«Imagino um Benfica com muito mais títulos e que meta medo aos adversários» – Entrevista Bola na Rede a Martim Mayer

O Benfica está no sangue de Martim Mayer, neto de Duarte Borges Coutinho, que liderou as águias entre 1969 e 1977. É com este mote que o empresário de 51 anos anunciou a sua candidatura ao Benfica, esperando ser eleito e cumprir um legado quase familiar, agora com nome próprio. Acredita ser necessário resolver os problemas financeiros, apostar na formação e reconectar os sócios ao clube e foi com essas prioridades que se apresentou e ao seu projeto em entrevista ao Bola na Rede.

«Quando existe desequilíbrio financeiro, nenhuma tomada de decisão é livre e o Benfica começa a época com um saldo contabilístico negativo de 70 milhões de euros».

Martim Mayer

Bola na Rede: Agradeço a sua presença neste espaço. Começo por perguntar: porquê a decisão de avançar com uma candidatura à presidência do Benfica?

Martim Mayer: Muito obrigado eu. É um prazer estar aqui e ter a oportunidade de falar com os sócios do Benfica. Na realidade, isto é uma junção de dois fatores. Primeiro, a constatação de que o Benfica precisa de uma mudança, precisa de uma evolução e de entrar num capítulo novo. Quero ser essa mudança. Em segundo lugar, porque ao longo dos últimos 20 anos tenho estado a estudar o clube com todo o detalhe e a agregar à minha volta pessoas que têm a mesma visão que eu tenho para o clube. Cada um na sua competência está totalmente apto a dar o seu contributo. Estamos prontos. O meu timing e o timing da minha equipa são os ideais. Cruzo isso com o estado do clube, a perda de identidade, o potencial imenso por realizar e cada vez mais atrasado por via da estagnação em que está o Benfica nos últimos anos. Fruto disso, os maus resultados desportivos e a desagregação e instabilidade desde a direção até à sua estrutura, fazem com que sejam os dois grandes motivos que estão na origem da minha tomada de decisão de apresentar uma proposta para o futuro do Benfica.

Bola na Rede: São estes os dois principais diagnósticos do estudo que realizou nos últimos 20 anos?

Martim Mayer: A base das ideias que trago para o clube está na dimensão que o Benfica tem de sócios e simpatizantes em comunidades espalhadas pelo mundo. É algo de novo, que nunca foi feito e pode ser materializado e monetizado e trazer muito valor à marca Benfica e aos adeptos do Benfica. Os adeptos poderão viver o clube com muito maior proximidade e o clube poderá monetizar essa relação com os adeptos e gozar de outro nível de receitas. Isso permitirá uma gestão desportiva com mais recursos financeiros e, com equilíbrio, trazer uma nova dimensão ao clube, que o volte a pôr no topo do futebol europeu.

Bola na Rede: Uma das palavras que mais tem utilizado na sua candidatura tem sido a palavra prioridade. Qual a prioridade para o Benfica neste momento?

Martim Mayer: Duas coisas igualmente prioritárias. Uma: precisa de equilíbrio financeiro. Quando existe desequilíbrio financeiro, nenhuma tomada de decisão é livre e o Benfica começa a época com um saldo contabilístico negativo de 70 milhões de euros. O segundo: a identidade. Estamos totalmente desligados dos sócios e a direção não está a trabalhar com os sócios, portanto o Benfica perdeu peso institucional, perdeu coesão e a perceção que se tem do clube não é a correta. Parece um clube mais pequeno do que é. Tudo isto por causa da perda de identidade. Estas são as duas grandes prioridades que eu trago. Recuperando estas duas questões vamos, sem dúvida nenhuma, no futebol e nas outras modalidades, recuperar o sucesso desportivo. Mais sucesso desportivo à Benfica, como todos desejamos. Isso também é uma prioridade. Tem de se ir ao fundo das questões. Não se pode só dizer “Eu quero ganhar”. Isso não chega. O que é que eu preciso de fazer para ganhar? As coisas têm uma ordem. É como eu vejo o tema e é isso que eu vou fazer.

«Se olharmos para um clube que tem, em números redondos, 150 milhões de euros em custos e formos buscar 25% disso, estamos a falar quase de 40 milhões de euros».

Martim Mayer
Martim Mayer
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: Entrando a fundo nas suas propostas, e começando pelo equilíbrio financeiro, já garantiu que devido às contas do Benfica é imperial fazer uma grande venda todos os anos. O que é possível fazer para mudar o registo de um clube vendedor?

Martim Mayer: Nós temos uma excelente formação e devemos continuar esse trabalho. Quanto a mim, para melhorar esse trabalho tem de haver uma maior coordenação entre scouting, academia, equipa B e sub-23, e equipa A. Temos isso bem identificado e vamos mudar a estrutura do futebol. Temos de olhar para as receitas provenientes de jogadores da formação e perceber se aquilo que fazemos bem em termos de formação depois é concretizado a 100% num resultado mais maduro desse processo ou se, pelo contrário, vendemos cedo demais. A resposta a isso é que vendemos cedo demais para resolver desequilíbrios financeiros. Maximizar o contributo dos atletas da formação na equipa A e as receitas que poderão vir da venda desses jogadores mais tarde nas suas carreiras é o objetivo. Para isso, temos de não depender dessas vendas e de conseguir progredir do ponto de vista económico em duas direções. A primeira direção é nos custos. Ao contrário de outros candidatos que querem ir tirar esqueletos dos armários e fazer e anunciar auditorias, essa não é a minha linha. A minha linha é de proteger o nome do clube e valorizar e proteger o que foi bem feito por anteriores direções do clube. Os esqueletos do armário tiram-se dentro de casa, à porta fechada, e resolvem-se em família. Obviamente, que há que ir ver o que foi feito no passado, mas as auditorias não se anunciam. As auditorias fazem-se. Muito mais importante que uma auditoria ao passado, é uma auditoria ao presente. No lado dos custos, o que se pode fazer em qualquer empresa, é olhar para a estrutura dos custos, para a forma organizativa do Benfica enquanto empresa e otimizá-lo. Há uma identidade que faz isso como ninguém, a Kaizen Institute. Há mais de 10 anos que sou industrial e o Kaizen Institute olha para uma empresa ou organização e faz o levantamento integral de todos os procedimentos e de todos os fornecedores. Depois, põe as coisas em causa e os colaboradores a trabalhar em equipa com vista a otimizar a organização. Com este processo a acontecer, que é uma coisa que pretendo implementar no primeiro mês em que tiver em funções e que demora cerca de dois anos no seu total a ser completado, parece-nos viável e realista conseguir ir buscar 20 a 25% de redução de custos. Atenção que desde 2018/2019, os custos do Benfica dispararam de uma forma brutal e subiram nos últimos sete anos cerca de 40 a 50%. É muito. Se olharmos para um clube que tem, em números redondos, 150 milhões de euros em custos e formos buscar 25% disso, estamos a falar quase de 40 milhões de euros. É muito dinheiro. Ir ao lado dos custos buscar 50% do desequilíbrio financeiro parece-me a mim muito interessante. Do lado das receitas, volto a tocar na monetização dos adeptos benfiquistas. Houve quem fizesse chacota da ideia. Se tivermos 20 milhões de benfiquistas envolvidos com o clube e para quem o clube tem uma oferta, sejam eles moçambicanos, angolanos, portugueses, canadenses ou norte-americanos e cada um tiver uma oferta para si próprio para gastar dinheiro no clube, estamos a dar uma grande alegria a esses adeptos e ao mesmo tempo a arrecadar receitas para os cofres do clube. O que disse foi que se cada um tivesse a oportunidade de gastar por vontade própria 4 euros por mês, representaria um total de 500 milhões de euros por ano no universo benfiquista. Isto é matemática, não é invenção. Quem brincou com esta ideia ou é de outro clube que não seja o Benfica e tem medo que isto seja feito ou não tem o alcance de perceber que estamos em 2025 e que ter um cliente nos EUA ou na freguesia de Benfica é a mesma coisa.

Bola na Rede: Permita-me uma pequena interrupção para garantir o total esclarecimento. Será sempre uma contribuição voluntária e nunca obrigatória?

Martim Mayer: Não é uma contribuição. É uma compra feita pelos adeptos por ter uma oferta para cada um desses adeptos.

«As pessoas irão gastar dinheiro com o Benfica, ao contrário do que aconteceu nos últimos 10/15 anos, porque mesmo que quisessem gastar dinheiro, não conseguiam. Não é uma operação coração, uma intuição ou um pedido de esmola».

Martim Mayer
SL Benfica adeptos
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Bola na Rede: E qual será o benefício dessa compra?

Martim Mayer: Quando compro o meu Red Pass ninguém me obriga a comprá-lo. Compro porque quero viver o Benfica no estádio e tenho a sorte de ser um dos contemplados pelo Red Pass, ao contrário de 21 mil sócios do Benfica que queriam ter um lugar no estádio e não têm. Por exemplo, em Moçambique com parcerias pré-acordadas com empresas locais, tencionamos abrir um Fun Park permanente para 15 a 20 mil pessoas poderem ver todos os jogos do Benfica no campeonato nacional e na Champions League. À volta desse Fun Park, será gerado um conjunto de receitas que passa por pagamentos de sponsors e compra de merchandising dedicado a esses mercados que têm um poder aquisitivo baixo. Tem de se ajustar a oferta a esses mercados. Passa também pelo lançamento de um cartão de sócio nacional em Moçambique. Podemos facilmente arrecadar essas receitas num universo benfiquista muito grande, são mais de quatro milhões de benfiquistas que existem em Moçambique. Não estou a falar de contribuições voluntárias ou obrigatórias. Estou a falar que estas pessoas podem gastar dinheiro com o Benfica em equipamentos, t-shirts, cachecóis, a ver os jogos. Vão poder fazê-lo porque, na geografia onde vivem, haverá uma oferta do clube para essas pessoas. Elas irão gastar dinheiro com o Benfica ao contrário do que aconteceu nos últimos 10/15 anos, porque mesmo que quisessem gastar dinheiro, não conseguiam. Desmistifico esta questão: não é uma operação coração, uma intuição ou um pedido de esmola. Da mesma maneira que quem vive em Portugal consegue gastar dinheiro com o Benfica, os de Lisboa e, com mais esforço, os que vivem no Norte, também estas pessoas poderão passar a gastar dinheiro com o Benfica porque haverá uma oferta para cada uma delas. Outro exemplo: quero abrir escritórios de representação no Canadá, nos EUA, em França e na Suíça onde há comunidades de benfiquistas superiores a 100 mil benfiquistas. 100 mil benfiquistas são mais que a capacidade do Estádio da Luz. Juntamente com o processo de internacionalização que é feito através de escolas de formação de futebol, se nós organizarmos os dados das pessoas destas comunidades através das casas do Benfica que existem nestes países, rapidamente chegamos à conclusão de que temos a possibilidade de abrir clubes filial do Benfica nestes países. Falo do exemplo de Genebra. Existe um clube que se chama Benfica de Genève, que não tem qualquer ligação económica ao Benfica e que tem uma ligeira ligação clubística. Temos de intensificar a ligação e tomar conta desse clube. Temos de trazer a identidade do Benfica. Queremos que os 100 a 150 mil adeptos do Benfica em Genebra possam ser sócios desse clube. O que acontecerá a esse clube se em dois anos passar a ter 25 ou 35 mil sócios? Haverá uma grande progressão nas receitas do clube, as pessoas poderão viver o Benfica de uma forma totalmente diferente. Não fui eu que tive esta ideia, isto vem na Bíblia do Benfica. Nos anos 60, depois do bicampeonato europeu, o Benfica abriu um clube filial em Braga que se chamava Estrela Vermelha porque as pessoas, à data, não conseguiam vir de Braga a Lisboa porque o caminho demorava mais de sete horas. Surgiu então a ideia de abrir um clube filial em Braga, que é a razão de haver tantos benfiquistas em Braga ainda hoje em dia. As pessoas viam nesse clube uma colagem ao seu clube do coração, o Benfica, e apoiavam esse clube local. Com isso, deu-se forma a essas pessoas de viverem o Benfica à sua maneira e de criar uma ligação ao clube que vai para lá de ver o jogo na televisão ou de ouvir na rádio. Transportando para 2025, pode ser feito da forma que estou a dizer. Tem de ser estudado e o modelo de negócio tem de ser visto muito bem. Temos de saber se deveremos tomar conta do clube por inteiro, se deveremos ter uma parceria e ser detentores de 70% desse clube. Desde a alteração dos estatutos que o Benfica, em tidas as SAD’s que tiver participações tem de ser maioritário. Isto tem de ser visto sob várias perspetivas. Não há nenhuma razão para não fazer isto. O clube filial do Benfica traz riqueza – e de que maneira – à marca e acima disso tudo tem um potencial de captação de receitas muitíssimo grande. Tino e ordem na cabeça das pessoas que gozaram com a minha ideia porque, quando tivermos tudo feito, se Deus quiser vão mudar de opinião e dizer que afinal não perceberam e que a ideia estava toda lá.

«Se tudo isto – merchandising, direitos televisivos, estádio e internacionalização – acontecer, garanto-lhe que os 70 milhões de euros de défice que temos todos os anos pelos custos e pelas receitas, são resolvidos em 2-3 anos».

Martim Mayer
Martim Mayer Benfica
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: Está feito o esclarecimento.

Martim Mayer: Deixe-me dar só mais duas notas à resposta, sei que ela já vai longa, mas é muito importante. Primeiro: ao contrário de obras megalómanas não licenciadas e que não estão estudadas, aumentar o estádio em 18 mil lugares, colocando lá 15 mil novas cadeiras – os três mil de diferença têm que ver com questões de segurança – é possível, economicamente viável e resolve o problema de 15 mil sócios, 75% dos que estão à espera de lugar, e aumenta as receitas. Além disso, há muito a fazer em merchandising. Olhando para os nossos rivais e para o tamanho da nossa massa associativa, devíamos fazer o dobro. Há muitas coisas para fazer aí e já estou a trabalhar com representantes e altos quadros europeus das duas principais marcas de roupa desportiva. Aí é muito fácil, é copiar o melhor que se faz nos outros clubes. Não há diferença. O Benfica é um clube muito diferente dos outros em potencial de captação de receitas, pela massa associativa muito grande que é a principal fonte de receita do clube, mas em merchandising e direitos televisivos, as coisas têm de ser em linha com o que se faz de melhor nos outros clubes do mundo. O merchandising pode subir, e bastante. Em relação aos direitos televisivos, já representaram 56% das receitas do Benfica há não muitos anos, agora é que têm vindo a descer, mas continuam com mais de 40% das receitas do clube. Está a ser cometido um grande erro. Com a centralização dos direitos televisivos, ou quem paga a centralização é um novo investidor ou o Benfica. A Liga não está a procurar um parceiro estratégico que traga capacidade de investimento à vista e produto estratégico para vender melhor o futebol português. Sem entrar dinheiro fresco à larga escala, 300 ou 400 milhões de euros, quem vai pagar a fatura da centralização dos direitos televisivos é o Benfica. Todos estão em conluio contra o Benfica. O Sporting porque a única coisa que quer, do ponto de vista relativo, é ganhar ao Benfica e conseguirá fazê-lo neste modelo, o FC Porto porque tem urgência de receber receitas e está altamente flexível para negociar desde que o encaixe das receitas seja rápido e os outros 15 clubes porque comparando a situação anterior com a situação futura têm uma grande vantagem. Quem paga tudo isto? O Benfica. Qual a forma do Benfica não pagar isso? Ser o Benfica a exigir a entrada de um investidor estratégico que traga dinheiro para investir no futebol português, para melhorar a infraestrutura dos clubes que assim precisem e que, ao mesmo tempo, sustente no curto prazo as receitas do Benfica e dos nossos dois rivais, para que não seja o Benfica a custear todo o processo da centralização. Se tudo isto – merchandising, direitos televisivos, estádio e internacionalização – acontecer, garanto-lhe que os 70 milhões de euros de défice que temos todos os anos pelos custos e pelas receitas, são resolvidos em 2-3 anos. Com isso, o clube entra numa nova era e pode moldar de forma diferente a sua política desportiva, a sua filosofia de vendas, a sua política de compra e vendas e, no fim de tudo, a competitividade, para almejar o que pretende.

«Precisamos de um diretor geral de futebol que esteja abaixo da comissão executiva da SAD e que todos os dias acorde e vá para o Seixal».

Martim Mayer
Martim Mayer
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: Estão também respondidas as questões relativamente à ampliação do Estádio da Luz e áreas envolventes e em relação à centralização dos direitos televisivos. Foquemos agora no futebol, que já foi falado até certo ponto. Qual o seu plano para o futebol do Benfica?

Martim Mayer: O futebol do Benfica precisa de mais estabilidade. Veja-se a rotatividade que tem acontecido com os plantéis de época para época. Vem nos livros e nas estatísticas que, quando existe grande rotatividade, as equipas têm muito mais dificuldade em ganhar e que as equipas com estabilidade no plantel conseguem séries de vitória muitíssimo melhores. Os números são drásticos quanto à rotatividade do plantel do Benfica. Por outro lado, há descoordenação entre o scouting e a academia, entre a equipa B e sub -23 e a equipa A. Muitas vezes isso não se vê porque, quando existe descoordenação, não se vê nada e não existe prejuízo, mas quando existe coordenação existem grandes benefícios. Nós não estamos a tirar partido desses benefícios. Qual a nossa abordagem ao futebol? Precisamos de um diretor geral de futebol que esteja abaixo da comissão executiva da SAD e que todos os dias acorde e vá para o Seixal. A única coisa que fará é pensar o futebol do Benfica sem outras preocupações. Supostamente isso é o que a comissão executiva faz, mas todos sabemos que no dia-a-dia da SAD, existe uma quantidade de preocupações grande. Estas pessoas têm de dar resposta para lá do futebol. Tendo nós um diretor geral de futebol equiparável a um membro da comissão executiva, temos alguém que, sem a pressão do resultado, vai pensar no futebol do Benfica a médio prazo de uma forma muito estruturada. Essa pessoa vai definir o modelo de jogo do Benfica e como é que o Benfica deverá jogar. Isto acontece em grandes clubes. O Bayern Munique tem um modelo de jogo estável, há um fio condutor na forma como jogam, a mesma coisa com o Barcelona. Os grandes clubes têm uma identidade na forma de abordar o futebol e um modelo de jogo estável independentemente dos ajustes táticos feitos de jogo para jogo e de treinador para treinador. Há uma componente comum que tem origem em alguém que pensou o futebol do clube a médio prazo. Temos muita vontade em anunciar alguém com grande credibilidade e grande currículo que venha ocupar essa posição.

Bola na Rede: Esse nome já está escolhido?

Martim Mayer: Temos duas ou três pessoas prováveis. Como poderá compreender, na qualidade de candidato, não tem que ver com possibilidade de concretizar, mas com ética. Estamos mandatados para diversas questões e, a partir de certo ponto, temos de esperar ser eleitos para fechar as coisas da forma que eu acredito. Há outras formas de fazer isto, mas esta é aquela que acredito mesmo que não seja eleitoralista eu pensar assim, prefiro transmitir o que está por detrás disso do que ter um benefício eleitoralista. De qualquer forma, será alguém que terá de moldar o futebol do Benfica e de ter uma ligação muito grande ao treinador do Benfica, à data presente o senhor Bruno Lage. É assim que hoje vamos falar do tema. Além disso, terá a trabalhar consigo dois coordenadores. Um fará o scouting e a academia trabalharem em conjunto e forçará as áreas a não estarem fechadas em si próprias e a trabalharem com vista a um objetivo comum, o que não acontece neste momento e que trará aspetos mais qualificativos. O Benfica é um clube com uma infraestrutura e conhecimento extraordinário, mas do ponto de vista da aproximação aos atletas jovens tem uma lacuna: a lacuna académica e a lacuna de projeto de vida para cada atleta que é apresentada aos pais e ao próprio atleta. Há bastante a fazer aí e na formação do carácter desses jovens atletas, na proposta de vida académica para esses jovens. Estamos a falar de miúdos a partir dos 13 anos e o que devia ser apresentado aos pais é algo muito mais completo do que só o projeto desportivo. Temos de criar no Seixal infraestrutura para isso, muito provavelmente um colégio onde os atletas possam passar a estudar. Falamos da construção de um colégio para 600 a 1.000 alunos que dê resposta a essa necessidade. Depois, também temos de nos preocupar na transmissão da identidade benfiquista no carácter e numa série de valores. Faz a maior diferença na captação de talento e na tomada de decisão dos pais dos atletas a favor do Benfica e em desfavor de outros clubes. Esta coordenação exige-se e estas melhorias qualificativas exigem-se. A academia do Benfica é boa? Com certeza. Louvemos todas as direções que a criaram de raiz e apresentemos o nosso respeito por quem o fez porque é assim que as coisas são e deve-se louvar aquilo que está bem feito. Está identificado que isso são os pontos que eu pretendo fazer.

«A academia é a base financeira e desportiva do clube e tem de ser tratada com muito respeito, cuidado e não se pode deixar estagná-la».

Martim Mayer
Benfica B celebração
Fonte: Luís Brissos/Bola na Rede

Bola na Rede: Tem de ser a academia a base e o centro de todo o futebol do Benfica?

Martim Mayer: Sem dúvida nenhuma. Isso está na nossa identidade. Temos é de formar também os miúdos na identidade do Benfica, no carácter e nos valores, e de mostrar aos pais que temos uma solução académica para eles. Se aos 13 anos os atletas entrarem, mas aos 17 e aos 18 o caminho para a vida e para a felicidade deles não passar pelo futebol, não podem ter hipotecado a vida nesse período. Têm de continuar a ter outros caminhos disponíveis. Há clubes com menos poder económico que o Benfica e que tiram vantagem por oferecer isso aos miúdos. Não há nenhuma razão para nós não oferecermos. Está identificado como uma lacuna e temos de o fazer com brevidade. O futuro do clube, o passado do clube e o presente do clube passou pela academia. Sem as vendas da academia, que perfazem 800 e muitos milhões de euros nos últimos 15 anos, o trading da compra e venda de jogadores tinha dado negativo. A academia é a base financeira e desportiva do clube e tem de ser tratada com muito respeito, cuidado e não se pode deixar estagná-la. Há outras ameaças. Temos 7 CFT’s no país tudo e temos clubes cada vez mais organizados para competir com a formação do Benfica. Temos de nos pôr a pau e de continuar a evoluir, porque temos mais capacidade económica para o fazer. Se nos sentarmos à sombra a descansar, vamos ser ultrapassados. Temos de estar sempre na vanguarda. Do lado da equipa A há também algo que pode melhorar muito em termos de coordenação e do que traz em termos de mentalidade e do espírito de equipa e balneário que queremos que o Benfica tenha. À semelhança do que acontece nos clubes ingleses, temos de aproximar a equipa sub-23 e a equipa B da equipa A. Se calhar, treinarem uma vez em conjunto uma vez por semana não é demasiado. Tudo tem de funcionar como um só universo de jogadores, com muito menos barreiras ao contacto e onde se veja com mais naturalidade integrações para um lado e para o outro. Faz-se sentir no balneário, na cabeça dos jogadores, e isto é o Benfica. O Benfica é um clube que, na identificação de um bom jogador anónimo, pode trazê-lo para a vanguarda do futebol europeu. Temos de o potenciar e uma das formas passa por haver muito mais proximidade e melhor coordenação entre as equipas técnicas destas três equipas. Ter alguém que coordene e olhe para os trabalhos conjuntos dessas áreas é fundamental e que, obviamente, articulará com quem coordena a formação e o scouting e trará uma nova filosofia, proximidade e coesão a toda a área do futebol do Benfica.

Bola na Rede: Nestas duas variáveis da nova estrutura do futebol, haverá sempre, ainda assim, um protagonismo para o treinador da equipa principal. Referiu ainda antes do início da pré-época que Bruno Lage não seria o treinador da sua equipa nesta época. Pergunto-lhe não no futuro imediato, porque o dia 25 de outubro ainda está longe, mas se vê Bruno Lage como treinador do Benfica daqui a um ou dois anos?

Martim Mayer: O que eu disse no passado não foi que o Bruno Lage não seria o meu treinador. Foi que, tendo terminado o Benfica a época passada como terminou, se trocaria ou não de treinador. Disse que sim, que trocaria. Trocaria pelas razões óbvias de insucesso desportivo e porque tenho uma ideia para o projeto de futebol do Benfica que não se pode compactuar com falta de sucesso. Por isso, a minha resposta a essa pergunta em concreto. O Bruno Lage é o treinador do Benfica, eu sou o sócio 5.206 do Benfica e respeito muito o treinador do Benfica. Quero que ele faça o melhor possível e que ganhe todos os jogos até às eleições. Entrando um novo executivo a meio da época e ganhando todos os jogos até lá, quero que haja a devida estabilidade para levar essa senda de vitórias até ao final da época e até à final da Champions League. O que eu quero é que o Benfica ganhe todos os jogos, seja eu o presidente ou não. Independentemente do que descrevi para a estrutura do futebol, obviamente que o treinador da equipa A é uma figura de máximo peso na estrutura e que irá trabalhar em conjunto com este diretor geral e, em muitas decisões, a decisão do treinador prevalecerá sobre a do treinador geral. A posição do treinador raramente é estável num clube ao longo de muitos anos e, portanto, cada vez que um treinador sai, existe um vazio no clube que tem muito prejuízo para a sua continuação. Ao termos um diretor geral que divide tomadas de decisão e discute decisões com o treinador principal, mesmo que o treinador saia, esse diretor geral será sempre alguém muito estável e que vem para estar 10 anos ou mais no clube. Quando existe uma mudança de treinador e uma passagem de testemunho, há algo que nunca se perde e continua no clube. Essa continuidade é altamente benéfica para o projeto de médio prazo, por isso é que pensamos nas coisas desta forma. O treinador terá sempre um enorme peso a seu cargo e a responsabilidade de responder nos resultados. Terá toda a autonomia para a tomada de decisões que levarão ao sucesso ou ao insucesso. De outra forma, não poderia ser responsabilizado.

Bola na Rede: Nesta visão poderemos, então, atribuir ao diretor do futebol do Benfica um papel muito estrutural e metodológico e ao treinador uma visão muito mais resultadista, baseada no sucesso ou insucesso desportivo da temporada?

Martim Mayer: Diria que é uma boa ilustração para mostrar o exagero que permite ilustrar a organização. É verdade, mas é um exagero. Tende a ser algo muito mais consensual e próximo, mas nos limites é como descreveu.

«Devemos ter sempre quatro a seis jogadores que venham da nossa formação e que sejam titulares no Benfica».

António Silva Benfica Tomás Araújo
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

Bola na Rede: Nesta temporada chegaram jogadores como o Richard Ríos ou o Franjo Ivanovic, contratados por mais de 20 milhões de euros e que, há um ano ou dois, foram contratado por muito menos. Como deve ser a aposta do Benfica no mercado de transferências, sabendo que pretende conciliar o scouting com a academia? Deverá o Benfica apostar nestes jogadores já consolidados e com algum grau de certeza ou deverá continuar a aposta de jogadores de mercados mais periféricos, mais baratos e com um grau de certeza não tão grande? Na sua ideia de mercado, contrataria o Ivanovic em 2025 ou há um ano, em 2024, quando custou quatro milhões de euros?

Martim Mayer: Descobrir o talento e comprá-lo antes dele despontar é um talento e um engenho que todos os clubes querem ter. Todos andam atrás do mesmo. Sem fugir à sua pergunta, como é que eu vejo que podemos ser mais certeiros em contratações? Em primeiro lugar, através da definição do modelo de jogo e da filosofia de futebol do Benfica, ter bem presente que na equipa A, devemos ter sempre quatro a seis jogadores que venham da nossa formação e que sejam titulares. A partir do instante em que, a partir de mapas sucessórios, formos organizando o scouting e a formação para alimentar a equipa A idealmente com cinco ou seis titulares, temos uma espinha dorsal da equipa do Benfica montada e que nos custou barato. Vamos buscar pessoas da nossa gente, que respiram identidade e sabem o que é vestir o manto sagrado, e, portanto, vão garantir que o Benfica joga à Benfica, uma quantidade de valores do clube muito interessantes e que o investimento feito neles ao longo do ano tem o seu benefício. Não precisamos de gastar 20 milhões em nenhuma dessas quatro, cinco ou seis posições. A partir daí também podemos apontar mais acima quando olharmos para o que é necessário para o plantel de cada ano e conseguimos ser muito mais certeiros. Não precisamos todos os anos de andar no “Ai, meu Deus, fiquei sem laterais onde é que vou desencantar um lateral à última da hora”. A partir do instante em que temos uma filosofia a médio prazo que olha para a evolução das coisas e que impõe objetivos ao scouting e à academia em prol da equipa A, também conseguimos ser bem mais certeiros na política de compras e de vendas. Vendas no sentido de sermos livres de tomar a decisão e não porque precisamos de encaixar uma verba. Vamos vender porque entendemos que é uma boa altura para vender algum jogador da nossa formação. Nas compras, vamos estar mais direcionados aos jogadores que nos faltam. Aí, concordo consigo e quanto mais tivermos na nossa estrutura competências – e não sou eu certamente – para identificar talento o mais cedo possível e trazê-lo para o Benfica, tanto melhor. É todo um processo que acho que demora algum tempo a fazer. É algo que em três ou quatro anos se começará a notar a diferença e com impactos na política de compras e de vendas que ficarão bem visíveis a determinada altura, no tempo.

Bola na Rede: O Benfica já arrancou a temporada. Pergunto-lhe como viu os primeiros jogos do Benfica em 2025/26 e que expectativas tem para esta época?

Martim Mayer: Há uma coisa que estou a gostar muito na equipa em comparação à época passada, que é uma agressividade na defesa e na recuperação de bola que não vi na última época. Estou a gostar muito dessa agressividade e da fome de ir buscar a bola de volta. É algo que tem sido uma constante nos vários jogos que a equipa já fez desde o Fenerbahçe [Eusébio Cup]. Assinalo isso e acho que foi um grande contraste no jogo da Supertaça face aos confrontos com o nosso rival na época passada. É se calhar o ponto mais alto que vejo nesta equipa. Conseguimos também ver talento individual nas novas contratações. Foram poucos os jogos e é preciso ver com os automatismos criados na equipa como é que tudo vai funcionar, mas estou agradado com os resultados e, portanto, com a equipa. No fim do dia o que queremos é ganhar.

Bola na Rede: Para terminar o capítulo do futebol, se tivesse de comprar uma camisola do Benfica com o nome de um jogador do plantel, qual o nome que metia nas costas?

Martim Mayer: Era o mesmo que na época passada.

Bola na Rede: Quem foi?

Martim Mayer: Otamendi. Ele é que nos ganha os jogos. O Benfica precisa de homens dentro do campo, são os homens que ganham o jogo. O Otamendi é essa pessoa. Está muito bem entregue a braçadeira de capitão. É alguém que sabe puxar a equipa, que sabe dar o exemplo, com espírito de sacrifício, entrega e deixar tudo em campo. É o jogador que mais admiro na equipa do Benfica. Seria esta a camisola que gostava de ter. Aliás, só por causa desta pergunta, vou hoje ao Estádio da Luz comprar uma.

«Temos de aproveitar as modalidades para fazer a benfiquização de Portugal».

Martim Mayer
Jogadores Sporting Benfica Pavilhão Luz
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Bola na Rede: Ficamos à espera de o ver numa próxima ocasião com a camisola do Otamendi. Passamos do estádio para o pavilhão e para as modalidades do Benfica e peço-lhe alguma capacidade de síntese. Sabendo que todas as modalidades são diferentes e com as suas particularidades, qual o plano para as modalidades e quão centrais são para a sua visão de Benfica.

Martim Mayer: O meu avô foi um grande potenciador e defensor das modalidades. Por isso é que teve o nome no Pavilhão, o Pavilhão Borges Coutinho foi uma homenagem a essa linha. Não posso concordar mais. Em primeiro lugar porque o Benfica é o movimento social e corporal mais profundo do país e assenta nas modalidades essa profundidade. Em segundo lugar, porque sou um profundo defensor do desporto. Fui desportista a minha vida toda, atleta de alta competição de ténis e de rugby e conheço a riqueza do desporto e o que isso traz para a vida e para a sociedade. Só podia ser um defensor das modalidades. Deverão ter sempre o seu espaço e máximo apoio por parte do clube e acho que há alterações muito evidentes que devem ser feitas. Primeiramente, não podemos ter a melhor formação do país nas modalidades e jogar nas equipas séniores com atletas contratados a outros clubes. Temos de fazer um grande esforço para que em todas as modalidades joguemos nas equipas séniores com atletas da formação. Se tivermos de comprar atletas para as equipas séniores, porque há casos em que o é preciso fazer e não há outra hipótese, vamos ter de o fazer com uma mentalidade diferente. Hoje em dia, um jogador de hóquei em qualquer equipa da primeira divisão de Portugal ganha no máximo, vamos imaginar, 5.000 euros. Quando o Benfica o contrata, esse jogador vem ganhar 8.000 euros. Pergunto porquê? Se já vem para o melhor clube do país, que tem as melhores condições, melhores técnicos e maior probabilidade de ganhar títulos, porque é que o Benfica paga acima do mercado? Não consigo compreender isto. Compreendo que pague tanto como o mercado e que ponha no contrato uma componente variável dependente da obtenção de títulos. Aí sim, se uma determinada modalidade vencer o campeonato nacional, há uma componente variável de cada jogador que é recebida por ter ganho esse título e se ganhar a Taça de Portugal ou a Liga dos Campeões, ainda mais. Temos aqui um alinhamento do interesse dos atletas com o interesse do clube. Os atletas não podem vir para o clube descansar, têm de vir para o clube trabalhar. Já fui atleta sei o que é um balneário e sei o que é quando uma pessoa está motivada ou quando não tem motivações. Temos de criar motivações e essa mentalidade tem de voltar ao clube. Temos de aproveitar as modalidades para fazer a benfiquização de Portugal. Isso passa por olhar para Espinho e criar um centro de competências de voleibol, olhar para Barcelos e criar um centro de competências de hóquei, olhar para Aveiro e criar um centro de competências de basquetebol. Um dia que me perguntem o que se pode fazer à volta disto sem ser em contrarrelógio, eu explico com todo o detalhe. Pode-se fazer muito pelos adeptos, pelos atletas, pelas modalidades, por Portugal e só o Benfica pode fazer isso. Mais nenhum clube.

«Às vezes parece que o Benfica anda adormecido e outras vezes parece que acordou, ficou esquizofrénico e pegou numa metralhadora para disparar para toda a gente».

Martim Mayer
Martim Mayer
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: Qual a base onde devem assentar as relações do Benfica com os outros clubes, com o FC Porto e o Sporting essencialmente por serem os rivais desportivos, mas também com a Liga Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol e outras identidades do futebol português?

Martim Mayer: Tenho no meu programa a criação de um departamento de relações institucionais do clube. Já existe uma pessoa que faz as relações institucionais do clube, mas eu não quero pessoas, quero uma área a trabalhar as relações institucionais internas e externas. Isto é para tudo. Se quisermos vir a ter um centro de competências de basquetebol em Aveiro, vamos ter de interagir com os organismos locais da zona. É mais abrangente ainda. Essas relações institucionais têm de estar pensadas, bem estruturadas, e tem de haver uma estratégia e um caminho. Depois, têm de estar dentro da direção as pessoas certas para estabelecer relações constantes e diretas com todas as entidades que estão envolvidas no futebol e no desporto. Essa é a linha de pensamento. Não me revejo nos ziguezagues que o Benfica tem feito essas relações. Às vezes parece que anda adormecido e outras vezes parece que acordou, ficou esquizofrénico e pegou numa metralhadora para disparar para toda a gente. As coisas não se fazem assim. O Benfica é uma instituição centenária, uma instituição respeitável. Há mais benfiquistas que portugueses. Há que perceber que a dimensão e o peso institucional de uma entidade como esta tem de ser trabalhado com muito cuidado. Há muita responsabilidade e tem de ser visto de forma muito profissional, sabendo-se exatamente o que se quer de relações institucionais e fazendo-o de forma constante, não com picos de ausência e esquizofrenia. A estabilidade na postura institucional do Benfica é algo que sei como trazer, inclusive pelas pessoas que tenho comigo, e de certeza que se percebe que, dessa estabilidade, chegam frutos e o peso institucional do clube. Não haverá, muito provavelmente, situações como as que aconteceram recentemente a repetir-se. Isso é algo que se trabalha todos os dias, não para acontecer neste ou naquele. Tem de estar presente todos os dias e é isso que iremos fazer.

Bola na Rede: Recorrendo à sua expressão da esquizofrenia ocasional, como tem visto nas últimas semanas e nos últimos meses a autêntica guerra de comunicados e bate-bocas, especialmente com o Sporting, mas não só? Como tem assistido a estes acontecimentos? Sente que podem ser prejudiciais para a imagem do clube e a sua reputação ou eram necessários neste momento?

Martim Mayer: Privilegio a elevação, a estabilidade e o trabalho. Quando não sabemos o que estamos a fazer e surge uma determinada situação, não nos preocupámos a evitar que ela surgisse nem vamos reagir da forma certa se só pensarmos nisso quando nos cai no colo. É preciso um trabalho de fundo e termos a perceção de que temos de estar presentes numa quantidade de matérias e que, pela nossa presença e com o peso institucional que o Benfica tem, seguir esses assuntos numa base diária é suficiente. Não me revejo em aparecer para picardias e depois não dizer nada durante um ano ou agora que há eleições fazer um comunicado por dia, e quando não há eleições parecer que o Benfica não tem canais de comunicação. Tem de ser uma coisa pensada e de haver estabilidade. O respeito institucional passa por olhar para o Benfica e ver coerência na postura e na posição que o Benfica toma e tem. É sempre igual. Isso é que é categoria, institucionalidade e o que o Benfica tem de transmitir.

«As três casas do Benfica que visitei nos EUA estão há seis anos há espera que uma fotografia institucional do nosso presidente Rui Costa seja enviada para lá. Isto diz tudo».

Martim Mayer
Martim Mayer
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: Como é que acha que o Benfica se pode aproximar dos sócios e dos adeptos, algo que deverá ser sempre a prioridade de uma instituição desportiva e de um clube?

Martim Mayer: Seja em Portugal, seja no estrangeiro, já tive possibilidade de me colocar em contacto com variadíssimas casas do Benfica e com sócios de muitas zonas. Acho que a direção pode fazer muito mais pelos sócios nacionais, pelos sócios do Norte. Há simplesmente desinteresse e desatenção. Quando vamos aos EUA e visitamos várias casas do Benfica lá, vemos pessoas que, por amor ao clube, gastam muito dinheiro a manter as casas, a tomar iniciativas em volta do Benfica e o clube não só não os apoia como não os respeita devidamente. As três casas do Benfica que visitei nos EUA estão há seis anos há espera que uma fotografia institucional do nosso presidente Rui Costa seja enviada para lá para ser colada nas casas. Isto diz tudo. É abaixo da crítica, perdoem-me a expressão. O clube não pode comportar-se assim. Há pessoas na organização do clube que são responsáveis por ter estas situações resolvidas no dia-a-dia, que são pagas pelo clube para trabalharem e não é aceitável que isto aconteça. Não é aceitável que haja pedidos de encomenda de merchandising de 2023 que em 2025 ainda não chegaram. Não é aceitável que se chegue às casas do Benfica e se queira impor padronização desde chávenas a fornecedores de café ou a mesas e cadeiras, quando a riqueza do Benfica está em ter a personalidade das pessoas que vivem o Benfica em cada casa destas. A casa do Benfica de Viseu não tem de ser igual à casa do Benfica de Newark ou de qualquer outra zona do mundo. Cada casa do Benfica tem de ter a personalidade das pessoas que promovem e lideram essa casa e é dessa riqueza que o clube vive. Acho que esta direção não tem feito um bom trabalho aí, porque se tenta aproveitar do trabalho das casas do Benfica e acaba por impor um conjunto de vendas que quase as matamm à nascença e, por outro lado, dá-lhes zero apoio e zero consideração. Temos de mudar isto e não é só para dizer que mudamos. Temos de mudar isto porque é o mais profundo do nosso clube. Não há o direito de tratar isso dessa forma. Temos de mudar e ouvir os sócios. Pretendo ter um conselho de sócios em permanência no Estádio da Luz, um conjunto de pessoas que representem um universo de sócios. Pessoas de diferentes idades, números de votos, zonas geográficas e perfis académicos que tragam para cima da mesa as preocupações e necessidades de cada tipo de sócio para revertermos a atual situação e promovermos ativamente o clube. Se em 1904 começámos a fazer isso bem, não é agora que vamos parar, seguramente.

Bola na Rede: Pensando no dia 25 de outubro, são seis candidaturas à presidência do Benfica. Olhando para este número avultado, o que é que tantos candidatos e propostas diferentes querem dizer sobre o atual momento do Benfica?

Martim Mayer: Primeiro do que tudo, mostram que há vontade de virar uma página e de mudar o ciclo dos últimos 25 anos do clube. O surgimento de novas linhas de pensamento e equipas de trabalho mostra a vontade de existir uma mudança. É rico para o clube, é bom debater o clube. Debateu-se muito pouco o clube nas últimas décadas e é de salutar que isso esteja a acontecer. Resta-me acreditar que até ao dia 25 de outubro haverá oportunidade de debater o clube à vista dos sócios. Apelo para isso que o nosso presidente Rui Costa e todos os candidatos se mostrem disponíveis para fazer debates na BTV, para que possam com tempo e elevação apresentar as suas ideias, apontar o que não concordam nas propostas dos outros candidatos e puxar das suas propostas para o clube e para o futuro do clube de uma forma elevada e com tempo para o fazer. Que as pessoas não se escondam atrás de sondagens e posições e venham com toda a naturalidade. O Benfica é um clube do povo e temos de saber debater à frente de todos com naturalidade sem medo de informar as pessoas e de cometer erros. Todos somos humanos. Mais do que tudo, espero que esta quantidade de candidatos permita debater o clube e nada melhor que debatê-lo diante dos sócios na BTV e noutros canais de comunicação, para que todos os estejam informados sobre a proposta de cada uma das listas e, a partir daí, possam votar no que entenderem ser o melhor para o clube e para o seu futuro.

«Imagino um benfica com muito mais títulos do que aquilo que tem conseguido, com uma cultura muito mais forte, com um peso institucional muito diferente e que meta medo aos adversários».

Martim Mayer
Martim Mayer Benfica
Fonte: Candidatura “Benfica no Sangue”

Bola na Rede: O que espera do dia 25 de outubro?

Martim Mayer: Ganhar.

Bola na Rede: Se pudesse receber uma mensagem ou um conselho do seu avô, o que esperaria que ele dissesse neste momento tão decisivo na vida?

Martim Mayer: Manter-me fiel aos meus princípios e à minha visão sobre o Benfica independentemente de qualquer pressão eleitoral. Tenho a certeza que era isto que me dizia.

Bola na Rede: Onde é que imagina o Benfica no fim de um hipotético mandato que quer que seja realidade?

Martim Mayer: Imagino com muito mais títulos do que aquilo que tem conseguido, com uma cultura muito mais forte, com um peso institucional muito diferente e que meta medo aos adversários. Medo, muito medo.

Bola na Rede: Obrigado pela disponibilidade e pela entrevista.

Martim Mayer: Obrigado eu. Deixe-me só completar com o que quer dizer “medo do Benfica” com uma história do meu mandatário António Simões. Os 15 minutos à Benfica são a equipa no balneário, antes de sair do relvado, dizer assim: “Ao fim de 15 minutos, temos de estar a ganhar 2-0 ou 3-0 para a outra equipa querer que o jogo acabe”. Isto é que é ter medo do Benfica.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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