Ola John e Rodrigo: Se não dá, não dá

    Glóbulos Vermelhos

    Esta é uma história com pontos de convergência e de afastamento. Uma espécie de sensação sombria, uma comichão na nuca em reflexo de desapontamento. Há coisas que não se explicam, desaparecimentos de futuros, aparentemente glórias do presente em que actuaram, craques da bola – pensemos em nomes como Quaresma, Sahin, Drenthe, Freddy Adu, Keirrison, Giovani dos Santos, Downing, já para não falar daqueles clássicos do futebol português – são fenómenos recorrentes. E desde já quero afirmar que não é por esse caminho pelo qual me vou debruçar. Mas antes pela estranheza de dois casos bem actuais no Benfica. Um custou quase 10 milhões, outro custou cerca de 6. Falo de Ola John e de Rodrigo.

    Primeiro que tudo: parece-me evidente que qualquer pessoa admite que são dois exemplos de muita qualidade, quer técnico-táctica, quer de potencial futuro. Não falamos de coxos, claramente não. O holandês impressionou qualquer um naquela eliminatória de apuramento para a Champions, com a sua explosão na finta e cruzamentos teleguiados. Mesmo para quem já tivesse visto jogos anteriores do Twente, ou dos sub-21 da Holanda, percebia-se a olho nu que se tratava de um miúdo com fome de bola e que, decerto, daria o salto para outro campeonato. Um agitador portanto. E foi assim que chegou à Luz. Com vontade de ouvir os adeptos gritarem por si, com rasgos de génio e, quase sempre, exibições constantes. Com o acumular de jogos, percebeu-se que Ola é um jogador que nem sempre entra bem, que precisa de tempo em campo para que a sua movimentação saia mais fluída, mas nem assim deixou de jogar relativamente bem, já não era o puto convicto e aguerrido, mas acrescentava qualidade, a bola na cabeça do ponta-de-lança, ora a linha ora o meio como habitats naturais. Veja-se hoje o jogador que existe. Não corre absolutamente nada, chega à linha e devolve a bola para o lateral, não tem atitude, chega a ter menos que o soneca Geovanni. É um claro exemplo, não só de insolência, pense-se no que ganha e nas oportunidades que tem tido em relação a outros jogadores do plantel A e B, até dos juniores, e, isto é que é mais estranho, medo. Não tem a coragem que nos habituou de agarrar a bola e partir para cima da defesa, não tem a velocidade com a bola no pé, não tem quase nenhum factor, actualmente, que o façam jogar constantemente pelo Benfica.

    Já (te) vimos melhor, Rodrigo? Fonte: spiny-norman.blogspot.com
    Já (te) vimos melhor, Rodrigo?
    Fonte: spiny-norman.blogspot.com

    Rodrigo é detentor de um pé-esquerdo fantástico, de uma finta curta invejável e de um enorme toque de bola. Joga em qualquer posição do ataque, talvez menos a 10, e por norma, executava-o com muita qualidade, ou pelo menos esforço. E nisso não sou injusto, Rodrigo, apesar de nunca mais ter sido o jogador que era desde aquela lesão do atrasado mental Bruno Alves, não deixa de ter atitude, de querer mostrar ao Jesus que lhe deve dar mais uma oportunidade. E diga-se, se corre e se mata em jogos, deve fazê-lo também nos treinos. Mas quem se recorda do brilhantismo com que, depois daquela época de empréstimo no Bolton, se afirmou na Luz com golos e assistências, toques deliciosos e alegria no jogo. Hoje, o avançado espanhol não passa de mais um exemplo de jogador esforçado, aparentemente pouco dotado, e que oferece muito pouco ao jogo do glorioso. E aquele empate em Old Trafford a 2 bolas? Não me vou esquecer de como se matou a incomodar gigantes como Ferdinand, Vidic e Evra. A questão é que, no caso dele, a atitude não pode chegar nem justificar consecutivas oportunidades para tão pouco aproveitamento. Nélson Oliveira teve muito poucas e parece que vai continuar a ter, Rodrigo Mora idem, Nolito foi de vela e é senhor do Celta. E isso parece-me injusto.

    São, pois claro, dois casos diferentes. Mas com uma conclusão mais ou menos idêntica: não duvido que se devem tornar dois jogadores de muita classe – se assim o quiserem e não tiverem muitas lesões – mas, tal como o seu treinador, são casos de insucesso actual no nosso Benfica. Quando não dá, não dá. Há mais quem queira, há mais quem faça. E o Benfica bem precisa.

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