OPA: Oferta Pública para quê?

    O Sport Lisboa e Benfica decidiu avançar com uma OPA à Benfica SAD. Porquê? Para quê? Para benefício de quem? São várias as perguntas que surgem perante esta decisão da direcção do clube. Qual o interesse disto?

    Não irei abordar este tema de forma técnica pois é o adepto que vive em mim que fica incomodado e curioso perante esta operação. Uma coisa é certa, os negócios liderados ou que envolvem Luís Filipe Vieira estão constantemente envoltos em desconfiança e factos estranhos. Ao longo dos anos, aprendi a desconfiar da honestidade das acções, palavras e intenções do actual presidente do Sport Lisboa e Benfica.

    Assim à primeira vista, o que é que vemos? A direcção do Benfica Clube, liderada por Luís Filipe Vieira, decidiu que deveriam ser investidos mais de 30 milhões de euros do clube em acções da Benfica SAD, também liderada por Luís Filipe Vieira, e da qual o clube já tinha não 50%, não 55%, mas sim 69,9%. A SAD liderada por Vieira já era assim totalmente controlada pelo clube também liderado pelo mesmo. Então, para quê este movimento de mais de 30 milhões de euros?

    Na comunicação ao mercado, a direcção do Sport Lisboa e Benfica apontou à bondade da operação. A intenção da mesma seria então reembolsar os accionistas que, em 2001, quando o clube precisou, avançaram com o seu dinheiro e compraram acções da SAD para ajudarem financeiramente o Sport Lisboa e Benfica. É este tipo de comunicações que sempre nos fazem duvidar das intenções de Luís Filipe Vieira. Esta OPA até pode ser um negócio que funciona somente em benefício do clube, mas quando nos são apresentadas justificações sem cabimento então fica fácil de desconfiar.

    Vejamos. O clube irá pagar aos seus accionistas 180% do valor das suas acções, apesar de não precisar delas. A justificação é o reembolso dos accionistas que se chegaram à frente quando o clube precisava. Contudo, quem irá beneficiar – e beneficiar milionariamente – são accionistas que só adquiriram essas acções mais recentemente e a um valor bem inferior, e também o mentor de toda esta operação: Luís Filipe Vieira. É verdade. Há uma pessoa que decide oferecer a si próprio dinheiro que não é seu. Quase quatro milhões de euros.

    Então, onde vai parar a teoria da OPA benemérita? A grande maioria dos accionistas, aqueles que detêm uma ínfima parte das acções, terão qualquer interesse nesta operação? Aqueles sócios que compraram acções como quem paga quotas – por amor e devoção – terão algum interesse em vendê-las?

    Há quatro nomes que realmente irão beneficiar desta operação: José António Santos, José Guilherme, Joaquim Oliveira e Luís Filipe Vieira. Assim, fica a porta aberta a todo o tipo de especulações.

    Há interesse do clube em pagar 30 milhões para ter 95% das acções de uma SAD que já controla com 70%? É que também a teoria que foi posteriormente lançada de protecção contra interesses alheios cai por terra. Uma OPA hostil por 25% das acções da SAD não seria do interesse de nenhum investidor, nem seria um incómodo ao clube. Não havendo sequer recompensa aos sócios originais, então o que há?

    A direcção financeira do clube parece excessivamente interessada em ligações com investidores chineses
    Fonte: SL Benfica

    Uma das hipóteses que se coloca é a de a SAD deixar de ser cotada em bolsa, permitindo menor escrutínio aos negócios feitos: uma hipótese lógica neste mundo que é o futebol, mas duvido muito que seja essa a estratégia. Sinceramente, só vejo dois motivos plausíveis, dois motivos que são até coexistentes.

    O primeiro seria recuperar acções dispersas, como modo de dar forma às palavras de Domingos Soares de Oliveira. A direcção financeira do clube parece excessivamente interessada em ligações com investidores chineses. Pouco tempo depois da conversa sobre a modificação do símbolo por interesses chineses, surgiu o lançamento desta OPA. Uma parceria com investidores chineses poderá também passar pela cedência/venda de um bom pedaço das acções da SAD.

    A outra razão é a mais óbvia: oferta pública a amigos. E, infelizmente, este tipo de política dentro do Sport Lisboa e Benfica começa a parecer ser um comportamento regular. Grandes empresários, incluindo Joaquim Oliveira, irão beneficiar de milhões com esta operação. A Olivedesportos, que mais recentemente tem andado pelas ruas da amargura, irá ganhar um novo oxigénio com esta operação. E, por fim, o próprio presidente do Sport Lisboa e Benfica Clube e SAD garante para si um pé-de-meia de quase quatro milhões de euros quando se afastar, ou se vir afastado, do clube.

    Fica clara a ideia de que Luís Filipe Vieira, com esta operação, começa a preparar uma possível saída do Sport Lisboa e Benfica: uma saída que poderá surgir forçada por um de vários processos judiciais em que se tem visto envolvido.

    Cabe à direcção do Sport Lisboa e Benfica esclarecer os seus sócios. Mas, neste mundo de paixão futebolística, assuntos deste âmbito caem no esquecimento assim que a bola começa a rolar. E os dirigentes encarnados sabem-no bem.

    Foto de capa: SL Benfica

    Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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    Daniel Oliveira
    Daniel Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    Primeira palavra bola. Primeiro brinquedo bola. E assim sempre será. É a ver jogos que partilha os melhores momentos de amizade. É a ver jogos que faz as melhores viagens. É a ver jogos que esquece os maiores problemas. Foi na paixão pelo jogo que sempre ultrapassou os outros desgostos de amor. Agora a caminhar para velho pode partilhar em palavras aquilo que sempre guardou para si em pensamentos e pequenos desabafos.                                                                                                                                                 O Daniel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.