Quando a História pesa

    camisolasberrantes

    Já chega. Dói demasiado. Se é este o preço a pagar pelo sucesso então que vivamos na inviabilidade de nos concretizarmos e de concretizarmos os nossos sonhos. No espaço de um mês chorámos a vida de duas lendas e enterrámos as suas mortes. Mas não esquecemos. Ainda vivem. Aqui, nestes corações que de sangue (encarnado) palpitam e que não sabem como despedir-se. Porque com eles aprendemos a saltar de alegria e não a murchar de tristeza.

    Mário Esteves Coluna. O segundo a despedir-se. Nascido em Moçambique, o “Capitão” leva consigo mais alguns dos melhores anos da história benfiquista. E muitas histórias que nunca conheceremos. Afinal, e como cantava Rui Veloso, é mesmo verdade que quando morremos triplicamos a nossa fama. Isso e a atenção que nos dispensam. Ganhamos um outro estatuto. É triste, mas é a vida. Ou a morte. No entanto, nunca ninguém poderá acusar o Benfica e os benfiquistas de não celebrarem em vida as vidas que nos fizeram viver. Viver o futebol. Viver o desporto. Viver o amor de uma vida. Viver o que não se vive. Sente-se.

    Sentamo-nos nós agora, a chorar esta solidão acompanhada, com medrosas ganas de um futuro que havemos de construir mas já sem os nossos profetas por perto. Porque a vida é isto e porque isto é a vida. A vida que é seguir em frente, sem esquecer o que lá ficou atrás. E lá atrás ficou um homem que durante 78 anos respirou e viveu futebol. Uma estrela como poucas. Daquelas que tem a sua própria luz. Daquelas que faz as outras estrelas mais pequeninas e singelas brilharem também. Talvez por isso tenha sido sempre o “Senhor Coluna”. Talvez por isso os outros nunca tenham passado de meninos. Não por faltosa modéstia, mas porque um pai é sempre um pai e pai que é pai ensina. Ajuda-nos a levantar. Mostra-nos o caminho. Põe-nos a mão na cabeça e diz, depois de uma impossível corrida com fecho de golo, “parabéns, pequeno. O futuro é teu e está aqui. Eu nunca deixei de acreditar”.

    Cesare Maldini e Mário Coluna, em Wembley, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus Fonte: benficadojota.blogspot.com
    Cesare Maldini e Mário Coluna, em Wembley, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus
    Fonte: benficadojota.blogspot.com

    Imagino-o a dizer estas palavras ao Eusébio. Ao Simões. Ao José Augusto. Ao Raúl Águas. O puto que conheceu Coluna com apenas 17 anos e que, desde então, nunca mais esqueceu a força única de um homem que nem Eusébio conseguia ofuscar. E o Pantera Negra nem almejava a tal desrespeito. Porque este homem era o Benfica. Este homem modelava o que o Benfica era. Delineava todas as aventuras e desventuras pelas quais o clube passava. E a prova disso foram os 677 encontros disputados ao longo dos 16 anos em que representou o Maior-de-Portugal.

    Estreou-se no dia 5 de Setembro de 1954 e nos primeiros tempos, ao serviço de Otto Glória, foi para a frente de ataque. Pouco se demorou a perceber que o génio e a responsabilidade deste “Monstro Sagrado” – como foi apelidado por Artur Agostinho – exigia um lugar não de finalização, mas de organização. Tornou-se o mestre do meio-campo português e os dez Campeonatos e as sete Taças de Portugal provam e comprovam isso mesmo. Na Europa foi ainda um dos maiores protagonistas dos dois grandes sucessos europeus do Benfica, tendo marcado golos de sonho ao Barcelona, em ’61, e ao Real Madrid, em ’62.

    Dizemos-te adeus, campeão. Ou até sempre. E com uma certa esperança intranquila e injustificada cremos, com todo este coração partido dos muitos trambolhões do nosso Benfica, que, de aí de cima, continues a olhar por nós como só tu soubeste fazer ao longo de décadas e décadas. Dentro das quatro linhas ou fora delas. Fá-lo por nós. Por ti, este será o trigésimo terceiro campeonato encarnado. E o resto é história.

    Obrigado por fazeres parte da nossa.

    O "Monstro" de joelhos. Hoje ficamos nós. Por ti Fonte: colunadaguiasgloriosas.blogspot.com
    O “Monstro” de joelhos. Hoje ficamos nós. Por ti
    Fonte: colunadaguiasgloriosas.blogspot.com

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