Os números mágicos de Lage: só mesmo o algodão não engana

    São 31 jogos na Liga com 29 vitórias e só uma derrota. São 101 golos marcados e somente 20 golos sofridos. Uma média de 3,3 golos por jogo. Estes números são impressionantes. Principalmente quando olhamos para o contexto deste treinador. Bruno Lage é um estreante. Estreou-se enquanto treinador principal de um equipa principal aos 42 anos. Foi no dia 6 de Janeiro de 2019. Agarrou uma equipa em cacos e quase sem treinos teve de enfrentar a desconfiança que os adeptos e dirigentes do clube tinham num desconhecido. E ainda por cima aos 20 minutos já perdia por 0-2. E foi a partir daí que se lançou para o estrelato. Virou o resultado e mais à frente virou o campeonato.

    Campeão nacional, vencedor da supertaça com um expressivo 5-0 frente ao Sporting CP e ao fim de 12 jornadas lidera o campeonato com 11 vitórias e somente uma derrota. São 12 jogos, 29 golos marcados e somente quatro golos sofridos. Simultaneamente líder, melhor ataque e melhor defesa do campeonato. Com este registo é necessário recuar a 83/84 para encontrarmos um melhor arranque de época dos encarnados.

    Apesar do que estes números fariam acreditar, a contestação ao actual treinador do Sport Lisboa e Benfica é cada vez maior. O sucesso na Liga é proporcionalmente inverso ao sucesso europeu e o futebol visto nos relvados é cada vez mais desapontante.

    Os números de Lage também lhe trazem um problema: a expectativa. Os adeptos encarnados tinham as expectativas bem lá no topo quanto à transformação que o novo técnico poderia operar no futebol da equipa, mas tem sido de uma enorme pobreza.

    E o adepto vai ao estádio em festa, quer assistir à sua equipa vencer mas também brilhar. Quer empolgar-se com os jogadores e as suas jogadas. Quer divertir-se e apaixonar-se. Hoje temos um Benfica de futebol amorfo e aborrecido. Um futebol que não convence e que deixa a clara impressão de que qualquer adversário com alguma qualidade pode começar a ferir gravemente a águia.

    O que aconteceu ontem – o empate na Covilhã – já poderia ter acontecido antes. Bruno Lage tem razão quando diz que o SL Benfica pelo que jogou podia ter vencido. Mas pelo que jogou, empatou e também o podia ter perdido. E tal como empatou ontem, quando poderia ter ganho, também em Vizela, em Tondela, nos Açores e em Moreira de Cónegos poderia ter empatado ou perdido, mas venceu.

    E este é o problema que assola os benfiquistas. Os números de Lage são espantosos e continuam a crescer, contudo é um crescimento cada vez com menor fulgor. Fica a sensação de que a qualquer momento, sem grande alarido nem revolução, estes números tão positivos podem começar a ficar na sombra de outros fortemente negativos.

    Os adeptos encarnados tinham as expectativas bem lá no topo quanto à transformação que o novo técnico poderia operar no futebol da equipa
    Fonte: SL Benfica

    Há uma lição neste contexto que usualmente não é muito entendida pelos nossos lados. Um treinador não é bom porque ganha, nem é mau porque perde. Sim, os resultados são o objectivo final, mas a qualidade de um treinador percebe-se na forma como esses resultados foram obtidos e isso é impossível ler em tão básicas estatísticas e indicadores.

    Depois de um bom resultado com uma má exibição, virá sempre um novo jogo. A competição e a análise não acabam naquela vitória. Não perceber os deméritos na vitória e os méritos na derrota só aproxima a equipa de futuros maus resultados.

    Bruno Lage tem os números a seu favor, mas tanto ele como a estrutura directiva do clube têm de perceber que esses números somente indicam um excelente arranque no que a resultados diz respeito. Nada dizem sobre a qualidade do jogo da equipa, a qualidade do trabalho técnico e muito menos sobre como decorrerá o resto da época. A cegueira perante estes míticos indicadores poderá muito facilmente levar a que o fantástico arranque seja enterrado por uma histórica queda na segunda volta do campeonato.

    Foto de capa: SL Benfica

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Daniel Oliveira
    Daniel Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    Primeira palavra bola. Primeiro brinquedo bola. E assim sempre será. É a ver jogos que partilha os melhores momentos de amizade. É a ver jogos que faz as melhores viagens. É a ver jogos que esquece os maiores problemas. Foi na paixão pelo jogo que sempre ultrapassou os outros desgostos de amor. Agora a caminhar para velho pode partilhar em palavras aquilo que sempre guardou para si em pensamentos e pequenos desabafos.                                                                                                                                                 O Daniel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.