O reerguer de um bicampeão

sl benfica cabeçalho 2A 25 de Outubro de 2015, quando Carlos Xistra apitou pela última vez, o Benfica perdia no Estádio da Luz por 3-0 – a primeira derrota interna e caseira em três anos e meio (2-3, frente ao FC Porto) –, numa cruel confirmação do desfecho natural e inevitável da pré-época, promotora da impreparação física e mental do plantel, incapaz de responder satisfatoriamente às exigências de um novo paradigma. Na altura, poucos de nós – e nenhum dos outros – acreditavam ser ainda possível reverter tal situação. A época adivinhava-se um longo calvário e, como é da praxe, a contestação subiu de tom.

Não compreendo – por não saber como –, ainda hoje, o périplo de Verão pelas Américas, pois, feitas bem as contas, julgo manterem-se ausentes argumentos capazes de sustentar tal opção e tamanhos erros de avaliação. A partir do zero (ou um pouco mais abaixo), lentamente, com muitas doses de trabalho e humildade, o Benfica, forçosamente refém de ideias com seis anos, foi-se libertando; melhor ainda, foi-se reinventando. O principal obreiro é, está claro, o treinador Rui Vitória. Admito-o sem tabus: confiando nas suas capacidades técnicas, cheguei a duvidar da sua resistência para suportar a pressão, perante as crescentes dúvidas dos adeptos, depois da eliminação na Taça de Portugal e do anunciado abandono precoce na luta pela revalidação do título de campeão.

Rui Vitória nem sempre acertou. No entanto, revelou nos momentos difíceis aptidões que os homens inteligentes e bons detêm: admitiu o erro, com humildade, e corrigiu-o, com trabalho. Na forma, engrossou o tom, descendo quando necessário a patamares que, acredito piamente, fez por evitar conhecer, dando lições de educação e respeito a alunos e mestres; no conteúdo, recolocou, lançou e recuperou individualmente, ganhando para si o colectivo, que, tal como foi possível ver e confirmar na última dezena de jogos, devolveu ao Benfica – e após um interregno de quatro meses – o estatuto de melhor equipa a praticar futebol em Portugal; alegre e confiante. Assim, é tempo de afirmar, com elevado grau de certeza, sem receios pelo passado e com confiança pelo futuro, que o Benfica tem todas as condições – dentro e fora do campo – para voltar a ser campeão, aliás, para ser tricampeão.

A missão de Rui Vitória nunca foi fácil. Com meio caminho percorrido, o treinador está a corresponder às expectativas Fonte: SL Benfica
A missão de Rui Vitória nunca foi fácil. Com meio caminho percorrido, o treinador está a corresponder às expectativas
Fonte: SL Benfica

Curiosamente, Rui Vitória utiliza o mesmo grupo de jogadores que, no início desta história, se arrastava pelos relvados de Estados Unidos e México; que foi goleado por 3-0, em plena Catedral. O treinador arregaçou as mangas, reverteu o caos que se instalara e potenciou o talento de Gaitán e Jonas; a adaptação de Carcela, Raul Jimenéz e Mitroglu; a recuperação de Fejsa e Talisca; a experiência de Júlio César e Luísão; a qualidade de Nelson Semedo; a raça de Gonçalo Guedes; a eficiência de Pizzi; a polivalência de André Almeida; a competência de Lisandro López e Samaris; e, sobretudo, a aposta em Renato Sanches. Em resumo, e para já, Rui Vitória (com apenas 45 anos) está a realizar um excelente trabalho ao serviço do Benfica.

Falta, porém, deixarmo-nos de retóricas. Devemos continuar a confirmar, a cada momento do jogo, que o Benfica é melhor que o adversário. Na verdade, sem títulos, toda esta análise ficará retida numa dialéctica circular que, pese os dados disponíveis, concluir-se-á como completamente inútil. Chegar ao primeiro lugar é, por isso mesmo, forçosamente urgente – é proibido escorregar nas próximas jornadas. Como habitualmente, o papel dos sócios e adeptos será fundamental. O apoio em Moreira de Cónegos, em partida para a Taça da Liga, disputada em dia de semana, revelou o aumento significativo dos índices de confiança no universo benfiquista, que nasce no relvado e chega ampliado até às bancadas. O mundo sabe que o Benfica – e quando os benfiquistas se unem e movem – nunca encontrará rival neste nosso Portugal.

Da minha parte

Jamais abdicarei, nesta fase, de dar o meu contributo através dos meus textos, fazendo o que sempre fiz em contextos de análise e opinião: a defesa do Benfica. Por isso, continuarei a recordar, daqui até à lua, as pressões a que a classe da arbitragem foi sujeita, desde o início desta época, infligidas por Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, e outros elementos ligados ao clube; continuarei a recordar as agressões de Slimani, autor de uma excelente temporada, mas que, de facto, agrediu Samaris no derby (e outros sem coragem ou interesse em o denunciar), tal como Hulk e Sapunaru agrediram, de facto, funcionários ligados à segurança do Estádio da Luz, naquele tristemente célebre túnel, sendo, posteriormente, alvos de inquérito e suspensão. Não será, logicamente, o argumentário oco dos heróis de capa e espada das redes sociais, feito por insultos – ou exigências que se marque um penalty contra o Benfica, exista ou não – a me demover, ou sequer a alterar a realidade.

Entendo perfeitamente o ponto de vista sportiguista. Compreendo, que na fuga para a frente se misture a perseguição obsessiva e complexada que Bruno de Carvalho faz ao Benfica, como eixo programático da sua presidência –  utilizando as hipócritas questões dos vouchers ou das alegadas dez (!) agressões no derby (casos naturalmente arquivados) –, com o resto, que, bem espremido e por muito que custe, não é mais que a correcta interpretação e cumprimento das leis do jogo.

Espero, obviamente, que tudo se decida dentro das quatro linhas (e golos dentro das balizas). É por isso que não confundo alhos e bugalhos, tal como não confundi, bem recentemente, o Sporting com o seu “vice” Paulo Pereira Cristóvão, mais as suas tácticas para contornar, de vez, um jejum que, solidariamente imagino, não deverá ser fácil atravessar. Para ganhar, tem de se trabalhar mais e melhor que os outros, de acordo com regras que a todos têm de ser comuns; e é na própria casa que se manifesta essa competência.

Foto de Capa: SL Benfica

João Amaral Santos
João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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