Quando no passado domingo no Dragão, aos 92 minutos, Lisandro López marcou o golo do empate viu-se uma equipa maioritariamente jovem a festejar como louca. Muitos deles estavam a fazer o 1.º jogo no Dragão, mas logo choveram críticas aos festejos: “Festejam como se tivessem ganho”; “O tricampeão festeja um empate”; “Ganharam o campeonato ou a UEFA Champions League”. Muitas críticas foram elaboradas, mas os jogadores sabiam porque festejavam daquela maneira.
Na 1.ª parte foram dominados, e correram atrás do prejuízo em toda a 2.ª parte. As substituições de Rui Vitória eram um sinal para dentro de campo de que tinham de dar tudo até ao fim. E eles deram! Aquele golo foi um descarregar de energias acumuladas e, por momentos, nos festejos, todos se esqueceram de onde estavam e encarnaram a criança que ainda existe dentro deles.
Um jornal local Sueco (incrível como o clássico chega a todo o mundo) perguntou a Victor Lindelöf que festejo era aquele; ele não soube responder. Decerto o mesmo se passaria se perguntassem ao veterano Luisão. No entanto, deveriam perguntar também a Guedes que mundo era aquele onde só ele entrou durante momentos, teriam de questionar Pizzi sobre a razão de festejar sozinho com os adeptos do… F.C.Porto. Teriam, também, de abrir os olhos perante as palavras do menino Horta. E tudo isso leva-nos a pensar o que vai, ou não, na cabeça dos jogadores quando marcam golos importantes, quando libertam a pressão toda que têm nos ombros em segundos.
Thierry Henry, nos seus tempos de Arsenal, festejava golos como se nada se passasse, provavelmente um louco solitário. Marcava e nem um sorriso esboçava para os seus adeptos, mesmo que esse golo fosse marcado em pleno Old Trafford, casa do eterno rival, e quisesse explodir de alegria. No festejo de golos importantes, assemelhava-se a um “cubo de gelo”, no pasa nada. Mas Henry pertencia a uma minoria neste mundo.
Em que mundo, então, terá entrado Andrés Iniesta quando em 2009, em pleno Stamford Bridge, contra o melhor Chelsea, com o jogo a terminar, marca o golo que dá acesso à final europeia? Será que se lembrou da sua calvície quando se foi meter no meio dos festejos com os colegas? E Kun Agüero? Será que naquela tarde em Maio de 2013 sentiu o mundo todo em cima dele, um pouco à imagem de Maradona, ou será que nem se lembra onde esteve durante 5 minutos? E Ivanovic? O homem dos golos importantes, estaria ele preparado para os festejos aos 92 minutos numa final europeia? E o próprio Kelvin? O que terá passado na cabeça de um menino de 19 anos, suplente, que entra para decidir uma época? Mais recentemente o nosso Edér? Será que Edér sabe onde esteve durante os largos 10 minutos de festejos da selecção portuguesa? Não, provavelmente não. Nem Éder, nem nenhum dos outros.
Fernando Gomes, ponta-lança português, justificou-se um dia: “Marcar um golo é como ter um orgasmo”. Talvez das melhores justificações de sempre.
O que sabemos é que desde meninos, no ringue, na rua, num torneio, todos sonham ser heróis, todos querem marcar o último penálti, o ultimo golo, e serem um sucesso junto do sexo oposto. Mas tudo se transforma quando esse momento acontece perante 80 mil pessoas, entra-se num mundo de egocentrismo e festeja-se como se não houvesse amanhã, num mundo só nosso. Nesse momento, não existe o querer agradar, apenas o festejo emotivo, louco, egocêntrico, mas ao mesmo tempo inexplicável, olvidável… por um momento muitas vezes inesquecível.
Foto de Capa: SL Benfica
Texto revisto por: Carlos Valente