Quando o jogo está demasiado fácil

    No primeiro de dois dérbis entre Sport Lisboa e Benfica e Sporting Clube de Portugal, os encarnados foram a Alvalade, para jogo da Primeira Liga, vencer de forma evidente os leões, por 2-4. Um resultado que representa a clara superioridade das águias quando comparadas ao Sporting naquela partida, mas que, por incrível que pareça, peca por escasso e clarividente. Não digo que o resultado merecia ser outro, que deveria ser um vergonhoso 0-6 para o Benfica. Não é minha intenção diminuir os que vestem verde e branco, atenção! Passo a explicar.

    O Benfica foi a Alvalade com Bruno Lage a estrear-se em dérbis, tal como o treinador Marcel Keizer o fazia. Tínhamos, portanto, uma incógnita no que poderia acontecer naquele jogo entre treinadores estreantes e que nunca se enfrentaram. Além do mais, Lage contava com apenas seis jogos ao leme encarnado, tornando relativamente difícil analisar as estratégias do treinador encarnado para este tipo de jogos. O que aconteceu foi um domínio total por parte do Benfica ao longo de toda a partida. Se a vantagem final foi de apenas dois golos, a vantagem de futebol foi diferente – e isto qualquer adepto sportinguista consegue perceber que Keizer falhou redondamente no primeiro dérbi em três dias.

    Porém, apesar desse total domínio encarnado, mesmo em casa verde e branca, o Sporting foi para intervalo a disputar o resultado, pois acabava de marcar o 1-2 aos 43 minutos da partida. Mais, quando o resultado estava parcialmente decidido – pelo menos para onde iriam os três pontos – eis que o Sporting marca por duas vezes, mesmo que o primeiro tenha sido bem anulado por fora de jogo e o segundo por grande penalidade bem assinalada.

    Bruno Fernandes fez o 1-2 antes do intervalo, em Alvalade
    Fonte: Sporting CP

    O que quero salientar aqui é o facto de o Benfica ter pecado com a vantagem confortável. Havia uma clara superioridade e segurança na altura em que os encarnados tinham vantagem de duas bolas a zero, mas aconteceu o facilitismo e o desleixo por o jogo estar – e desculpem a expressão – demasiado fácil. Era isto que se passava. Os golos surgiram com naturalidade (três golos, embora um tivesse sido anulado), a troca de bola era eficaz e livre, a organização defensiva não falhava e não havia desconcentração. No entanto, com o intervalo perto e o resultado vantajoso, os jogadores preferiram as jogadas largas e bonitas, as fintas ao invés do passe seguro e a defesa perdeu discernimento da sua posição. Estava feito o primeiro golo dos leões, com mérito posicional do Sporting que fez um excelente contra-ataque, mas com demérito encarnado por permitir tanto espaço a uma equipa com boas armas ofensivas.

    A segunda parte chegou com reposição da vantagem a dois golos, com Rúben Dias a fazer o 1-3, e isso foi fulcral para o desenrolar do jogo. O Benfica geriu o jogo e aproveitou os espaços que o Sporting abria, deixando os da casa terem mais bola. Durante grande parte da segunda parte, fê-lo com sucesso, mas aos 73 minutos, Pizzi fez o 1-4 e a equipa perdeu a cabeça. O Sporting voltou a criar perigo cada vez mais junto à baliza e a equipa perdia noção espacial. Ainda houve golo anulado numa transição ofensiva leonina, que o Benfica não conseguiu controlar – já que havia três leões para uma águia no centro da área – antes do lance que levou à expulsão de Vlachodimos e ao 2-4 do Sporting.

    Num lance pela direita encarnada, a falta de discernimento a aliviar o lance levou a que a bola batesse num colega de equipa, sobrasse para recarga de um jogador do Sporting à entrada da área em posição central – jogador este que se encontrava com demasiado espaço e liberdade – e depois à falta do guarda redes encarnado para impedir que Bas Dost colocasse a bola na baliza antes de Rúben Dias a despachar em cima da linha de golo.

    Isto tornou um jogo de um resultado que podia ser levado a proporções históricas, em caso de maior discernimento dos jogadores do Benfica, para um em que a equipa terminou o encontro com dez jogadores e, ainda, com “apenas” uma vantagem de duas bolas. Um 1-4 será sempre melhor que um 2-4 e a infantilidade do Benfica permitiu que a história fosse escrita da segunda forma.

    É preciso moderar os sentimentos em situações destas para que não surjam surpresas. Foi um jogo incrível por parte do Benfica que pecou apenas por estes pormenores que fizeram do resultado diferente daquele que podia ser.

    Saudações Benfiquistas!

    Foto de Capa: SL Benfica

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    Pedro Afonso
    Pedro Afonsohttp://www.bolanarede.pt
    Foi com o Portugal x Inglaterra do Euro 2000 que descobriu um dos maiores amores da sua vida: o futebol. Natural de Lisboa, teve a primeira experiência profissional na Abola TV e agora é jornalista da ELEVEN