A vitória contra o Tondela foi um mero exercício burocrático para o Benfica. Não houve, por parte dos auriverdes, qualquer momento de especial perigo ou um esboçar de reação que colocasse em perigo um resultado tão tangencial como o 1-0 que se prolongou até aos últimos minutos do jogo e que forçou José Mourinho a chamar do banco a cavalaria pesada, Vangelis Pavlidis acima de todos.
O jogo não teve grandes momentos de domínio absoluto do Benfica que até chega ao golo através de um penálti confuso e de duas recuperações mais altas, aproveitando o sangue novo para chegar à baliza. De resto, é na forma como as águias vão desenrolando o seu ataque posicional que mais urge o crescimento. Neste sentido, não há como ignorar os corredores laterais.
Amar Dedic, o primeiro destaque do renovado Benfica para 2025/26, está lesionado. Depois de uma ligeira quebra que, coincidentemente – ou não – surgiu com a emergência de Dodi Lukebakio na equipa encarnada, passou a ser o multifunções Fredrik Aursnes a assumir o posto de lateral direito, voltando a um passando não tão distante quanto se podia adivinhar. A verdade é que, na relação com o belga, o norueguês dá outros argumentos à parceria no corredor.


Quer Amar Dedic quer Dodi Lukebakio são jogadores desequilibradores. Apesar das diferenças – o belga prefere um jogo mais partido, com espaço nas costas para as diagonais e o bósnio não se inibe perante blocos mais baixos de avançar com investidas por terrenos interiores – a essência dos dois é relativamente semelhante. Ambos partem, geralmente e de forma muito simplificado, de fora para desequilibrar com movimentos interiores. Com a equipa a privilegiar a vertigem de Dodi Lukebakio, a influência de Amar Dedic diminui.
Em sentido contrário, e à semelhança do que fazia precisamente com Amar Dedic, Aursnes afirma-se como um compensador perfeito para os movimentos do belga. A partir da posição de lateral, joga mais por dentro, quer em posições mais baixas, colocando passes nas costas da defesa, quer em projeção pelo espaço interior, facilitando os momentos de desequilíbrio de Lukebakio. Há uma noção de complementaridade entre os dois bem evidente no jogo do Benfica e que, não sendo definitiva, pode permitir às águias crescer.


No lado esquerdo, há problemas mais fundos no que à conexão e lógica complementar diz respeito. Para funcionar, a ligação entre Samuel Dahl e Andreas Schjelderup precisa de evolução no modelo de jogo do Benfica. Quando no meio-campo adversário, a capacidade combinativa e associativa dos dois jogadores é capaz de permitir superioridades e combinações no último terço. Até lá chegar, as semelhanças entre dois nomes que pedem a bola no pé – tal como o são Gianluca Prestianni ou Georgiy Sudakov – dificultam a ação do Benfica.
Não se percebe a forma como Samuel Dahl passou a ser mal percecionado no jogo do Benfica. Desde que chegou que o sueco mostrou, precisamente, o que continua a mostrar. Joga a várias alturas do campo, mas sempre numa lógica de equilíbrio e associação, procurando constantemente o passe interior e a segurança do que uma arrancada ou jogada no 1X1. A diferença está no perfil que Álvaro Carreras ou Kerem Akturkoglu tinham que os jogadores do atual Benfica não têm.
Partindo por Andreas Schjelderup, titular contra o Tondela, mas relativamente semelhante nos outros extremos, à frente de Samuel Dahl também está um jogador que pede bola no pé e que procura de forma declarada o corredor central para jogar e se associar. Ao norueguês, outro que de repente passou para o lado de baixo das críticas, não se podem exigir lances de passada pesada ou de risco total. O conservadorismo nas ações de Schjelderup, que vai constantemente puxar para dentro à procura do pé direito para definir, não se mede numa escala de bom ou mau, mas de compreensão e complementaridade.


É certo que, tanto o lateral como o extremo são, numa dimensão individual, bons jogadores. Não o são perfeitos porque, neste caso, a discussão não existiria. Cabe agora a José Mourinho, com o plantel que tem à disposição, encontrar encaixes e soluções para combater um problema ou lacuna que já identificou. O Benfica tem, no ataque, muitos jogadores que pedem bola no pé. É preciso valorizá-los no jogo.
BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: No último jogo contra o Sporting aposta muito cedo numa solução com dois avançados, esta noite o Tondela ganha outro sentido no seu jogo com a entrada do Siebatchou. Numa equipa a atravessar alguns problemas na construção e na ligação de etapas, como é que a presença de jogadores mais de área e referências pode ajudar a construção de jogo?
Ivo Vieira: Pode ajudar na questão da finalização, se a bola lá chegar, e a ligar o jogo, provavelmente ocupando uma zona a fazer de quarto médio. São dinâmicas que podemos trabalhar, mas temos de perceber se é um acréscimo ao que fazemos em equipa ou um decréscimo, se conseguimos fazer essa ligação, se conseguimos ter bola, se conseguimos ligar, se o risco de perder mais bola é maior. É tudo uma panóplia de envolvimentos. Temos de perceber o que somos capazes de fazer e como o vamos fazer com aqueles que temos para o fazer. É uma questão de interpretação, vocês têm a vossa leitura e bem. Temos um ponta de lança, o Yefrin, mais móvel, com 19 ou 20 anos, que precisa de crescer. O Jordi é mais maduro, mais fixo para ligar o jogo direto e em apoio. Depois falta tudo o que é a sequência de jogo para a bola aparecer em cruzamentos e poderem finalizar. Está a faltar isso no jogo.

