– Coimbra tem outro encanto na hora da… chegada de Toni –
“Reconheci Mário Wilson dos cromos”
BnR: Lembra-se do momento em que o Mário Wilson o encontrou quando o Toni ia a caminho daquela aula de História?
T: Lembro-me perfeitamente do sítio onde ele me encontrou! Eu tinha aulas de manhã, até ao meio-dia e vinte, e depois ia almoçar a casa, de bicicleta. Recomeçávamos às duas da tarde e, quando ia a caminho da aula de História, vejo, dentro de um Fiat 600, uma cara que reconheci dos cromos: era o “Capitão”. Eles pararam, eu parei, e qual aula de História, qual quê.
BnR: A assistência em viagem tinha dado jeito nessa tarde.
T: Quando estávamos de regresso, o Fiat 600 não pegava, pá! Olha, comecei logo ali a treinar. O Mário Wilson até dizia “Epá, a Académica não é o Benfica nem o Sporting!”. Como quem diz “Aqui não há Mercedes”. Connosco ia também o Dr. Augusto Martins, que era professor e foi diretor da Académica.
BnR: Como é que o seu pai reagiu à surpreendente aparição na tipografia da oficina onde trabalhava?
T: O meu pai era muito pragmático (…) eu também passei isso aos meus filhos. Quando fui para o Anadia, também foram falar com ele “O futebol só não pode é prejudicar os estudos ao rapaz!”, dizia. Quando fui para a Académica, abria-se a perspetiva de conseguir conciliar os estudos e jogar, que era a génese da Académica: formar Homens. Os estudos estavam sempre primeiro que o futebol.
BnR: Chegou a entrar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
T: Sim, sou do curso de 67. Entro no ano em que jogámos a final da Taça contra o Vitória FC.
BnR: Atualmente seria possível reeditar essa ligação umbilical entre a Académica e a Universidade de Coimbra?
T: Essa Académica de ontem (…) hoje já não podia. A sociedade transformou-se. Aquela Académica onde o prémio de jogo era uma laranjada… para mim e para muitos, fazer parte do lote de convocados já era uma vitória; até porque, se fosses suplente, já ganhavas cinquenta escudos! Como te digo, a génese daquele clube era a formação social e quantos tinham exames e pediam para não ser convocados.
BnR: Antes de assinar pelo Benfica, desce ao Jamor para defrontar o Vitória FC. A final mais longa de sempre da Taça de Portugal foi a melhor montra que podia ter tido?
T: Claro que uma final da Taça atrai as atenções das gentes do futebol, mesmo que nela não estejam envolvidos os três grandes. Foram a Académica e o Vitória FC, duas equipas que até podiam ter ali nuances daquilo que viria a ser o tiki-taka, com as devidas distâncias. Mas concordo que é essa final, pelos contornos que teve e pela exibição que acabei por fazer, que despertou a atenção do senhor Otto [Glória], responsável pela minha ida para o Benfica.