Ainda o clássico do passado fim de semana. Engana-se quem pensa que voltei a falar nesse jogo por vaidade ou algo do género. Simplesmente me pareceu relevante, para enquadrar este texto, referir-me ao que se passou, no domingo último, no Estádio da Luz.
Final do jogo; 2-0 para o Benfica. Fala-se de penaltys, de expulsões e de o Benfica ser, afinal, o campeão de inverno. O Porto, que começou tão forte, e o Sporting, que parecia capaz de ganhar a tudo e a todos, afinal, estão atrás do Benfica, que não joga tão bem nem está tão forte como nos últimos anos.
Voltemos à Luz. Vitória tranquila do Benfica. Holofotes no árbitro. E, no meio de tudo isto, há um miúdo com 21 anos que passou incólume, despercebido até, ao grande teste da sua vida profissional. Entrou, jogou e saiu, calmo e tranquilo.
Olhemos para alguns exemplos para percebermos o efeito que Oblak poderá ter no Benfica. Olhemos para Kelvin… a carreira deste rapaz resume-se, até agora, em três golos (dois ao Braga, um ao Benfica), que resultaram em seis pontos e no título para o Porto. E que dizer de Weldon e do efeito que teve no Benfica campeão? E de Mantorras, no tempo de Trapattoni? Contudo, o melhor exemplo que vos posso dar é mesmo, nessa época de Trapattoni, a mudança que foi feita na baliza. A meio do campeonato. Depois de uma derrota em Belém, na qual Moreira até foi o melhor do SLB. Na jornada seguinte, assumiu Quim. E o Benfica foi campeão.
Acontece só no Benfica? Que dizer de Vítor Baía e Hélton? Que dizer de Stojkovic e Rui Patrício? Que dizer, então, de Casillas e Diego López? Podemos continuar, a lista é infindável.
Contudo, mais do que razões a dar para o sentimental ou para o abstrato, vou procurar centrar-me em questões mais práticas e em dados mais palpáveis:
– Estatística. Vamos começar por aqueles dados de que gosto menos. A estatística vale o que vale e tem o peso que tem. E Oblak tem zero golos sofridos pelo Benfica. Ok, isto inclui jogos nas taças e tudo o mais. Mas também inclui a manutenção do 3-2 com o Olhanense, uma ida a Setúbal e outra à Madeira e um clássico com o Porto. Não se trata de uma simples sorte de principiante nem de três ou quatro acasos seguidos. A sustentar tudo isto está a época passada, ao serviço do Rio Ave. Faltava saber se acusaria a pressão de defender a baliza do Benfica. Se a sente, não a acusa.
– Pequenas coisas. Oblak não tem falhado nas pequenas coisas. E esta tem sido a sua grande mais-valia para o Benfica. Digam-me que é trabalho fácil sair aos cruzamentos e isto e aquilo. Então vamos ver o golo de Maicon na Luz e o de Jefferson, curiosamente, também na Luz. Ou, ainda na Luz, o golo de Luisão ao Braga. E, para não destoar, novamente na Luz, o golo de Luisão ao Sporting de Peseiro. E deixa de ser assim tão linear as saídas aos cruzamentos e os livres enrolados e essas tais “pequenas coisas”. Porque, se formos bem a ver, os guarda-redes, principalmente os do Benfica, têm falhado exatamente nisto. Dentro da baliza são fenomenais. Falta o resto. E esse resto tem custado pontos. Oblak tem acertado e, acima de tudo, tem mostrado segurança neste resto.
– Segurança e tranquilidade. Este ponto está intimamente ligado ao anterior. Oblak não tremeu até agora. Em momento nenhum o sentimos nervoso. Nem naqueles momentos em que se espera que esses nervos surjam. Não demonstra hesitações sobre quando e como sair aos cruzamentos. Não o vemos recuado e a jogar só em cima da linha de golo. E não o vemos, como foi exemplo ontem, a tremer por a bola lhe ser atrasada, num campo molhado. Tem jogado bem com os pés e com as mãos. Tem feito parecer que é fácil ser guarda-redes no Benfica. E isso faz uma diferença tremenda. Depois, a defesa confia em Oblak. Atrasa-lhe a bola. Com os pés e com a cabeça (ainda ontem, Siqueira deu-lhe uma bola dentro da área para ele agarrar, quando muitos provavelmente metiam para canto).
– Potencial. Em termos de potencial, Oblak está definitivamente à frente de Artur e de todos os outros GR da liga portuguesa. Patrício há muito que ultrapassou a idade de se falar de potencial. Já provou o que tinha de provar. Apesar de ter pelo menos (sem lesões) mais 10 anos de carreira pela frente, cada vez fica mais difícil de o ver a defender a baliza de um “colosso” europeu. Porque essa tal fase do potencial já passou. Oblak tem 21 anos, é internacional. Tem aquilo a que toda a gente chama “mercado”. E tem tudo isso porque tem, também, o mais importante: qualidade. Talvez, neste momento, ainda não seja exemplo de regularidade (afinal ainda nem fez dois meses como titular na baliza de um grande). Mas também, com 21 anos, quem o seria? Quem não teria as falhas próprias da idade e da falta de experiência? Essas falhas ver-se-iam onde? Nas pequenas coisas. As tais em que Oblak tem acertado sempre.
A tudo isto temos de acrescentar mais dois pontos: Artur faz 33 anos dia 25 deste mês e parece ter perdido o capital de confiança que tinha junto de todos. Tem transparecido cada vez menos à vontade na baliza do Benfica. Mais ano, menos ano, Artur deixa de ter condições (atendendo ao rendimento que tem tido e à “curva descendente” desde que chegou à Luz) para jogar 40 jogos por época. Porque não antecipar a entrada de um GR “a tempo inteiro” no Benfica e manter Artur? Porque ficaria não só um suplente de luxo, como um GR com provas dadas para o caso de Oblak dar barraca. E depois, a vertente financeira. O Benfica precisa, cada vez mais, de ser parcimonioso nas compras. Para quê investir noutro GR se temos um jovem que vem dando provas inegáveis de qualidade? Mesmo numa perspetiva de clube vendedor, Oblak é a melhor aposta. Valoriza-se. Foi para isto que o foram buscar em 2010, com 17 anos. Para ser o futuro titular do Benfica.
Está tudo bem feito e Oblak é o Guarda-Redes perfeito? Não. Ainda tem muito a provar? Tem. É a melhor aposta para a baliza do Benfica? Não tenho a menor dúvida de que sim.
Para terminar, sinto-me na obrigação de agradecer ao meu amigo e guarda-redes de futebol Marcos Borges pelos conselhos e palavras sábias que me transmite quando falamos de guardiões no futebol. O seu conhecimento é grande parte deste texto.