: O que se recorda do SL Benfica x Sporting CP da 1ª volta?

    Será que foi de um “puto” que entrou, dono de uma personalidade que não conhece intimidação ou pressão, e empatou o jogo?

    Precisamente.


    Fonte: BTV

    Como ele sabe e como ele quer.

    Joga com o 79, decide como um 10, finaliza como um 9 e impacta o jogo como um 5.

    Entra para cada jogo sem expetativas nenhumas. Independentemente daquilo que o jogo lhe peça para tocar, seja piano, violino, bateria, acordeão ou bateria, a sua inteligência e capacidade técnica nunca deixam a equipa refém da incerteza do jogo.

    Por mais difícil que seja o contexto, ele acaba sempre por encontrar e tomar a melhor decisão. Com e sem bola, todas as decisões deste “veterano” de 19 anos colocam o coletivo primeiro e mais perto do sucesso.

    Não faz parte daquelas sensações do Youtube, que, por cada finta que adicionam ao seu fantástico vídeo de 5 minutos de “Skills”, somam uma brutalidade de perdas de bola. A sua intervenção aporta sempre valor. Tenta ser aquilo que a sua precisa que ele seja em cada momento do jogo.

    Que seja um 10, numa cabine telefónica, a assistir?


    Fonte: Liga Portugal

    Que seja um 9, no sítio certo para encostar (e ainda fintado a câmara de TV)?


    Fonte: Liga Portugal

    Que seja o Defesa Central que sobe à área para a bola parada?


    Fonte: Liga Portugal

    Que seja o Médio Centro que ajuda no início da criação?

    Fonte: Liga Portugal

    A sua criatividade, inteligência, e tomada de decisão permitem-lhe ser tudo em campo, contudo, não é pela capacidade de ser “tudo” que João Félix é absurdo, mas pela sua capacidade em o ser no momento certo. Na forma como dribla, como provoca o adversário, tudo acontece no timing certo.

    Assim é o “estou-me cagandismo” de João Félix. Onde não há urgência em ir atrás da gratificação imediata, não há existe pânico, mas sim serenidade, não há sofrimento, mas prazer.

    Onde há futebol.

    Artigo corrigido por: Mariana Coelho

    Foto de Capa: SL Benfica

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    João Mateus
    João Mateushttp://www.bolanarede.pt
    A probabilidade de o Robben cortar sempre para a esquerda quando vinha para dentro é a mesma de ele estar sempre a pensar em Futebol. Com grandes sonhos na bagagem, está a concluir o Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, pela Uni-Nova e procura partilhar a forma como vê o jogo com todos os que partilham a sua paixão.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.