
Por cada vez que Anatoliy Trubin colocava o pé sobre a bola, atrasando a sua reposição como um maestro à procura de dar a primeira nota no momento certo, erguiam-se nas bancadas da Luz coros de assobios, a contrastar com a música polida que o ucraniano queria tocar. Quase como se, no lugar do guarda-redes do Benfica, estivesse um inimigo a tentar tornar mais difícil a tarefa das águias que se encontravam já em vantagem no marcador e a precisar de respirar. E Anatoliy Trubin ali permanecia, sereno, tranquilo e inerte, como se tudo o que o rodeasse não existisse, na verdade, ignorando os gritos que lhe pediam para bater, para tocar longo ou para, na pior das hipóteses, se desfazer da bola. E, nestes momentos, o ucraniano foi o melhor jogador do Benfica.

Nas águias não há quem pause o jogo, do meio-campo para a frente. O único capaz de o fazer, por características, chama-se Vangelis Pavlidis e joga tão distantes das zonas de organização que a influência como gestor de timings será sempre reduzida. Quando o faz, baixando em campo, ligando a equipa e colocando a bola a circular, é acusado de não ser um ponta de lança finalizador e de não aparecer na área para marcar. O grego sofre também de Trubinite aguda, a síndrome de oferecer a tão necessária pausa a uma equipa que vive da vertigem constante para ferir.
De Renato Sanches a Leandro Barreiro, de Fredrik Aursnes a Orkun Kokçu, o Benfica não tem um organizador de jogo, capaz de gerir ritmos e tempos (e desta equação sai Florentino Luís, um equilibrador e simplificador de jogo). Todos os médios do Benfica beneficiam de cenários de vertigem e de caos, com espaço para explorarar em cavalgadas, transições e chegando rapidamente à baliza. Mesmo o turco, mais rico no passe, é um desequilibrador, procurando constantemente colocar a bola que mais aproxima a equipa da baliza adversária o que não é, em muitas situações, o que mais aproxima a equipa do golo.
Mesmo nos corredores, Kerem Akturkoglu e Ángel Di María não são jogadores pensadores de jogo (e, para o Benfica, ainda bem que não). O turco ofereceu a objetividade e a procura de baliza que tantas e tantas vezes faltou. A genialidade de Di María, Ángel para os amigos e Anjo para os benfiquistas em tantas ocasiões, não recomenda a grande pensamento e os últimos jogos do Benfica assim o demonstram. Perante tal cenário, e numa equipa que, em 90% dos jogos, é claramente favorita, Bruno Lage teve de encontrar alternativas capazes de dar conforto ao Benfica. E esses nomes jogam todos no setor mais recuado: Anatoliy Trubin, Tomás Araújo e Álvaro Carreras.

O Vitória SC foi à Luz jogar o jogo pelo jogo e não se inibiu de procurar atacar e defender num bloco mais subido. Mais do que uma pressão ativa, os vimaranenses colocaram as peças em campo num 4-4-2 que raramente cedia ao desejo de roubar o ouro ao bandido. O objetivo era condicionar o Benfica no seu jogo e levar a bola para zonas sem perigo, procurando um círculo vicioso que mantivesse o esférico longe da baliza. E, perante esta postura, o segredo estava precisamente na pausa. Ao reservar a bola para si e aguardar que alguém se movimentasse, o guarda-redes do Benfica não estava a segurar o 1-0, resultado final do encontro, ou a fazer passar tempo, mas a ganhar espaço e descobrir o homem livre para que, quando uma peça adversária se movesse, o castelo de cartas de Rui Borges caísse e fosse conquistado pelas águias. Conquistar os Conquistadores era o objetivo do Benfica que, para tal, precisavam deste jogo de atrações.
E, por isso, Anatoliy Trubin era a chave do jogo do Benfica. Os guarda-redes são, muitas vezes, o fator decisivo do jogo pelas defesas que seguram resultados e criam sonhos. Desta vez, ao ucraniano não foi preciso que se agigantasse até porque, quando isso foi necessário, apareceu Nicolás Otamendi. Só lhe foi pedido para colocar o pé em cima da bola e esperar. Mesmo que, para tal, tivesse de enfrentar a fúria de um estádio impaciente. Quem tem desequlibradores e pensadores numa equipa estará mais perto de ganhar todos os jogos. E no Benfica, quem mais pensa mais atrás joga. Para o bem e para o mal.

BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: O Vitória SC conseguiu chegar algumas vezes a zonas de perigo, embora nem sempre as tenha conseguido traduzir em remates ou ocasiões de golo. O que faltou na definição das jogadas para chegar ao golo?
Rui Borges: Temos de treinar mais finalização. Já treino, mas temos de continuar a trabalha nisso. Faz parte do crescimento deles. Fico chateado e preocupado se não aparecessem no espaço onde precisam de aparecer, se não finalizassem ou tentassem finalizar. Fazem as coisas com crer, com vontade, com acreditar, com paixão. São apaixonados e jogam futebol porque é uma paixão. É meter paixão no jogo e tudo o resto é uma consequência. Resultados, campeonatos é consequência da paixão que meterem, da intensidade, do foco, do rigor. Fizeram um grande jogo todos eles. Deixar uma palavra aos nossos adeptos. Penso que dignificámos da melhor forma o clube que representamos, a cidade que representamos, os grandes adeptos que representamos e se fizeram sentir. Um agradecimento especial a eles, não se sentiu falta de apoio e que não continue a faltar.