BK Häcken 1-2 SL Benfica: Um resultado histórico e muito bem Amado

    A CRÓNICA: GOTEMBURGO, SL BENFICA TEM ALMA

    O SL Benfica foi à Suécia bater o BK Häcken por 2-1, vingando a derrota em casa há uma semana e somando o primeiro triunfo da sua história numa fase de grupos da Liga dos Campeões Feminina. Desta forma, as águias passam a somar quatro pontos, tal como as suecas e o FC Bayern Munchen (receberia mais tarde o Olympique Lyonnais). Parece que é mesmo a quatro (pontos) que se joga à sueca…

    Mas como foi o jogo? Segue um resumo alargado, que para sintético bastou o relvado. Apesar do frio tipicamente nórdico, o jogo começou com o calor tipicamente português da técnica apurada e da bola no pé. No pé de Kika Nazareth, então, a bola escalda – mas nunca queima. E foi precisamente dos pés da aniversariante que surgiu o primeiro lance de perigo do encontro. A jovem portuguesa rematou de fora da área, mas Falk correspondeu da melhor forma, cedendo canto.

    A turma sueca não morreu da doença, mas morreu da cura. Na sequência do canto, as encarnadas jogaram tiro ao alvo duas vezes na área do BK Häcken até ao tiro final e certeiro de Cloé Lacasse (ela sim, habituada ao frio nórdico). Ainda três completos minutos não se haviam jogado e as águias já estavam em vantagem no marcador. Não gostaram as suecas.

    Não se resignaram. Ao invés, passaram a ter mais bola e à passagem dos 12 minutos criaram o seu primeiro lance periclitante. Kalernäs correspondeu de cabeça a uma bola bombeada para a área encarnada num livre em posição frontal. O poste esquerdo da baliza de Letícia sentiu a movimentação do ar à passagem da bola. Foi sol de pouca dura e, como tal, voltou a resfriar-se o encontro.

    Só a um minuto do intervalo surgiu novo lance digno de marcar presença neste rescaldo: cruzamento da direita e cabeceamento de Larsen. Felizmente para as campeãs portuguesas, a bola seguiu quase exatamente o trajeto que havia seguido no lance de Kalernäs. Clima e jogo à mesma temperatura. A ordem para recolher aos balneários foi acatada com toda a urgência e vontade.

    O reatar da partida trouxe consigo perigo para a baliza alugada às águias. Depois de uma boa jogada pela esquerda – com o contributo da recém-entrada Csiki -, o esférico chegou ao pé direito de Kaneryd, na outra ala, que rematou cruzado para defesa de Letícia. 55 segundos de vida tinha a segunda parte. Perigo cá, perigo lá. Do outro lado do campo, um livre lateral batido por Kika fez a bola alcançar a cabeça de Pauleta.

    A capitã forasteira viu o festejo do golo ser-lhe negado por uma boa defesa de Falk. Poucos minutos mais tarde, haveria de ser Lacasse a acrescentar arrepios de susto aos arrepios de frio dos adeptos da casa, novamente de cabeça. Vivia-se na Hisingen Arena um período pingue-pongue, com a bola a estar perto de ambas as balizas.

    Gejl, novamente através de um remate cruzado pela direita do ataque sueco, voltou a assustar Letícia. A ausência de golos ia provocando uma transmutação na filosofia encarnada e o SL Benfica ia jogando mais com o relógio, procurando manter a posse. A estratégia, contudo, sofreu um enorme percalço quando Ucheibe tomou a insensata e desnecessária decisão de cortar a bola com o braço direito dentro de área. Mão direita é mesmo penalti…

    Rubensson mimetizou o que havia feito no Seixal e colocou a bola nas redes. A grande penalidade bem batida pela “10” sueca restabeleceu a igualdade, aos 74 minutos, e mudou o paradigma estratégico do jogo. Ambas as equipas partiram em busca do 2-1. Larsen, aos 86 minutos, foi a primeira a estar próxima de o fazer, mas Letícia negou-lhe a intenção.

    Logo a seguir, foi com um remate em arco que Mijatovic procurou, sem sucesso, o golo da vantagem. O golo haveria de surgir, sim, mas do outro lado. Já em período de descontos, Kika bateu um livre frontal que levou o esférico ao encontro de Catarina Amado e a lateral das águias encostou para o 2-1 final.

    A FIGURA

    Kika Nazareth esteve em destaque frente ao Häcken
    Kika Nazareth esteve em destaque frente ao Häcken
    Fonte: Sebastião Rôxo / Bola na Rede

    Kika Nazareth – Não marcou, é certo, mas a jovem que completou neste dia 19 anos foi a autora do remate perigoso que obrigou Falk a ceder o canto que viria a redundar no golo inaugural do encontro e do cruzamento que serviu Catarina Amado para o golo que selou a vitória para as águias. Está, de forma mais ou menos direta, nos dois golos e continua a espalhar qualidade sempre que entra em campo.

    Nota também para a exibição de grande qualidade de Cloé Lacasse.

    O FORA DE JOGO

    Lotta Ökvist – Não deu à sua equipa o que esta precisava ofensivamente e defensivamente cumpriu os mínimos, à exceção de a um respeito: disciplina. A lateral-esquerda do BK Häcken foi a única amarelada do lado das suecas no primeiro tempo e o seu timoneiro já não a deixou “andar à Lotta” na segunda parte. A entrada positiva de Csiki para o seu lugar deu a perceber de forma ainda mais clara a exibição menos conseguida na primeira parte da ex-Manchester United FC.

     

    ANÁLISE TÁTICA – BK HACKEN

    O conjunto de Robert Vilahamn posicionava-se sem bola num 4-5-1 que, por vezes, virava 4-1-4-1, com Larsen sozinha na frente e incumbida de ser o primeiro elemento de pressão sobre a construção encarnada e com Curmark a ser a média mais central e recuada das aurinegras.

    Com bola, as vice-campeãs suecas construíam pelas centrais e dando grande amplitude ao seu jogo pelas laterais. Na frente de ataque, Gejl (pela esquerda) e Kaneryd (pela direita) eram quem mais se aproximava de Larsen, que funcionava como elo central do ataque sueco.

    Kalernäs era a figura do meio-campo nórdico que desempenhava as funções mais próximas do que estamos habituados a ver de um médio-ofensivo criativo. Em desvantagem desde cedo, o BK Häcken procurava pressionar a construção das águias na primeira fase, mas sem grande intensidade.

    As suecas preferiam, mesmo estando a perder, utilizar um bloco médio e um pouco mais compacto do que subir o bloco e permitir espaço nas suas costas a jogadoras velozes e tecnicamente evoluídas como Cloé ou Kika. Com a entrada de Komers, o conjunto sueco apostou num sistema diferente, com a recém-entrada a juntar-se a Larsen numa dupla de ataque capicua (as números “21” e “12”). 

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Falk (7)

    Wijk (6)

    Gevitz (6)

    Kollmats (6)

    Ökvist (5)

    Karlenäs (6)

    Curmark (8)

    Rubensson (7)

    Kaneryd (8)

    Gejl (6)

    Larsen (8)

    SUBS UTILIZADAS

    Anna Csiki (6)

    Mijatovic (6)

    Zomers (6)

     

    ANÁLISE TÁTICA – SL BENFICA

    A turma de Filipa Patão/André Vale defendia num 4-3-3 bastante maleável – muito pelo papel fluido e dinâmico que Kika continua a ter nesta equipa -, com Pauleta a ser o elemento mais recuado do meio-campo benfiquista. À sua frente, a espanhola tinha Ucheibe como média-centro-direita e Ana Vitória como média-centro-esquerda. Na frente, Valéria pisava o corredor direito e Lacasse a faixa contrária, ladeando Kika Nazareth.

    Todavia, a “18” das águias recuava substancialmente quando as suecas estavam em posse, descendo para o vértice de um losango que se formava no meio-campo encarnado, transformando-se o 4-3-3 teórico num 4-4-2 losango prático. Na construção desde o primeiro terço, o SL Benfica fazia uso dos bons pés da guardiã Lélé para, com esta subida no terreno, construir a três com as duas centrais.

    Assim, as laterais abriam, dando largura, e estavam libertas para subir no corredor e dar profundidade. As alas/extremos abriam alas para as laterais, ocupando terrenos interiores. Desta forma, as águias povoavam muito o meio-campo, jogavam em campo todo e criavam superioridade numérica com a subida para construção de Letícia.

    Com a entrada de Beatriz Cameirão (saída de Valéria), Cloé passou a jogar mais pela direita, com Ana Vitória a pisar terrenos mais avançados, mas mantendo-se no lado esquerdo que havia adotado como seu desde os primórdios da partida, e com Kika ao meio. Isto num momento inicial, uma vez que, com o decorrer da partida, o novo trio de ataque ia levando a cabo permutas constantes. 

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Letícia (6)

    Catarina Amado (7)

    Carole Costa (6)

    Ana Seiça (6)

    Lúcia Alves (6)

    Pauleta (7)

    Ana Vitória (7)

    Christy Ucheibe (7)

    Kika Nazareth (9)

    Cloé Lacasse (9)

    Valéria (6)

    SUBS UTILIZADAS

    Beatriz Cameirão (5)

    Andreia Faria (5)

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    Márcio Francisco Paiva
    Márcio Francisco Paivahttp://www.bolanarede.pt
    O desporto bem praticado fascina-o, o jornalismo bem feito extasia-o. É apaixonado (ou doente, se quiserem, é quase igual – um apaixonado apenas comete mais loucuras) pelo SL Benfica e por tudo o que envolve o clube: modalidades, futebol de formação, futebol sénior. Por ser fascinado por desporto bem praticado, segue com especial atenção a NBA, a Premier League, os majors de Snooker, os Grand Slams de ténis, o campeonato espanhol de futsal e diversas competições europeias e mundiais de futebol e futsal. Quando está aborrecido, vê qualquer desporto. Quando está mesmo, mesmo aborrecido, pratica desporto. Sozinho. E perde.