Quando Mark Clattenburg apitou para o final da partida, Portugal e o Mundo voltaram a eclodir. Não foi apenas um jogo que se ganhou, não foi sequer apenas uma eliminatória ou até o facto de o Benfica ter alcançado, pela segunda vez consecutiva, uma final europeia – da grandeza e da capacidade do meu clube de coração nunca duvidei eu nem qualquer adepto que se assuma verdadeiro. O que se alcançou foi a glória de uma batalha que nos colocou tudo como nos foi retirado indevidamente no ano passado. Contra uma Europa cada mais desacreditada, com a força da qualidade e não da quantidade, com o querer de fazer justiça, o Benfica gelou Turim e o 4º anel voltou a acenar. Os heróis de Turim não tiveram menos do que mereceram: uma recepção apoteótica.
Nas imediações do Aeroporto Militar de Figo Maduro, a massa benfiquista começou a reunir-se logo por volta da meia-noite. Aos poucos foram chegando, de cachecol ao peito ou de bandeira na mão, mas carregando as cores que não os deixavam mentir: vinham abrir espaço para “deixar passar o maior de Portugal”. As horas que se esperaram, bem mais tranquilas do que os minutos que sucederam a expulsão do motor Enzo, fizeram-se de festa, de cânticos e de alegria sem fim. Ainda assim, estavam todos cientes de que a taça ainda morava em Turim e não na Luz, embora a morada já fosse conhecida dos encarnados. O fumo de uma ou outra tocha que se acendia enquanto o autocarro ainda fugia de vista não podiam, de forma alguma, fazer prever o inferno que ali se iria instalar quando a comitiva benfiquista se encontrasse enfim com a multidão.
E o inferno aconteceu. Por volta das quatro horas da madrugada, o autocarro encarnado abraçou os adeptos, em êxtase. As cerca de duas a quatro mil pessoas foram incansáveis e, abrindo caminho, acompanharam o autocarro enquanto as forças policiais permitiram. O que ali se viveu foi inexplicável, alcançável apenas por quem seja capaz de sentir assim. Não se confunda o leitor, ou não confunda o leitor a essência daquilo que escrevo. Estou lúcido, como qualquer benfiquista que tenha acompanhado o descalabro final da época passada, e sei, melhor do que nunca, que os festejos devem ser guardados para depois das conquistas. O que aqui estou a ressalvar é a unicidade, a magia e a magistralidade do fenómeno benfiquista. Quando um jogador faz 10 temporadas ao serviço do Benfica e é capitão da equipa e ainda é surpreendido pela massa adepta, pouco fica por dizer. “Nossa Senhora”, não conteve Luisão.
Estamos de novo a 90 minutos de conquistar as taças que vêm com um ano de atraso, com um extra: a Taça da Liga. Depois do indiscutivelmente merecido campeonato, Leiria, Jamor e Turim têm de ser epicentros de pelo menos mais três sismos vermelhos. Que haja terra para tanto tremor.