«O Benfica poderia ter-me valorizado mais» – Entrevista BnR com Armando Sá

– A caminho da Primeira Liga –

BnR: Assinas depois pelo Rio Ave e estreias-te na Primeira Liga. Como foi o salto da II.ª Divisão B para a divisão principal do futebol português? Foi fácil adaptares-te ao ritmo de jogo?

AS: Foi uma boa adaptação, também por que tive um treinador, o Carlos Brito a quem agradeço imenso, por ter apostado em mim e dado as condições todas para que pudesse atingir um bom nível. Quando chego ao Rio Ave, era uma realidade totalmente diferente com jogadores de grande qualidade e um estilo de jogo ao qual não estava habituado. Nessa altura, o Rio Ave tinha, se as pessoas se recordarem, uma equipa trocava bem a bola e jogava muito bem. Tinha jogadores rápidos na frente de ataque como o (Augusto) Gama e era muito perigosa. Então eu cheguei lá e ver aqueles craques todos ao meu lado, lembro-me que ia para o meiinho, eles circulavam a bola tão rapidamente e só me perguntava: “Mas onde é que eu estou?” (risos). Aquilo era tão rápido, foi a primeira impressão que tive e estava quase sempre no meio, pois não conseguia tocar na bola (risos). Mas, como eu costumo dizer, sempre fui uma pessoa que se adapta facilmente a todas as situações, aprendo rapidamente, olhava para aquilo tudo e comecei a perceber que “Aqui o jogo é mais rápido, os jogadores são mais evoluídos tecnicamente e dificilmente falham passes, então tenho que trabalhar se quiser conquistar algo”. Na minha posição, o titular era o Nenad, que chegou a ser considerado o melhor lateral direito a jogar em Portugal, e era um grande concorrente à minha frente. Eu era um miúdo e para tirar o lugar ia ser complicado. Mas eu trabalhava imenso, era atrevido e tinha o apoio do Carlos Brito que sempre me incentivava e via que tinha boa idade para jogar.

Fonte: Facebook de Armando Sá

BnR: O Carlos Brito foi o teu treinador em Vila do Conde durante os três anos. Ele deu algum conselho que te tenha marcado até hoje?

AS: Ele deu-me vários conselhos. Lembro-me que nesse tempo quando estava a jogar, eu ia a todas: salvava o lateral esquerdo, o central… Salvava quase todo o mundo e não dava uma bola por perdida. Era muito rápido e conseguia dobrar quase todos e para quem me conhece dessa altura sabe que isto é verdade (risos). Um dia, o Carlos Brito chegou ao pé de mim e disse assim: “Cuidado que os bombeiros também morrem – é uma linguagem futebolística como é óbvio-, não podes querer apagar todos os fogos” (risos). “Protege primeiro a tua zona antes de ajudar a equipa”. Porque tinha esse à vontade e saía do meu lado para dobrar os meus colegas (risos). Ele disse-me isso e ficou marcado, pois percebi que, na Primeira Liga, os erros pagam-se caro e passei então a proteger mais o meu lado, preocupar-me com a minha zona, fazer a minha parte e depois ajudar a dobrar os meus colegas e dar apoio no ataque e defesa. Ele deu-me esse conselho que levei para o resto da carreira.

BnR: No ano de estreia (1998/99), acabas por ser eleito o Jogador Revelação do campeonato. Esperavas alcançar esse prémio, ainda para mais na época de estreia e com a forte concorrência do Nenad no plantel?

AS: Para ser sincero, não estava à espera, mas sabia que, cada vez que era aposta do Carlos (Brito) para entrar nos jogos, eu era um dos jogadores importantes mesmo sendo o meu primeiro ano na Primeira Liga. Entretanto as coisas foram acontecendo naturalmente, comecei a ganhar o meu espaço e fui beneficiado por este prémio de Jogador Revelação do campeonato, que depois me deu praticamente a titularidade, mais prestígio e maior confiança ao Carlos Brito para apostar em mim.

BnR: O Sporting de Braga é o clube a seguir no teu currículo, onde te cruzas com Manuel Cajuda. Gostaste de trabalhar com ele?

AS: Sim, gostei bastante. O (Manuel) Cajuda é um treinador que “espreme” tudo de um jogador. Trabalha contigo e tira todo o sumo que tu tens. Em termos de mentalidade, é um treinador que consegue tirar tudo de um jogador e tem uma maneira especial de trabalhar e acredita que nunca corri tanto como corria com ele (risos). Era muito trabalho, mas era top! Lembro-me que antes dos jogos, ele dizia sempre: “Vocês têm 72 horas para descansar”, só que antes disso aquilo era tão intenso, até usava bolas medicinais e era incrível. O trabalho era tão forte, mas para os jogos resultava e acabamos por ter uma boa época com um grande equipa que tinha o Tiago, Ricardo Rocha, Artur Jorge, entre outros que ajudaram a seguir o meu caminho.

BnR: E há algum episódio vivenciado nessa época com o Manuel Cajuda?

AS: Lembro-me uma vez no treino antes do jogo contra o Sporting CP, estávamos a jogar e atrasei a bola para o guarda-redes. Ele parou o treino, disse uns palavrões e mandou vir comigo. Fiquei envergonhado no meio do campo por ele ter mandado vir comigo, pois queria que eu jogasse para a frente e não para trás e arriscasse no passe. Entretanto vem o dia do jogo, e pensei: “Depois deste raspanete, nem sei se jogo” (risos). Acabei por ser titular, tive de marcar o João Pinto e acabámos por vencer por 2-1. O Cajuda depois veio para os jornais e elogiou-me imenso. Mas é a forma dele de trabalho, em que tenta tirar tudo do jogador para que ele possa render.

BnR: Estiveste apenas seis meses no clube. Apesar de ser um curto período, sentiste durante esse tempo que o Sp. Braga iria ter um crescimento sustentado como se tem visto atualmente, em que termina nos primeiros lugares do campeonato e vai às competições europeias?

AS: O “Braguinha” – chamo-lhe assim pelo carinho que tenho clube (risos) – na altura já mostrava inícios de grandeza. Já se via que as equipas feitas do Sporting de Braga eram de grande valor e com qualidade. O que nesse tempo se calhar faltava era ter melhores condições e apostar nas camadas jovens como têm apostado agora para se chegar a este nível. Mas já dava para perceber que havia ali muito potencial para a equipa crescer, e foi o que fez o atual presidente que agarrou no clube e fez do Braga uma das grandes equipas que temos no nosso campeonato. Devemos estar orgulhosos porque consegue estar a fazer frente aos “Três Grandes”.

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Guilherme Costa
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O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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