O egocentrismo dos pequenos

    Topo Sul

    Quem pensava que o caminho europeu do Benfica tinha Londres como última paragem muito provavelmente ter-se-á surpreendido com a grandiosa exibição que a equipa realizou frente ao Tottenham, na passada quinta-feira. Eu, mesmo não estando do lado dos cépticos, confesso que também não estava à espera de tal recital de futebol perante uma das melhores equipas inglesas. Por isso, ao mesmo tempo que me deliciava a ver a minha equipa brilhar, o meu moral aumentava a cada minuto orgulhando-me de pertencer à nação benfiquista.

    No meu texto de hoje não vou fazer um rescaldo dessa grande noite encarnada (para isso aconselho a análise feita pelo meu colega Tiago Martins), mas antes referenciar um episódio triste, talvez o único, que se passou no jogo de quinta-feira.

    No momento do terceiro golo do Benfica, Jorge Jesus, no alto da sua sobranceria e arrogância, levantou três dedos e acenou ao treinador do Tottenham – seu colega de profissão -, Tim Sherwood. Num gesto elucidativo dos três golos que o Benfica tinha feito no jogo, Jesus limitou-se a provocar o adversário em vez de festejar um golo importantíssimo nas contas da eliminatória. Uma acção como esta pode ter várias explicações, mas isso, muito sinceramente, pouco me interessa. Jesus poderia estar a responder a uma provocação anterior ou simplesmente a mostrar o homem frio e insensível que muito provavelmente é, mas nunca poderia fazer aquilo que fez.

    Jesus acena com os três dedos para Sherwood, aludindo aos três golos do Benfica Fonte: unpluggedsports.com
    Jesus acena com três dedos para Sherwood, aludindo aos três golos do Benfica
    Fonte: unpluggedsports.com

    Para além de desrespeitar uma instituição mundialmente reconhecida, como é o Sport Lisboa e Benfica, Jorge Jesus provou ao mundo do futebol que é um treinador que, mais do que não saber perder, não sabe ganhar, e que é capaz de passar por cima de tudo e todos para levar as suas ideias avante. Mesmo que seja necessário crescer perante figuras incontornáveis da História de um dos melhores clube do Mundo, Jesus fá-lo (como se viu) sem pudor e hesitação. A forma como o treinador do Benfica reagiu à tentativa de apaziguamento da situação por parte de Shéu Han e de Rui Costa apenas demonstra a forma desrespeitosa como Jorge Jesus trata o seu staff, os seus jogadores e os que lhe pagam o seu salário de quatro milhões anuais. Numa noite que poderia ter sido perfeita, sobressaiu a altivez do treinador encarnado num episódio indigno que encheu as capas de jornais ingleses.

    Em suma, num “simples gesto”, Jorge Jesus comprovou as teorias que apontavam para o seu comportamento arrogante e hostil para com os profissionais que o acompanham e trabalham para o seu “sucesso”. Sempre que protagoniza momentos como este que se passou na quinta-feira, o treinador do Benfica esquece-se de que é um treinador com um currículo banal, com pouquíssimos títulos e sem reconhecimento internacional. Não se recorda também de que Shéu ou Rui Costa são indivíduos altamente respeitados no mundo do futebol, que dedicaram a sua vida ao Benfica e que deram muito ao clube. Mais do que Jorge Jesus alguma vez dará.

    No mundo do futebol não só os valores técnicos do desporto se levantam. Os grandes treinadores e os grandes homens do futebol distinguem-se e imortalizam-se pela sua personalidade e pela sua postura ao longo da carreira. Os que valorizam quem os ajuda e não descuram quem os respeita serão sempre lembrados. Pelo contrário, treinadores como Jorge Jesus, mesmo sendo bons técnicos, não são nem nunca serão grandes treinadores e verdadeiros homens do futebol. Este fantástico desporto não precisa de pessoas egoístas e egocêntricas e, por isso, nunca lembrará os pequenos.

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    João Pedro Óca
    João Pedro Ócahttp://www.bolanarede.pt
    O João Pedro Óca é um alentejano a fazer o gosta mais em Lisboa: jornalismo, sobretudo desportivo, na TVI e na CNN Portugal. Além disso, ainda dá uma perninha como narrador na Eleven.