
O Benfica deixou escapar os primeiros pontos na Primeira Liga desde que Bruno Lage regressou ao comando técnico dos encarnados. O empate diante do AVS SAD teve contornos dramáticos, em virtude do golo sofrido já nos descontos, mas foi uma mera tradução de um jogo em que, durante cerca de 30 minutos, o Benfica não esteve em campo.
Há problemas antigos no Benfica que o AVS SAD expôs logo nos primeiros minutos de jogo. Sem Álvaro Carreras, maior destaque da temporada das águias, os encarnados tiveram muitas dificuldades para lidar com uma pressão alta e agressiva dos avenses na partida que subiam o ala do lado da bola e um dos médios na tentativa de evitar conforto. Perdendo um dos jogadores que mais soluções dá, tanto no passe como em condução, para bater a pressão adversária, foi fatal para o Benfica que, depois do aperto inicial, até se conseguiu impor.
As muitas alterações de Bruno Lage mudaram também a disposição tática do Benfica que jogou com praticamente um quadrado no meio-campo. Leandro Barreiro e Orkun Kokçu jogavam à frente da defesa, Fredrik Aursnes, falso extremo direito, colocava-se por dentro e Zeki Amdouni, nas costas do avançado, descaia sobre a esquerda, formando um quadrado no meio-campo que permitia a Kerem Akturkoglu funcionar como uma espécie de vagabundo a partir do corredor esquerdo. Com os laterais bem projetados, o Benfica dava largura ao seu jogo e colocava muitos jogadores dentro do bloco adversário, facilitando combinações curtas e jogadas como a que resultou no golo.

Foi a partir desta base, com Aursnes muito inteligente nos posicionamentos, sabendo quando jogar mais por dentro ou por fora, e uma complementaridade interessante no meio-campo com Leandro Barreiro e Orkun Kokçu a oferecer diferentes soluções e Zeki Amdouni em jogo. O suíço é um jogador com características específicas e beneficia em ter um companheiro na frente capaz de atrair atenções e fixar os defesas centrais. Solto nas costas do defesa, consegue mais facilmente receber a bola perto da área, virar-se para a baliza e procurar o remate, que surge sempre com aparente facilidade.
Foi através destas sinergias por dentro e das chegadas de Alexander Bah e Jan-Niklas Beste por fora que o Benfica se colocou em vantagem e conseguiu controlar a primeira parte. Os problemas, que o AVS SAD já havia sido capaz de colocar nos primeiros minutos, multiplicaram-se no segundo tempo. Para lá dos méritos evidentes do conjunto da casa, o Benfica tem sérias limitações que foram exploradas e Bruno Lage não conseguiu ajudar a equipa a partir do banco.
Aos 60 minutos, a saída de Leandro Barreiro para dar lugar a Ángel Di María desmontou a nuance tática preparada para o Benfica para o jogo, reduziu as opções para uma saída mais sustentada, distanciando os jogadores em campo e contribuiu para a procura da aceleração constante e da vertigem que tem marcado a temporada benfiquista. A pressão do AVS SAD, que nos primeiros minutos já havia provocado calafrios e forçado erros, tornou-se ainda mais acutilante e o Benfica deixou de ter capacidade para manter a bola por longas sequências.

Atrás, só Anatoliy Trubin – que foi destaque pelo trabalho entre os postes – e Tomás Araújo oferecem segurança com a bola nos pés. António Silva está numa fase menos fulgurante da carreira e a falta de confiança sente-se a cada toque na bola e os laterais estão talhados para se projetar e só tocar na bola em zonas avançadas do terreno. Dos médios, só Orkun Kokçu apresenta argumentos claros no passe e, mesmo o turco, pensa o jogo através do desequilíbrio e não da segurança.
Entrando num jogo muito partido, com transições constantes, esteve por cima a equipa mais junta e o coletivo mais consciente da tarefa. Se as alterações de Bruno Lage desestabilizaram a equipa, as de Daniel Ramos ajudaram a cimentar a presença avense no meio-campo contrário. Nenê, obrigado a saltar do banco ainda na primeira parte, é um avançado especial dentro da área, criando complicações constantes aos centrais pela simples presença e somando várias ações importantes que foram aproximando o AVS SAD da baliza do Benfica. O golo só surgiu ao cair do pano, mas premiou o trabalho do conjunto que joga na Vila das Aves.
Quanto ao Benfica, tem vulnerabilidades claras e vive, claramente, uma fase menos fulgurante da temporada. As últimas vitórias não foram nada convincentes e a possibilidade de chegar ao Natal – e ao dérbi do final do ano – em primeiro lugar dependem de um deslize do Sporting em Barcelos. Depois de escapar de forma milagrosa às balas atiradas nos últimos jogos, a águia de Bruno Lage foi ferida. A densidade de jogos nas próximas semanas não ajuda, mas curá-la é o grande desafio do técnico. Desafio este que pode determinar a dimensão do sorriso no final da época.

BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: O AVS SAD procurou ao longo de todo o jogo pressionar muito alto e acabou por provocar vários erros ao Benfica e recuperar várias bolas alto no terreno. Taticamente, no desenho da pressão, quais os pontos que considera mais importantes para o seu sucesso?
Daniel Ramos: Primeiro que tudo, treinar esse momento. Um pontapé de baliza é um momento específico do jogo, tal como é um canto, um livre lateral ou um lançamento lateral. É uma bola parada e, como tal, trabalhamos a nossa saída de bola e a saída de bola do adversário. Analisámos o adversário nesse momento e procurámos da melhor forma contrariar o adversário. É apenas uma ação de jogo que treinámos de forma específica. Estamos a trabalhar bem e a identificar o que podemos fazer consoante o adversário.
O Bola na Rede não teve possibilidade de colocar uma pergunta a Bruno Lage, treinador do Benfica.